segunda-feira, julho 31, 2006

Remake de "Il Mare"


Uma médica solitária e um arquitecto frustrado trocam cartas de amor e apaixonam-se. O problema é que eles estão separados por dois anos no tempo, apesar de morarem na mesma casa... Soa familiar? com certeza que sim para os conhecedores de cinema asiático, pois The Lake House, é mais um remake de um filme oriental, mais concretamente de Il Mare, um filme romântico, que passou um pouco despercebido na Coreia do Sul. Estreou nas salas nacionais na passada 5ª feira.

Ainda assim, o produtor Roy Lee, não perdeu tempo e continua a sua senda de remakes, após entre outros, Dark Water, ou The Grudge. Os cinéfilos que se preparem , pois vêm já a caminho (e para breve), versões americanas dos filmes The Eye, Battle Royale, My Sassy Girl e até... Oldboy! O filão parece que vai dando frutos e à falta de originalidade americana, faz-se versões, mesmo que os originais por vezes até nem sejam grande coisa, como é o caso deste Il Mare / The Lake House.

Sérgio Lopes

sábado, julho 29, 2006

Kagen no Tsuki (Last Quarter)

Japão, 2004, 112Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse:
Mizuki zanga-se com o namorado na festa do próprio aniversário e vagueia pelas ruas. Atraída por uma melodia melancólica, acaba chegando a uma estranha mansão, com um ar assombrado, e entra. Lá dentro conhece um misterioso músico, chamado Adam. Saturada da família que não a compreende, Mizuki muda-se para a mansão sem avisar ninguém. Uma noite de quarto minguante, quase lua nova, ao atravessar uma passadeira de peões com sinal vermelho para encontrar Adam do outro lado, é chamada pelo namorado, Tomoki, e Mizuki vê-se subitamente à porta da mansão, mais assustadora e abandonada que antes.

Crítica: Baseado na manga homónima de Ai Yazawa, que se celebrizou pela adaptação também ao cinema de outra sua manga, “Nana”, este filme é uma história de fantasmas sem ser um filme de terror.Apesar de adaptado, o argumento foi claramente reescrito para servir os seus bastante conhecidos actores em particular Hyde, também autor do tema principal. No geral a ambiência é mais negra e gótica que no original, sendo uma das maiores mudanças a cor de vestido de Eve, de um branco com um estilo anos 60 para um preto bastante gótico. Mas como apenas folheei a manga, não a li, vou deixar as comparações por aqui.

Como curiosidade, os papeis principais do filme são interpretados por actores bem conhecidos do público japonês e um pouco do público ocidental. Chiaki Kuriyama (Mizuki/Eve) era a rapariguinha, Gogo Yubari de “Kill Bill vol.1” e uma das alunas de “Battle Royale”, Hiroki Narimiya (Tomoki) é bastante conhecido no Japão e também entrou em “Nana”, como Nobu, Hyde (Adam) é o famosíssimo vocalista e compositor da banda L’Arc~En~Ciel, do tema principal de “Final Fantasy: The Spirits Within” e ainda, num papel secundário, como Doujima, temos o veterano Ken Ogata, actor japonês bastante conhecido no ocidente, principalmente em filmes ocidentais como “Mishima” ou “The Pillow Book”.

É interessante ver como o desenrolar do enigma que rodeia Mizuki/Eve/Sayaka é pontuado pela descoberta gradual do principal tema musical. De início apenas ouvimos alguns acordes do refrão, ora na guitarra de Adam, ora ao piano por Mizuki para culminar na interpretação completa do tema por Eve ao piano, num clímax muito bem construído. Este é talvez um dos aspectos mais interessantes e envolventes do filme, pois a canção é, sem dúvida, um dos elementos mais importantes e de ligação do filme.

Este filme está dividido em duas partes distintas, que seguem ritmos diferentes. A primeira, mais naturalista, funciona como um prólogo e segue o pequeno drama emocional de Mizuki, da sua relação com o pai e a família e a traição do namorado. A segunda parte, mais onírica, é o desvendar, por parte dos miúdos, Hotaru, Miura, e Tomoki do mistério que rodeia Eve/Sayaka e que prendeu Mizuki num limbo. A diferença entre as duas narrativas deveria ter sido feita de forma mais clara.

A cena do acidente, é intensa, mas de início o filme parece que não arranca. Talvez se os dois mundos fossem mais contrastantes (por exemplo um diurno e outro nocturno) ou a primeira parte mais curta ainda, a sensação de desvio fosse mais eficaz. Assim dá-nos a sensação de estar a ver um pedaço de uma história que fica interrompido para continuar noutra cuja única ligação é Mizuki. Por outro lado, o crescendo em que se desenrola a segunda parte, que culmina com a resolução da história, sempre acompanhada pela banda-sonora e pelo tema principal, é muito interessante e empolgante. Por vezes há exemplos de uma boa montagem e a narrativa está bem estruturada.

Há algo na suposta iluminação nocturna da mansão de enervante. O filme tem, em geral, uma fotografia bastante bem conseguida, apesar de muito escura e nocturna, mas os contrastes entre azuis e laranjas na mansão fazem sempre lembrar iluminação feita em (má) televisão, para simular noite. Pode ser que o efeito pretendido seja uma certa ambiência sobrenatural, o trabalho de design de produção (cenários, decoração) está bastante bem conseguido nas diversas variantes da mansão, mas o efeito final acaba sendo artificial.

Com isso, os poucos efeitos especiais também acabam por ter um ar bastante televisivo, lembrando alguns tokusatsu (séries televisivas com super-heróis) mais recentes. O filme revela um bom esforço para contar esta história sobrenatural e romântica, mas é desequilibrado nalguns aspectos, variando entre o aborrecimento provocado pelo desenrolar lento de algumas sequências e o emocionante crescendo final. No todo é um filme que se vê com algum prazer, a história é bastante interessante e insólita, mas os defeitos são demasiado evidentes.

Classificação: 6/10

Misato

sexta-feira, julho 28, 2006

Filmes coreanos em alta

Os filmes Coreanos estão em alta no seu país de origem! Numa época de verão propícia para o triunfo dos blockbusters americanos, os filmes nacionais são um mega-sucesso de público. "A Dirty Carnival", um drama realista sobre a vida de um gansgter, já foi visto por mais de 2 milhões de pessoas em apenas um mês...!

Por outro lado, "The Korean Peninsula" (a.k.a. Hanbando), controverso pelo tema do nacionalismo assumido e da invasão e agressão japonesas, a mega-produção do realizador de Silmido, bateu todos os recordes de bilheteira de um filme na sua estreia, tendo sido visto por mais de 230000 espectadores, estando em pé de igualdade com outros blockbusters americanos como "Piratas das Caraíbas 2" ou "Código da Vinci", que ultrapassaram a barreira dos 235.000 espectadores no dia de estreia.

Após o estrondoso sucesso de "King and the clown" e com a estreia no final de "The Host" (o grande regresso de Joon-ho Bong, após o magnífico Memories of Murder) para muito breve, é de esperar um verão excelente para o cinema nacional coreano.

Sérgio Lopes

quinta-feira, julho 27, 2006

Meatball Machine - Trailer

MeatBall Machine é o novo filme deYûdai Yamaguchi, remake do filme com o mesmo título de 1999 do realizador Jun'ichi Yamamoto. O filme lida com extraterrestres que vêm ao nosso planeta com o simples propósito de nos comer. Para o efeito, tomam o controlo dos nossos organismos (de forma violenta) e transformam-nos numa espécie de mutação no mínimo impressionante (para não referir nojenta).

O resultado é uma película ultra-violenta, ultra-perversa e ultra- sangrenta, um verdadeiro assalto aos sentidos, cujos trailers podem ser acedidos AQUI.

Sérgio Lopes

terça-feira, julho 25, 2006

Kansen (Infection)


Japão, 2004, 98Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: A negligência de um médico faz com que um paciente morra e a equipa de funcionários do hospital, apavorados, decidem omitir o erro fatal, permanecendo fora de uma corrente de eventos mortais. Os médicos de emergência trazem um novo paciente ao hospital, que foi infectado com um vírus horrível, pois os seus órgãos internos estão-se a desintegrar misteriosamente. Os médicos tentam conter o vírus, mas a fuga do paciente através do sistema de ventilação provoca uma terrível epidemia…

Crítica: Kansen / Infection é o primeiro de uma série de 6 filmes encomendados dentro do género J-Horror, que consiste em dar os meios necessários a realizadores mais ou menos consagrados para explorarem o filão do terror japonês. O segundo filme da série intitula-se Yogen (Premonition), enquanto que o terceiro é Marebito do consagrado Takashi Shimizu (Ju-Hon). Os restantes serão rodados brevemente para completar o "Hexagon J-Horror Project".

A série de filmes não se pode dizer que tenha começado da melhor forma com este Kansen. Trata-se de um filme que mistura vários géneros e no final o resultado é uma confusão total. Não é thriller, nem é terror; É uma mistura de suspense, sobrenatural e história de fantasmas. No primeiro terço a narrativa incide mais no drama vivido pelo staff do hospital quando tenta ocultar a morte por negligência de um paciente. Logo aí começam os clichés, ou seja, há médicos e enfermeiros para todos os gostos, desde a incompetente enfermeira à enfermeira mazinha, passando pelo médico egocêntrico, até ao médico perturbado mentalmente, etc. Clichés mais que batidos.
Mas eis que subitamente, a acção muda completamente de registo, quando um outro paciente que sangra um líquido verde, começa a infectar todo o staff hospitalar. Será mesmo verdade, ou apenas imaginação do pessoal do hospital? Acreditem que nem o realizador sabe, pois de facto é o que sucede no segundo terço do filme sem qualquer explicação. Nem os planos de câmara apelativos no sentido de provocarem algum suspense ao espectador, salvam argumento e narrativa (e falta de ideias) tão frágeis.

No terceiro terço do filme, aparecem as aparições fantasmagóricas (suponho eu). No final o espectador tenta perceber, após 95 minutos de filme o que se terá realmente passado. Os inúmeros finais em aberto deixam o espectador perplexo e esse é o grande problema de Kansen. Não sabe qual o caminho a tomar, nem existe uma ponta sequer de lógica. Parece um produto saído da mente de alguém esquizofrénico, ou então alguém que quer num só filme empilhar ideias mal concebidas, criando um produto menor e um mau arranque para a série de filmes baseados no J-Horror.

Classificação: 3/10

Sérgio Lopes

segunda-feira, julho 24, 2006

Novo trailer de The Banquet

Com estreia prevista para Outubro, chega o novo trabalho do cineasta Feng Xiao-gang interpretado por Zhang Ziyi, Ge You, Zhou Xun e Daniel Wu. Com um elenco de luxo, será o regresso das produções chinesas à aclamaçao pública e crítica?

O novo trailer de The Banquet pode ser visualizado clicando AQUI.

Sérgio Lopes

sábado, julho 22, 2006

Bishoujo Senshi Sailormoon SuperS

Japão, 1995, 60min

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: Usagi, Chibi-usa e as amigas fazem biscoitos em casa de Makoto. Chibiusa oferece os dela a um rapaz gentil que conhece na rua, Peruru, e Usagi oferece os dela ao namorado, Mamoru. Em casa de Mamoru os dois ouvem na rádio a notícia de que andam a desaparecer misteriosamente, durante a noite, as crianças de várias cidades. Nessa mesma noite uma estranha melodia encanta as crianças de Tóquio e, juntamente com elas, Chibiusa.

Usagi e as amigas seguem-na e descobrem que as crianças estão a ser raptadas para um navio extraterrestre, sob o comando de Vadiane que quer usar a energia dos sonhos das crianças para criar o “black dream hole” que sugará a energia da Terra e do Universo. Super Sailormoon e Super Sailor Chibimoon unem as forças e, com a ajuda de Peruru e das outras 7 guerreiras, destroem os planos de Vadiane e devolvem as crianças à Terra.

Crítica: Baseado livremente no conto “O flautista de Hamelin” e outros contos tradicionais europeus, Sailormoon SuperS tem uma narrativa simples e concisa que dá espaço tanto a mostrar as personalidades das protagonistas da série de Sailormoon como para demonstrar os seus poderes. Apesar de não ser particularmente interessante a história, pode-se dizer que os argumentistas aprenderam com os filmes anteriores a dosear os “elementos obrigatórios” com os elementos novos.

O equilíbrio entre a relação de Usagi, Chibiusa e Mamoru, as cinco amigas Usagi, Ami, Rei, Makoto e Minako, as outer senshi Haruka/Uranus, Michiru/Neptune e Setsuna/Pluto e as respectivas transformações e ataques com uma narrativa nova, com novos vilões e co-adjuvantes. Neste filme também são introduzidos alguns dos novos elementos da série de televisão Sailormoon SuperS, tais como a fase pré-adolescente romântica de Chibiusa e um ambiente algo delicodoce.

Mesmo tendo um maior equilíbrio que os filmes anteriores a história nova falha em ser pouco forte e motivada. É demasiado açúcarada e de um romantismo algo pueril, mas não tão emocionate, sofrida ou negra como seria de desejar. Infelizmente esta fase da série de televisão foi reescrita para um público mais novo que o que seguia a série e a manga desde o início (já se tinham passado cerca de três anos, desde então) o que desapontou um pouco. Na manga a história foi ficando progressivamente mais intensa, soturna e madura e o anime não seguiu esse crescimento, tal como este filme, surgido da série de TV.

Técnicamente é um filme sem mácula mas também sem impressionar. O character designer é o mesmo que entrou para a quarta série, que elevou considerávelmente os acabamentos e paleta de cores para um nível de qualidade correspondente à popularidade da série. Os técnicos cumprem as suas funções de um modo profissional e competente mas não vemos nenhum rasgo de criatividade ou originalidade em relação ao que fora feito anteriormente. A pequeníssima excepção é a arquitectura do início do filme, claramente mais europeia, quem sabe se alemã, inspirada no conto original, pois essa acção não se passa obrigatóriamente no Japão.

A banda-sonora é discreta e condizente com a acção, integrando muito o som das flautas com um toque de música clássica, sistema aliás já utilizado no filme anterior a partir da permissa das bailarinas. Este é um filme que se vê, mas com a caução para quem não goste de filmes muito cor-de-rosa, o que lhe vale é que não é muito longo, não se corre o risco de um enjoo demasiado forte.

Classificação: 5/10

Misato

sexta-feira, julho 21, 2006

Fim da colaboração com Takeo Maruyama

É com enorme tristeza que recebo um mail do nosso colaborador cineasia especialista em filmes de acção (ou como gosta de referir "Filmes de Porrada", blogue Asian Fury), Takeo Maruyama. A falta de disponibilidade é a razão invocada para Takeo deixar de escrever no cineasia, o que deve ser respeitado e aceite.

Contudo, entristece-me pois o cineasia perde um colaborador cujas dissertações são de um grande sentido crítico e até histórico, bem fundamentadas e dá realmente gozo ler o que o Takeo escreve pois é uma das pessoas mais informadas sobre cinema asiático.

Desejo-lhe as maiores felicidades e espero que continue a passar pelo cineasia (quero comments seus !) e que, quem sabe, esporadicamente nos envie uma das suas magníficas críticas, para matar saudades...

Para quem quiser (re)ler as colaborações de Takeo no cineasia: Silly Kung-Fu Family, Cub Tiger From Kwantung, My Lover Is a Sniper, Samurai Comando Mission 1549.

Sérgio Lopes

quinta-feira, julho 20, 2006

Novo filme de Zhang Yimou

Riding alone for Thousands of Miles é o novo filme do cineasta chinês Zhang Yimou, cuja estreia americana está prevista para o primeiro dia de Setembro. Lançado em Dezembro do ano passado na China, foi o filme "artístico" de maior sucesso de bilheteira de sempre no país de origem, o que prevê um bom reslutado internacional.

Com Ken Takakura, Shinobu Terajima, e Kiichi Nakai, o filme conta a história de um pescador japonês, que viaja mil milhas, do Japão para a China, esperançado em se reencontrar com o seu filho.

Página Oficial Trailer

Sérgio Lopes

quarta-feira, julho 19, 2006

Dog Bite Dog - Trailer e Poster

DOG BITE DOG é o grande regresso do cinema de Hong-Kong, com estreia doméstica prevista para Agosto. Conta com Edison Chen, no papel de um poderoso hitman e Sam Lee como o polícia sádico que o persegue. A julgar pelo trailer disponivel AQUI, é uma caça ao homem, recheada de ultra-violência e terá categoria de Maiores de 18 anos seguramente!

O poster abaixo ajuda a compreender o que foi dito...

Sérgio Lopes

terça-feira, julho 18, 2006

Masters Of Horror: Imprint


EUA, 2005, 63Min.


Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: Um jornalista americano no Japão do século 18 está esperançado em encontrar a amada que deixou para trás. A sua longa busca leva-o a um bordel onde acaba por passar a noite com uma mulher. Será o começo de uma moite aterrorizante e reveladora…

Crítica: Imprint, é um dos segmentos da série Masters Of Horror, série americana que em cada episódio contava com um cineasta mais ou menos conceituado atrás das câmaras com total liberdade para realizar um conto de terror, de modo a fazer jus ao título da série. John Landis, Dario Argento, ou John Carpenter foram alguns dos eleitos.

Para ser mais rigoroso, Imprint, é o último episódo da primeira temporada e foi banido da televisão americana sensivelmente uma semana antes da sua difusão, uma vez que os líderes da cadeia Showtimes acharam que o seu conteúdo extremamente violento, não seria apropriado para a audiência americana. Realizado por Takashi Miike (Audition, Gozu), o mestre do gore e da violência gráfica explícita, já era de esperar algo apenas suportável para quem não tiver estômago fraco.

Baseado no livro de Shimako Iwai, vencedor de dois prémios literários, poucos achavam ser possível adaptar um livro ao cinema (ainda por cima ao cinema americano) que trata de uma temática horrenda baseada nos velhos costumes japoneses. O certo é que Miike não hesitou em o adaptar para a série americana, criando um dos episódios mais macabros da primeira temporada.

A escolha para protagonista recaiu em Billy Drago. O seu overacting é tão evidente que se torna um dos pontos mais negativos do segmento. Não é nada realista nem conseguida a interpretação do actor americano. Quanto ao resto do elenco, maioritariamente asiático, safa-se bem, apesar da dificuldade evidente do uso da língua inglesa.

Quanto ao episódio propriamente dito, apresenta os traços clássicos de Takashi Miike: ultra-violência, incesto, morte e uma cena de tortura tão ou mais brutal que a tão famosa cena final de Audition. Quanto ao resto, Miike tenta ser conciso mas perde um pouco a linearidade narrativa, talvez devido à curta duração da película e às diversas camadas surreais que talvez precisassem de um pouco mais de tempo para serem dissecadas.

Compreende-se perfeitamente que tenha sido banido dos Estados Unidos, uma vez que é realmente violento e chocante. È sobretudo um produto para os fâns acérrimos de Miike que não devem perder Imprint. Para eles o Cineasia informa que o episódio irá sair em DVD , a 26 de Setembro, carregado de extras.

Classificação:6/10

Sérgio Lopes

segunda-feira, julho 17, 2006

Pang Brothers pretendem afastar-se do "terror"

Os irmãos Pang, responsáveis pelo mega-sucesso de terror "The Eye", afirmaram recentemente que pretendem abandonar o género do terror, uma vez que já possuem o reconhecimento internacional necessário para que daqui em diante qualquer filme com a sua assinatura seja imediatamente adquirido internacionalmente, mesmo antes do seu visionamento.

Apesar do que foi dito pela dupla, até ao próximo ano pelo menos, ainda há muita matéria dentro do género do terror a estrear no grande écrân. Assim sendo, os irmãos Pang acabaram de rodar recentemente "The Messengers", o seu primeiro projecto nos Estados Unidos, que segundo os cineastas, trata-se de "uma história sobrenatural diferente, uma vez que mostra o ponto de vista das pessoas e daqueles que as assombram". The Messengers tem estreia americana para Agosto.

Ainda recentemente, os irmãos Pang, apresentaram em Cannes, o seu mais recente filme Re-Cycle, muito bem recebido no festival, sendo considerado um dos filmes mais inovadores da dupla, com efeitos especiais bastante imaginativos.

Brevemente começarão a rodar a solo, os filmes "Diary" e "Forest of Death" (ver aqui), por isso, certamente ainda faltará algum tempo para que os irmãos Pang possam mudar de registo.

Sérgio Lopes

sábado, julho 15, 2006

Haze

Japão, 2005, 49Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: Um homem acorda confinado num minúsculo cubículo. Não sabe onde está nem se lembra como foi lá parar. O que o mais aterroriza é que quanto mais sangra, e aumentam as suas insuportáveis dores, mais pequeno o cubículo se vai tornando...

Crítica:
O mensageiro de um mundo apocalíptico condenado ao caos, seja ele no futuro ou no presente, simbolizado em constantes transformções de corpos e mentes humanas transtornadas e vítimas de uma perversa sociedade em constante mutação, molda uma visão desesperadora e claustrofóbica a partir de um personagem sem nome interpretado pelo próprio Tsukamoto, que certo dia acorda dentro de um misterioso cubículo. O espaço, além de escuro e intransponível, é mínimo, ao ponto que é impossível não sofrer danos físicos para se mover dentro daquele espaço.

Encaixotado, vê o seu desespero aumentar à medida que não consegue encontrar respostas do porquê de estar naquela situação atordoante; ao mesmo tempo que os seus apelos por ajuda também são negados pelo mundo exterior. A única visão desse mundo exterior é feita por meio de uma pequena fenda onde se tem uma visão sanguinária onde pessoas gritam desesperadamente e têm os seus corpos mutilados como um cenário do purgatório de Dante. Será melhor ele permanacer onde está, ao invés de procurar uma saída? Não, como quase todos os seres humanos, sempre há um falso optimismo onde se imagina um futuro melhor que o presente.
Assim, o rapaz persiste na busca de uma saída daquele cubículo até encontrar uma misteriosa rapariga que jura saber onde fica a saída. Tsukamoto, o realizador, novamente exercita nesta média-metragem, um ensaio sobre até quando pode suportar o ser humano sob situações adversas. Mas ao contrário dos seus primeiros filmes, onde ele colocou em evidência o corpo humano, em Haze ele mantem a idéia do seu filme anterior, Vital, onde a mente se sobressai sobre o corpo, mas sem esquecer a conexão do corpo com a mente, numa visão apocalíptica do ying e yang.

Se em Vital temos um personagem que disseca o corpo da namorada para relembrar momentos de sua vida, em Haze vemos um personagem que busca uma resposta e uma explicação (passado) para o momento alucinante que está a viver. O filme, nos seus quase 50 minutos, vai além de uma simples jornada surreal e aterradora repleta de desesperos e indagações de um homem preso num túnel sem saída, é uma viagem misteriosa rumo ao imaginário de uma mente pertubada agarrada a intermináveis labirintos que muitas vezes pode ser mais claustrofóbio e aterrorizador que qualquer buraco sem saída. Afinal não existe lugar mais misterioso e intrigante que a mente humana. Tsukamoto que o diga.

Classificação: 6/10

Ric bakemon

quinta-feira, julho 13, 2006

Noticias de Veneza

Park Chan-wook, será membro do júri no 63º festival internacional ede Veneza. Ao que parece ainda há a possibilidade de apresentar o seu mais recente filme I'm a Cyborg, but That's Ok, mas obviamente fora da competição. Só por curiosidade, o júri irá ser composto por um membro de origem portuguesa, o produtor Paulo Branco.
O altamente antecipado drama histórico The Banquet irá ter a sua estreia mundial também no ferstival. O filme de Feng Xiaogang irá estrear na China poucos dias depois de passar em Veneza e as 650 cópias enviadas para os cinemas nacionais prvême um grande sucesso comercial, não só pelo número de estrelas conhecidas que integram o elenco, mas principalmente pela polémica do uso de uma actriz substituta supostamente nas cenas de nú da super-estrela Ziyi Zhang. Podem ver o trailer de The Banquet AQUI.
Sérgio Lopes

quarta-feira, julho 12, 2006

A Chinese Ghost Story (Sinnui yauwan)

Hong-Kong, 1987, 95Min.

Página Oficial - Trailers - Fotos

Sinopse: Ning Tsai-Shen, um humilde cobrador de impostos chega a uma pequena vila para desempenhar a sua função. No entanto, ninguém está disposto a indicar-lhe um local para passar a noite. Só lhe resta dormir no templo amaldiçoado Lan Ro. Lá encontra um espadachim Taoista e a bela, Nieh Hsiao-Tsing, um fantasma amaldiçoado para toda a eternidade, pela qual Ning Tsai-Shen se apaixona…

Crítica: A Chinese Ghost Story trata-se de o clássico maior do cinema Swordplay, abrindo caminho para esse género, tão bem sucedido num passado recente com títulos como por exemplo “Crouching Tiger Hidden Dragon” (O Tigre e o Dragão) ou “Hero” (Herói), entre muitos outros. Mas A Chinese Ghost Story, deve o seu sucesso a um conjunto de factores e uma mescla de géneros para além do swordplay, que eleva o filme ao estatuto de culto.

Realizado por Siu-Tung Ching (conhecido por ser o coreógrafo de serviço dos filmes de John Woo, por exemplo) e sob a produção do lendário Tsui Hark (seven swords), “A Chinese Ghost Story” mistura comédia, acção e aventura, e fantasmas, na dose certa, criando uma película que é um verdadeiro festim para os sentidos. A narrativa a alta velocidade, mas sempre equilibrada por uma montagem segura e eficaz, prende a atenção do espectador do primeiro ao último minuto da película.

Há que recordar que estamos em 1987, a quase vinte anos de distância, em Hong_Kong, onde nada assim havia sido experimentado até à data. No entanto, nada falha em “A Chinese Ghost Story”, quer por um lado os efeitos especiais (inovadores para um filme asiático na época), quer a caracterização e fotografia, original e belíssima. Outra das grandes razões para o sucesso do filme está no elenco escolhido. Leslie Cheung é simplesmente inesquecível como o inocente cobrador de impostos, secundado pela bela Joey Wang. A química existente entre o par romântico e a sua inocência é um dos factores de sucesso do filme.

Uma palavra também para a banda sonora escolhida que vai desde o score inicial pujante até aos sons mais modernos e com guitarras nas cenas de acção, ou o uso de instrumentos mais clássicos (flautas, cordas, etc) e coros vocais femininos nas cenas mais românticas. A música, na película acompanha quase sempre os personagens e neste caso concreto tem um papel muito importante no acompanhamento narrativo.

A Chinese Ghost Story foi alvo de duas continuações (parte 2 e parte 3), sem o mesmo sucesso. Seria difícil suplantar ou mesmo igualar um filme que foi marco histórico no cinema de Hong-kong influenciando inúmeros outros realizadores. A primeira metade do filme é uma mistura de romance, aventura, belíssima música e fotografia, todo na dose certa, enquanto que a segunda metade é mais preenchida com cenas de luta, bem coreografadas e efeitos especiais inovadores. No final, o resultado é um dos melhores filmes asiáticos de todos os tempos e um clássico imperdível.

Sérgio Lopes

terça-feira, julho 11, 2006

Dragon Tiger Gate - Trailer e Página Oficial

O filme de Wilson Wip, Dragon Tiger Gate, já tem site oficial e trailer disponivel no You Tube. Conta com o fabuloso Donnie Yen e é um dos filmes de artes marciais mais aguardados do ano. Após SPL, Donnie Yen volta em força com mais uma película carregada de acção e lutas espectaculares. Promete...


Sérgio Lopes

domingo, julho 09, 2006

I´m a Cyborg, But That´s Ok, no Festival de Veneza?


I´m a Cyborg, But That´s Ok, a nova película do conceituado cineasta coreano Park Chan-Wook, responsável pela impressionante trilogia de vingança, composta por Sympathy For Mr. Vengenace, Oldboy e Sympathy For lady Vengeance, foi proposto para o Festival de Cinema de Veneza deste ano, que decorre de 30 de Agosto a 9 de Setembro. Será a oportunidade de assistir à estreia mundial de um dos mais aguardados regressos do panorama asiático.

O filme será protagonizado pelo cantor Rain e pela actriz Lim Soo-jeong (A Tale Of Two Sisters). Trata-se de uma rapariga que pensa ser um cyborg de combate para lutar numa guerra pós-apocaliptica e que é levada para um hospital psiquiátrico, onde trava conhecimento com outros pacientes. Vai acabar por se apaixonar por um homem que acredita conseguir roubar as almas das outras pessoas...

Sérgio Lopes

sábado, julho 08, 2006

Bishoujo Senshi Sailormoon S

Japão, 1994, 60min

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: Luna, a gata falante de Usagi, sente-se mal num passeio ao centro da cidade e decide regressar a casa. Pelo caminho é salva por Kakeru, um astrónomo, que cuida dela com carinho no seu loft/observatório. Kakeru anda em atrito com a namorada, Himeko, pois ela encara a investigação espacial com pragmatismo científico ao contrário dele que, romanticamente, acredita na existência de Kaguya-hime, a princesa do conto de fadas. Luna repara que, para além de deprimido, Kakeru apresenta sintomas estranhos e quer ajudá-lo...

Crítica: O investimento feito no filme anterior provou-se lucrativo e, menos de um ano depois, foi feito novo filme, desta vez a partir da terceira série de Sailormoon, Sailormoon S. Quando falo em investimento foi mesmo de investimento que se tratou para este filme. A história, baseada livremente na lenda japonesa “O cortador de bambú” ou “Princesa Kaguya”, foi escrita pela autora da manga, Naoko Takeuchi, e publicada em livro. O artwork novo foi concebido por ela e o character design, as cores, os cenários e tudo mais, receberam os seus próprios “power-ups”.

Todo o guarda-roupa é novo, há um maior cuidado com sombras, reflexos, acabamentos e as cores são mais vivas e brilhantes. A narrativa científica espacial derivou grandemente de uma visita de Naoko Takeuchi ao “NASA Space Center” e, como foi sendo seu hábito, ao longo de toda a manga de Sailormoon, juntou várias temáticas, de diferentes origens, pelo denominador comum, a Lua. Apesar de mais original, a história resulta um pouco confusa e mal desenvolvida.

O tema da astronomia é abordado pela rama e a sua ligação à lenda da Princesa Kaguya demasiado frágil. Acredito que Naoko Takeuchi tenha querido transmitir que só ciência não enriquece a alma das pessoas, mas desta forma os dois modos de pensar não se uniram. Vale pelo dilema emocional de Luna, que habitualmente é a personagem pragmática e sensata que dá as explicações mais elaboradas acerca do universo Sailormoon. Esta pequena narrativa, acaba por, através da excelente animação e do maravilhoso desempenho da actriz de voz, se destacar e reforçar a verdadeira permissa da série, da amizade e amor que tudo resolvem.

As extraterrestres invasoras, não passam disso, apesar de muito bem animadas. A sua ligação, através do meteorito, à linha narrativa dos astrónomos é muito fraca e a sua motivação, adicionar a Terra a uma colecção de planetas gelados, demasiado pouco convincente. Só os poderes impressionam, pois as guerreiras não dão cabo delas à primeira. As batalhas resultam menos emocionantes e empenhadas que no filme anterior. Mesmo a muito desejada por muitos fans integração das Outer Senshi (guerreiras do sistema solar exterior) sabe bem, mas soa a falso.

Ocupando mais tempo de filme que a história de Luna, as cenas com as guerreiras parecem enfiadas à força no filme, para mostrar um catálogo de transformações, ataques e power-ups. Até Chibiusa tem direito a transformação (em Sailormoon S ela já é guerreira, mas nunca se vê a sua transformação). Mais uma vez a única transformação que faz sentido é a de Luna, que nem é a mais elaborada, apesar de bonita.

Tecnicamente o filme é muito bom, mas a realização é simplesmente académica e o argumento demasiado frágil e “colado com cuspo”, podendo o filme ser reduzido a 1/3 e enfiado no meio da série como um episódio especial. É pena!

Classificação: 6/10

Misato

sexta-feira, julho 07, 2006

Novo filme de Wong Kar-Wai

"...uma rapariga jovem viaja pela America em busca do verdadeiro significado do amor. No decorrer da sua viagem, ela encontrará algumas pessoas, estranhas, atraentes e invulgares, que a irão encorajar a continuar a sua jornada..."

Esta é a premissa do novíssimo filme do conceituado realizador de Hong-Kong, Wong Kar-Wai, do qual ainda se sabe muito pouco. Irá intitular-se My Blueberry Nights e contará no elenco com Jude Law, Norah Jones, Rachel Weisz, Natalie Portman, Ed Harris, e Kevin Spacey. Em princípio a rodagem terminará no final do ano. Aguarda-se com imensa expectativa esta aventura americana do cineasta asiático. Mais informações serão colocadas no cineasia assim que estiverem disponiveis.

Sérgio Lopes

quarta-feira, julho 05, 2006

Colic - Trailer e novo poster

A nova película de terror Tailandesa realizada por Patchanon Thammajira e interpretada por Pimpan Chalaikupp e Kuntheera Sattabongkot é intitulada Colic. Refere-se à doença algo comum de que os bebés recém-nascidos padecem e que é definida por choro e irritabilidade extrema por um período que normalmente não excede os três a seis meses - Cólica Infantil.

No filme, esta temática é explorada na pele de um casal recém-casado cujo bebé que sofre desse estranho comportamento potenciado pela cólica infantil, mas que passados os seis meses não desaparece. O casal tenta então descobrir o porquê desse estranho fenómeno...

Trailer no You Tube
Sérgio Lopes

terça-feira, julho 04, 2006

Happy Together - Parte 2

Hong-Kong, 1997, 96Min.

Página Oficial -
Trailer - Fotos

Primeira parte disponível AQUI

A experimentação fílmica, como já explicamos, tem a ver com os termos plásticos, já que o realizador faz inovações com cores filtradas na película. Alguns críticos ressaltam o aspecto de “film de chambre”, devido à quantidade de cenas no quarto de Yiu-Fai o que confere ao filme um caráter intimista. Muitas das cenas acontecem dentro do quarto, no bairro La Boca, que era onde vivia Yiu-Fai. As cenas gravadas em Buenos Aires e não utilizadas no filme foram aproveitadas em um filme chamado “Buenos Aires Zero Degrees”, que é o “making off” de “Happy Toghether”.

O filme coloca uma resposta a uma pergunta concreta: é possível dois opostos viverem felizes juntos? Existe uma dimensão sexual (a relação dos dois) e política (o ano conturbado de transferência de poderes, a morte do líder chinês) no filme, mas ambas apontam para uma direcção, tanto a nível macro quanto micro: é possível conviver com a alteridade? Em que implica a aceitação do outro? Ela pode ser sem limitações? Aceitar o outro como ele é não é aceitar-se a si mesmo?

Nas tomadas externas, as imagens do obelisco da Avenida 9 de julho, no centro de Buenos Aires, as cenas/visões/movimentos acelerados da câmera mesclam-se com as relações pessoais e a solidão, componente essencial dos filmes de Kar-Wai. O anonimato, o trânsito intenso, a profusão de informações, as pessoas nas ruas, a contemporaneidade representada pelo relógio, que dissolve as horas na fugacidade da vida cotidiana. Os minutos que marcham rapidamente, o esvair-se do tempo, o excesso de informação, a perda, a melancolia, a nostalgia, o tempo perdido. São todos elementos que se amalgam a partir de uma perspectiva poética e original.

Tecnicamente, experimenta-se o recurso fotográfico onde o brilho é amplificado pelo uso da película em alto contraste, o processo de filtração das imagens em 16 mm, as seqüências coloridas que se alternam com o preto e branco, os subtítulos detidos nas imagens. O objectivo dos dois amantes era claramente o encontro e a viagem às Cataratas. Como uma negação de suas possibilidades, surge a utilização, por parte do cineasta, de um objecto insistentemente mostrado pela câmara (onze vezes), o abajour. Se o considerarmos um típico objeto kitsch, tiramos daí algumas significações.

Os elementos culturais argentinos, como o tango e a melancolia são dois aspectos essenciais para se entender o processo de tomar emprestado da literatura um tema de criação e realizar uma relação intersemiótica de transposição dos signos do cinema e da literatura. Sem ater-se com tanta ênfase ao aspecto da sexualidade, o filme não aborda a homossexualidade de maneira explícita nem tão pouco panfletária. A história é entre dois seres humanos que, felizes-juntos, infelizes-separados, infelizes-juntos e felizes-separados, não conseguem retornar ao lugar de origem.

Yiu-Fai afirma que, para seu amante, recomeçar de novo trazia um significado muito variado. Mas sabe-se que é impossível começar de novo, todo o presente nos é arrebatado com as marcas que se carrega do passado. Ou seja, toda tentativa de renascimento traz um passado de variações, experiências múltiplas que a memória carrega. Pode-se ver, então, o filme a partir de dois prismas distintos: o âmbito político – o ano é 1997 – ou o âmbito pessoal – um casal, que, independente de sua orientação sexual, briga incessantemente, mas não consegue se separar no pensamento, na imaginação nem no desejo.

Wong Kar-Wai surpreende o espectador ao levar às telas a questão identitária de Hong Kong em 1997. Numa via de mão dupla – cinema/literatura ou literatura/cinema – Kar-Wai toma emprestado de Manuel Puig o cenário argentino, o tango e a focalização das ações no homem gay tentando sair de uma relação destrutiva. Do mais singelo e quotidiano irrompe a grande metáfora do viver separado e junto. A cifra das relações pessoais traça um itinerário até os grandes pontos divergentes e convergentes entre China, Taiwan e Hong Kong. O planeado para dois meses estendeu-se a cinco, e os chineses estendem suas perambulações pela capital argentina.

O discurso do outro solidifica-se, então, através das imagens contemporâneas, instantâneas, rápidas, urbanas, noturnas, melancólicas e instigantes que o filme produz. A focalização no outro e a sua relação com o mundo, a impossibilidade de comunicação fora de seu país de origem, a condição de ser em exílio. Características que compõem as identidades como “alter”, seja pelas ações sexuais, afetivas, ou pela condição extremamente física a que o ambiente os condiciona.

Não se pode considerar o filme essencialmente triste ou deprimente, especialmente se pensamos em sua imagem final, que se compõe pela esperança e a possibilidade do renascer de novos tempos. Tudo isso usando a simbologia da estação, o momento em que Yiu-Fai chega a Hong Kong. A estação como um local de chegada e partida, de sujeitos que se transformam em seus próprios itinerários, enfim, a última cena traz a esperança de maneira brilhante e positiva. Bosqueja no rosto de Yiu-Fai a possibilidade de novas vivências e percepções, que, apesar de suas mazelas traumáticas e de sua impossibilidade de sucesso em sua relação anterior o permite construir algo novo através da experiência.

O sorriso de renascimento e redenção no último plano do trem na estação se imobiliza na pausa da imagem e traz também a possibilidade de novas chegadas/ partidas, novas uniões. A metáfora da união entre Hong Kong e Inglaterra que, justamente no ano de reversão do território à soberania chinesa, nos permite novas leituras/reflexões políticas pela história pessoal desses personagens.

Classificação: 10/10


Veridiana Gama

segunda-feira, julho 03, 2006

A Tale Of Two Sisters - Estreia Finalmente!

Uma família, aparentemente normal esconde terríveis segredos. A madrasta, Eun-Joo, dá as boas vindas às enteadas, Su-mi e Su-yeon, que acabam de regressar a casa depois de uma curta estadia numa instituição psiquiátrica. A irmã mais velha, Su-mi, evita até o olhar com a madrasta, enquanto Su-yeon, a irmã mais nova, mostra muito medo até de ser tocada por Eun-Joo. Mas a vida naquela casa não vai ser fácil. Na manhã a seguir à chegada, uma das irmãs vê o fantasma de sua mãe, enforcando-se no quarto da pequena Su-yeon. Desde esse dia começam a acontecer coisas estranhas no seio daquela família. Uma alma penada passeia-se pela casa e os adorados pássaros da madrasta aparecem mortos. Eun-Joo culpa a irmã mais velha e, por isso, fecha-a num armário. O domínio da madrasta parece total.

Trata-se finalmente da estreia em salas nacionais de provavelmente o melhor filme de terror psicológico asiático da recente vaga sul-coreana, "A Tale Of Two Sisters". Depois de termos tido a sorte de estrear entre nós "A Bittersweet life" a obra que sucedeu a este "A Tale Of Two Sisters" do realizador Kim Jee-Woon, corram para os cinemas antes que saia de exibição, pois acreditem vale mesmo a pena... Aqui no porto é que parece que não temos direito a estreias asiáticas. Enfim...!

Para quem quiser ler as críticas a "A Bittersweet Life" e "A Tale Of Two Sisters" aceder aos respectivos sites oficiais e visualizar os trailers, podem fazê-lo, clicando sobre os títulos dos filmes respectivos.

Sérgio Lopes

sábado, julho 01, 2006

My Lover Is A Sniper -The Movie (Koibito Wa Sunaipa)


Japão, 2004, 112 Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse : Um franco-atirador aterroriza a população japonesa matando pessoas aleatoriamente em várias regiões do Japão. Intitulando-se membro do esquadrão 1211, o atirador exige 500 milhões de yenes do governo para parar de matar. Sem encontrar outra saída, o governo japonês manda a dedicada agente Kinako Endoji ir buscar um ex-membro do esquadrão 1211, Wong Kai Ko, detido na prisão em Hong Kong, para ajudar a caçar o terrorista.

Crítica : Teruyoshi Uchimura, integrante da dupla cómica Uchan/Nanchan, é um humorista muito popular no Japão. Em 2000, um produtor da TV ASAHI contatou Uchimura e perguntou se ele estava interessado em fazer um filme para TV. Fã confesso de Jackie Chan, Uchimura falou que só faria se fosse um filme de acção. Daí nasceu a série Koibito Wa Sunaipa, cujo primeiro filme foi para o ar na TV ASAHI em 11 de outubro de 2001.

Com o sucesso do filme, foi para o ar em 24 de dezembro do ano seguinte a seqüela Koibito Wa Sunaipa-Episode 2. Não demorou muito para todo mundo perceber que a série merecia uma versão para cinema, e em 2003 começou a produção de My Lover Is a Sniper, o terceiro e derradeiro episódio da série.

Miki Mizuno é Kinako Endoji, uma agente da polícia séria e dedicada que um dia conhece Wong Kai Ko (Teruyoshi Uchimura), um chinês por quem ela se apaixona. Mas ao se aprofundar num caso de assassinato que ela estava a investigar, descobre que Wong na verdade é um franco-atirador, membro do esquadrão 1211, uma organização criminosa. A partir daí ela precisa se decidir entre o amor e o dever. No final do episódio 2 ela decide cumprir seu dever e prende Wong Kai Ko, que é extraditado para Hong Kong.

Para escrever o argumento desse terceiro episódio, o escritor aparentemente se inspirou num caso semelhante de um franco-atirador ocorrido nos EUA. Nesse filme, porém, temos um herói e uma heroína. Com um enredo que promete e um trailer bem empolgante, comprei o DVD com a maior expectativa, já que tinha perdido a oportunidade de visioná-lo no cinema.

Com cenas de acção muito bem feitas e inspiradas nos sensacionais filmes non-stop action de Hong Kong, My Lover Is a Sniper-The Movie entretém muito bem o expectador nas suas quase duas horas de duração, embora algumas cenas mais lentas quebrem o ritmo do filme. Com o reencontro de Kinako e Kai Ko, o aspecto romântico não podia ser deixado de lado, mas tudo é bem discreto, sem nenhuma declaração de amor explícita, tudo demonstrado somente com olhares e gestos, bem diferente dos filmes ocidentais.

A escolha de Miki Mizuno como Kinako não poderia ser mais perfeita. Além de ser muito bonita, alta e ter porte atlético, é uma óptima atriz e ainda encara as cenas de luta muito bem, sendo inclusive muito elogiada pelo colega Uchimura, que numa entrevista nos extras do DVD chega a compará-la com a maravilhosa Etsuko “Sue” Shiomi, a maior estrela japonesa de acção de todos os tempos.

Uchimura também tem as suas cenas de ação, mas infelizmente apenas uma única cena de luta. Uma óptima luta, aliás! O seu personagem concentra-se mais no seu ofício de franco-atirador, principalmente na seqüência final, que é um duelo entre atiradores espalhados nos arranha-céus de Tóquio. Considero Uchimura uma espécie de Stephen Chow japonês.

Tem um grande talento para comédia (quem está acostumado com seu lado cômico talvez estranhe um pouco esse filme) mas tem uma queda para artes marciais, além de ser um bom actor. Vale a pena citar também a presença do carismático Naoto Takenaka como Ko Muraki, o líder do esquadrão 1211 que invade a prisão para libertar Wong Kai Ko.

Como citei anteriormente, My Lover Is a Sniper é um bom filme de acção, mas que poderia render muito mais se tivesse um final menos lento e com mais impacto.

Curiosidade : O actor que interpreta o pai de Kinako, Chosuke Ikariya, é um veterano humorista ex-líder do The Drifters, um grupo cômico muito popular entre a década de 60 e 80. Ele faleceu de cancro no esôfago em 20 de março de 2004, e My Lover Is a Sniper acabou por ser o seu derradeiro filme.

Classificação : 7/10

Takeo Maruyama