quarta-feira, novembro 08, 2006

Akira Kurosawa's Dreams (Yume)

Japão, 1990, 119Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos


Sinopse: Um conjunto de segmentos baseados nos sonhos do realizador Akira Kurosawa.

Crítica: “Uma vez eu tive um sonho...” Esse é o começo de uma das mais significativas obras que representam a união entre várias artes: cinema, pintura e poesia. Akira Kurosawa, realizador de clássicos como Seven Samurais, Ran e Derzu uzala, transpõe de forma magistral na tela toda sua sensibilidade e os seus sentimentos em relação à vida, a morte, ao fantástico e ao mundo, em Sonhos, um de seus últimos trabalhos (viria a falecer em setembro de 1998).

O filme é dividido em 8 sonhos, ou segmentos, se preferir. Nos dois iniciais o principal tema é a infância. No primeiro, “Sunshine Through The Rain”, um rapaz desobedece à sua mãe e foge para a floresta com o intuito de espiar a dança de casamento das raposas. Esse sonho pode ser visto como um retrato da educação e da cultura japonesa tanto que, quando o rapaz volta da floresta, sua mãe diz que uma raposa veio àsua procura e caso ele queira reaver sua honra deve praticar o harakiri (suicídio dos samurais) ou voltar à floresta e pedir desculpas a elas. Parece surreal mandar uma criança se matar, mas pode ser encarado apenas como um reflexo da rígida e ultraconservadora educação do país.

No segundo, intitulado “The Peach Orchard (O Pomar dos Pêssegos)”, apresenta outro miúdo que descobre um antigo pomar, onde restam apenas tocos de árvores. Elas decidem então florescer mais uma vez para orapaz, vendo que ele realmente lamenta que o pomar tenha sido cortado. A sua preocupação com a natureza será explicada melhor no último episódio.

Em “The Blizzard”, o terceiro sonho, vemos um grupo de homens das montanhas tentando fugir de uma forte tempestade e conseqüentemente da morte. Já em “O Túnel”, o 4º sonho, um capitão do exército depara com vários dos seus subordinados mortos em combate, que pensam ainda estarem vivos, numa clara mensagem contra a guerra.

Aqui começa, na minha opinião, o melhor do filme. No 5º segmento “Corvos”, um jovem pintor entra nas obras de Van Gogh e encontra-se com o próprio (curiosamente interpretado por Martin Scorsese), que começa a descrever como a paisagem o impele a pintar freneticamente. O visual desse sonho é fantástico, o personagem literalmente anda sobre as mais famosas obras do pintor, incluindo a Campo de trigo com corvos. Essa junção de pintura e cinema deixa claro como a arte influenciou a obra de Kurosawa.

No segmento “Monte Fuji de vermelho” uma tragédia nuclear causa o pânico na população e faz com que substâncias radioactivas sejam libertadas por largos quilômetros. O fantasma de uma tragédia nuclear sempre acompanhará os japoneses, e aqui não seria diferente. E em Dreams as cores têm um significado, pois ora trazem felicidade ou neste caso trazem o terror e também identificam as nuvens radioativas (cada cor é uma substância).

No penúltimo segmento, “O demónio chorão”, o realizador retrata o mundo pós-hecatombe nuclear. O céu e o chão são cinzas, há pouca luz, quase não há sinal de vida, os humanos que sobreviveram agora estão deformados, viraram ogros, sendo que esses se alimentam deles mesmos. Resumindo, o mundo virou um lixo radioativo. Um viajante encontra um desses ogros, que conta como era sua vida, que lamenta ter sido tão ganancioso e egoísta e que agora vive nesse inferno que de certa forma ele ajudou a criar.

O último sonho é o “Povoado dos Moinhos”. É aqui que Kurosawa diz tudo, mostra o que realmente quer passar ao espectador. Finalmente, esse mesmo viajante chega num povoado simples e belíssimo, e encontra um senhor, ao qual faz várias perguntas. Indagado sobre porque não há eletricidade no local, o velho responde: “Não precisamos. As pessoas acostumam-se ao conforto. Acham que o conforto é melhor. Rejeitam o que é realmente bom”.

E com uma sábia simplicidade ele também responde como ficam à noite, que é tão escura:É. Assim é a noite. Por que a noite deveria ser clara como o dia? Eu não ia querer noites claras, que não deixassem ver estrelas.” A utopia de viver bem e bastante, respeitando a natureza e ao próximo. Considero esse sonho um dos momentos mais bonitos de todo o cinema, que faz cada um reflectir e tentar imaginar um mundo melhor.

Kurosawa é um gênio do mundo da sétima arte e Sonhos é uma de suas mais marcantes e importantes obras, tanto sobre os aspectos técnicos, como poéticos e visuais. Para finalizar esta análise, deixo as próprias palavras do mestre sobre o filme, que dizem tudo por si mesmas:

Daria o melhor de mim para aproveitar as minhas capacidades como artista. Eu sinto-me responsável, verdadeiro e honesto para com minha profissão e estou consciente disso. Eu estou primeiro a lidar com a sociedade japonesa e a tentar ser cândido ao lidar com os nossos problemas. Espero que você entenda isso sobre mim quando vir o filme. Como um contador de histórias, não tenho segredos...


Só nos resta agradecer por podermos compartilhar das suas ideias.

Classificação: 9/10

Marcus Vinicius

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

nosss...esse filme parece ser perfeito...
to a um tempo procurandu e naum achu U____u'

vc sabe como posso conseguir esse filme ???

qualquer coisa me add...se souber..
vlw!! (andreziffen@hotmail.com)
abraçosss!!!

11:28 da tarde  
Blogger venis said...

emule?

11:32 da tarde  
Blogger Panoiki said...

O filme é uma bíblia filosofica, atemporal. Quando criança, entendi algo, jovem outras, e hoje, agrego novamente este a edifício, a sabedoria desta obra, em maior nivel do que Cidadão Kane de Orson Welles.

1:32 da manhã  
Anonymous thayta said...

o filme é lindo,
mas super difícil de entender...tem que saber bem simbolismo....
e mesmo assim ainda há dualidade em várias coisas. mas é ÓTIMO!!
vale apena principalmente corvos...

1:51 da manhã  

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