sexta-feira, dezembro 09, 2005

Peppermint Candy (Bakha Satang)


Coreia do Sul, 2000, 130Min.

Página oficial e Fotos - Trailer

Sinopse: Na primavera de 1999, um homem de meia-idade, bem vestido, Kim Yong-ho (Sol Kyung-gu), encontra-se deitado à beira de um lago por baixo de uma ponte ferroviária. A não muitos metros do homem encontra-se um grupo de amigos, que fundou uma espécie de clube naquele mesmo local há cerca de 20 anos atrás. Aparentemente por acaso, Kim Yong-Ho junta-se ao grupo e é imediatamente reconhecido por um dos elementos como tendo sido um dos primeiros membros desse grupo, na altura aspirante a fotógrafo. Incompreensivelmente, Yong-Ho, não se consegue integrar no grupo, é uma pessoa completamente destruída psicologicamente. Num ápice, sobe a ponte ferroviária e atira-se para a frente de um comboio, dizendo: “Vou voltar atrás!”…

Crítica: A partir deste momento, a narrativa desenrola-se de forma cronologicamente inversa, incidindo nos últimos 20 anos da vida de Yong-Ho, revelatórios das razões que o levaram a cometer suicídio. O filme acompanha vários estágios da vida pessoal de Yong-Ho, que o levaram à ruína: A perda do seu único e verdadeiro amor (Sun Nim), um serviço militar e uma carreira como policia traumatizantes, a ruptura familiar ou a bancarrota financeira, entre outros. Cada fase da vida de Yong-Ho é intercalada pela imagem de um comboio a circular para trás, simbolizando a progressão do tempo inversamente.

Kyung-gu Sol tem um desempenho notável, criando um excelente trabalho de composição de personagem, na pele de um homem violento, solitário e completamente vulnerável a um sistema que o destrói. O espectador começa por sentir desprezo por Yong-Ho, mas à medida que o tempo passa, o sentimento de desprezo é substituído por pena e tristeza, pois apercebemo-nos das razões que levaram à transformação deste homem e que em última análise o conduziram ao suicídio.

O realizador Chang-dong Lee, utilizando a narrativa de forma regressiva, acaba por conseguir fazer um retrato dos últimos 20 anos da história da Coreia do Sul e de como esse sistema opressivo afectou um ser humano de forma irreversível. O argumento é simplesmente fantástico, na medida em que tudo está muito bem explicado e fundamentado, obrigando o espectador a acompanhar a viagem regressiva de comboio na vida de Yong-Ho.

Estreado no mesmo ano que o filme “Memento”, “Peppermint Candy” foi alvo das inevitáveis comparações, no meu entender, injustas, uma vez que os géneros são completamente diferentes: enquanto “Memento” é um thriller, “Peppermint Candy” é um drama pesado e poderoso sobre o efeito que a sociedade pode ter sobre um homem inocente, bondoso, mas vulnerável e sensível, logo sujeito às modificações impostas por um sistema Coreano destrutivo.

Chang-Dong Lee cria um poderoso conto sobre a tragédia pessoal de um homem e a sua autodestruição, tendo como base histórica a nação coreana dos últimos 20 anos. É uma história passada na Coreia, sobre a Coreia, mas que se poderia suceder noutro local qualquer. “Peppermint candy” é um clássico moderno. Recomendável.

Classificação: 7/10

Sérgio Lopes

3 Comments:

Blogger fernando_vilarinho said...

olha Sérgio, em relação à tua resposta no last post eu dizia que conseguia um bom patrocinio da embaixada do Japão de cá, se fizéssemos um blogue de qualidade a divulgar e promover o Japão
vocês (sérgio e wasted blues) podiam falar de cinema e outras artes e eu de outras cenas.

em troca de material (livros, cd´s dvd´s, etc.), viagens ocasionais ao Japão e mais algumas contrapartidas que a Embaixada nos dava, fazíamos um blogue sobre o Japão.
Mas uma coisa séria. Não era apenas mais um blogue.
que acham?

1:00 da manhã  
Blogger C. said...

Desculpa, Fernando. Mas o tempo não estica ;)

6:39 da manhã  
Blogger Sérgio Lopes said...

Fernando, por mim podes contar para o blogue desde que não ocupe demasiado tempo. Posso, na boa, falar de cinema japonês. Já agora, viste o meu mail?

Cumprimentos,

Sérgio lopes.

9:28 da manhã  

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