sábado, janeiro 14, 2006

Gozu


Japão, 2003, 130Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse:Ozaki (Aikawa), um yakuza sénior, começa a dar mostras de loucura. No decorrer de uma reunião com o líder da organização, aponta para um pequeno cachorro, dizendo que se trata de um “cão de ataque yakuza”. Em seguida levanta-se determinado assassinando brutalmente o animal. Minami (Sone Hideki), seu irmão mais novo, é encarregue de o levar numa viagem a Nagoya, da qual é suposto regressar sozinho. Mas antes de chegarem ao destino, Ozaki desaparece e Minami tem de encontrá-lo, vivo ou morto. Durante essa investigação, cruza-se com indivíduos estranhos e presencia acontecimentos que desafiam explicações racionais...

Crítica: Mais um filme saído da mente perversa do controverso realizador japonês Takashi Miike, que tal como “Ichi the Killer” se situa nos meandros da máfia Yakuza. Mas ao contrário de “Ichi the Killer” onde a violência gráfica e o gore são levados quase ao extremo como se estivéssemos a ver uma película anime com personagens de carne e osso, em Gozu a abordagem é completamente diferente.

Existe igualmente um personagem central pertencente à máfia Yakuza, frágil e algo desenquadrado do seu meio e continua a existir a violência tão característica nos seus filmes. No entanto, em Gozu, não é tão directa e visceral. Podemos dizer que Miike tenta uma incursão no domínio da violência psicológica e do bizarro.

O filme poderá ser dividido em duas partes: uma primeira parte, que poderá ser definida um pouco como um road-movie e uma segunda parte (a partir do momento em que o irmão mais velho de Minami, Ozaki, desaparece sem deixar rastro) difícil de classificar, isto porque, após o desaparecimento de Ozaki, surgem ocorrências sem explicação aparente e personagens do mais bizarro que se possa imaginar.

A partir do momento em que Minami perde contacto com o irmão em Nagoya, a mente do espectador começa a ficar baralhada. É tal a sucessão de personagens bizarros e de ocorrências sem explicação lógica que parece que Minami é o único ser normal da pequena vila. Muitas das cenas utilizadas nessa fase da narrativa bebem claramente da influência de David Lynch, o que é perfeitamente notório (não sei se propositado ou não).

Mas ao contrário de Lynch, que é um autor, na medida em que o mundo bizarro criado em cada um dos seus filmes, pressupõe uma explicação (plausível ou não – não está isso em causa) em Gozu, é impossível. Miike não dá tempo sequer para o espectador poder pensar e tentar descodificar o que acabou de ver. Como consequência, o filme peca por essa incapacidade de explicar o que aconteceu, pautando-se por um festim de bizarria para os sentidos.

Nesse ponto de vista, não há dúvida que Gozu surpreende, porque Miike, mistura o bizarro, não só com o terror psicológico, mas também com uma boa dose de cenas cómicas de tão surreais e inconcebíveis. No entanto, dá a sensação que Miike está-se nas tintas para que a história faça sentido e por isso, dessa forma torna-se uma desilusão, pecando nesse aspecto. Os fans do bizarro, com certeza vão adorar.

Classificação: 5/10

Outras cíticas 1 2

Sérgio Lopes

11 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Descobri esse otimo blog no orkut pq acabei de ver "3 Iron" e fiquei procurando comentarios sobre o filme. Que eh maravilhoso!

E parabens pelo blog. Voltarei sempre!

Abracos,

12:39 da manhã  
Blogger Sérgio Lopes said...

Obrigado por apareceres no cine-asia! Vou actualizando com novas críticas à medida da disponibilidade existente. Agradeço-te os elogios.

cumprimentos,

Sérgio Lopes

10:02 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

5/10 ????
Para mim o Gozu esta entre o melhor do que o miike ja fez! Aquele ambiente surreal, com cada personagem mais estranha do que a outra, o tom de suspense que envolve todo o filme em que somos surpreendidos a cada momento e um final com a tipica marca do infame miike! Sem duvida que existem pontos em comum com o mestre lynch, nomeadamente com "blue velvet" (suspense e bizarro) e tambem por isso gostei tanto do filme, mas ainda assim a marca de miike esta bem presente e ao seu melhor nivel!!
Entao aquele final so mesmo o miike!

Quem se quiser iniciar no universo miike tem aqui um excelente inicio!

1 abraço!

5:23 da tarde  
Blogger Sérgio Lopes said...

TF10: Respeito a tua opinião, mas não concordo que esteja entre o melhor de Miike.

É de facto surreal e imaginativo mas não passa de uma sucessão de cenas bizarras sem explicação lógica. Já agora que falaste no final do filme,és capaz de explicar o seu sentido?

Cumprimentos,

Sérgio Lopes

9:29 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Mt da bizarria é a manifestaçao dos devaneios do minami (naquele dilema - eliminar o seu "irmao") e todas aquelas personagens criadas pelo miike sao um complemento, tornando assim o filme surreal! É como uma analise à sua personalidade, por entre, o "absurdo" de todas aquelas situaçoes.
Mt da componente sexual do filme pode,(ou NAO), explicar aquele final. Para alem de todas aquelas situaçoes estranhas sao dados alguns pormenores sordidos nomeadamente do minami.(isso da para mts teorias)
Mas num filme que mistura tantos estilos, inclusive elementos de Horror (com a ilógica k isso representa) o fundamental do filme nao é tanto a possivel "explicação logica". O filme funciona por essa viagem surreal, com akele sentido de humor mt caracteristico que o miike ja nos habituou e ainda por cima feito em termos tecnicos com mt estilo e competência!
Colar tanto o Gozu aos filmes do lynch nao é suficiente, pois como ja tinha dito no outro post, ele comporta mais do que isso. akele toque à la "infamous" esta bem presente!

Eu nao sei o que é que ja viste dele, mas se nao gostaste do Gozu (e sobretudo por aquilo que nao gostaste) entao vai haver mt coisa dele que vais gostar menos!


1 abraço!

12:22 da manhã  
Blogger Sérgio Lopes said...

TF10: Obrigado pela explicação ao filme GOZU. Eu vi, para além de Gozu, o Ichi the Killer, O One Missed Call e o Audition e posso-te dizer que o único que achei um grande filme foi o Audition. Por exemplo o Ichi the Killer, também não percebi o porquê daquela ultra-violência.

Se calhar não é um realizador que me cative tanto assim. Tem os seus méritos, não há dúvida, mas posso não conseguir ver a mensagem. Sinceramente, não sei...

Cumprimentos,

Sérgio Lopes

10:03 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

O Miike como realizador excessivo que é desperta reações extremas. Ainda assim uma coisa é certa, ele é um realizador bem versatil e com grande talento! Os filmes dele vao desde, os mais alucinados, aos mais "normais" e ate a coisas mais elaboradas, mas sempre com o seu toque especial!
Nao é "O" meu realizador favorito, mas é dos favoritos e é daqueles que costumo estar atento ao que faz, por isso é que ja vi 18 filmes dele e tenciono ver mais, sempre à espera de ser surpreendido!
Experimenta ver o Visitor Q e ve se "sobrevives" :)
Se queres coisas mais normais/elaboradas, aconselho-te o "bird people of china", "blues harp", "rainy dog", "young thugs", "box" e ja agora se gostaste do The Quiet Family do Kim ve o "The Hapiness of katakuris", que é a versão do miike (nao é mt "normal" :) mas quem gostou do "original" deve experimentar)
Em relaçao à ultra-violência do ichi acho que se deve sobretudo a 2 coisas: 1º ser uma adaptaçao de uma manga, que lhe da aquele ar inverosímil e em 2º, é mesmo por ser realizado pelo miike :) O resultado é aquele que sabemos!....por acaso nem é dos meus favoritos

1 abraço!

4:07 da tarde  
Blogger Sérgio Lopes said...

estômago tenho... Não tenho quaisquer problemas em ver seja que tipo de filmes for. Agora, lovecraft, o Gozu, dizes que é o pior filme de Miike e no entanto, classificas-o com 8/10?????!!! hmmm, entaõ os restantes deverão ser 10/10.

Volto a frisar a minha opinião qt ao filme e a defender que o único filme altamente recomendável de Miike (dos que eu vi) é Audition.

Cumprimentos,

Sérgio Lopes

11:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Vamos mas é aliviar o tema. Aqui fica um "blockbuster" para o Miike... Zebraman ^_^;

4:30 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

"Gozu", depois de Audition é meu filme predileto de Miike. Apesar de não ser tão sofisticado quanto Audition, creio que "Gozu" tem aquele fator " não sei o que vai acontecer no próximo frame" que poucos filmes e poucos diretores conseguem produzir. Não gosto quando é feita uma leitura a partir do que se entende ou não se entende de um filme. Arte não tem a função de comunicar ou explicar (não é propaganda)... Me interessa as múltiplas leituras permitidas por obras como essa que não te dão um sentido mas te permitem criá-los.

11:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

visitor Q. Teorema às avessas. Pra quem acha q o cinema do miike não faz tanto sentido, assiste um visitante chegando à intimidade de uma família desintegrada e unindo-a em suas loucuras, e na desmistificação das obcessões de cada um, ao invés de em uma normalidade comum à eles (e ao contrário de teorema, onde o visitante desestrutura a família, mas tb despertando-os). Tudo extremo e simbólico, claro, mas ao invés de açoitar a mãe, quando desperto, o filho nada no leite. O pai, quando experimenta a realização de uma obcessão sexual, descobre ser uma 'merda'(o ser humano vive nessa..), e aproxima-se da esposa na seringa. Os pais, percebendo os apuros do filho, aproximam-se dele matando os moleques, protegendo-o. Enfim, família unida.
Muito leite, açoitadas e abraços. "its not the mistery of life, its shit!".."i just saw fireworks in my head" ; )

5:33 da manhã  

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