sábado, abril 29, 2006

Blue Spring

Japão, 2001,83Min.

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Sinopse: No ano de término do curso, os estudantes transformam a sua escola uma espécie de sociedade feita à sua medida. O novo líder Kujo ignora todas as leis, mesmo aquelas que determinaram a sua eleição. Com este vazio de poder, cedo se começa a degradar tudo à volta dos estudantes. À medida que chega o fim da escola cada vez estudam mais... violência e morte.

Crítica: Toshiyaki Yododa, ao lado de Hirokazu Kore-Eda, é sem dúvida um dos cineastas japoneses mais instigantes e inteligentes da sua geração. Sabe como ninguem entender os caminhos na busca da auto-afirmação individual diante de uma sociedade que parece soar indiferente, inerte e narcisista. Em Pornostar (1998), a violência foi usada para encontrar respostas para um andarilho urbano invisível; e em Nine Souls (2003) prisioneiros fugitivos buscavam no presente entender o passado que lhe foi negado e tentam preencher essa lacuna. Já em Blue Spring (2001) essa busca serve mais como um rito de passagem da adolescência dos estudantes de um colégio para rapazes rumo ao mundo dos adultos, cujo medo e a vontade de permanecer sempre jovem torneiam a insegurança natural desses estudantes.

O filme mostra a vida de estudantes que pouco se interessam pelos estudos e que vivem com os seus pensamentos vagos, procurando afirmar a sua superioridade em gestos pouco usuais. Por exemplo: aquele que conseguir bater mais palmas no topo do edifício da escola, à beira do precipício, apoiado somente pelos pés, torna-se simbolicamente o líder dos estudantes, conseguindo assim, teoricamente, o respeito dos demais rapazes (!)

Mas como em qualquer amontoado de pessoas onde o poder se apresenta frágil, esses líderes são constantemente convidados para novos desafios, principalmente quando essa superioridade é facilmente posta em causa. É interessante notar a ausência do poder, ou seja, dos professores diante de tal atitude. E quando essa figura nos é apresentada, vemos pessoas inseguras e pouco interessadas em mudar o rumo desses jovens. É como se Toyoda tratasse essa figura adulta como um detalhe figurativo sem muita importância — esteticamente falando.

Para Toyoda, essa busca incessante pelo poder por parte dos estudantes pode ser entendido não como uma forma de afirmação, mas sim como um medo e um motivo para fugir da realidade fora da escola. Eles ficam constantemente contemplando o lado exterior no topo do edifício da escola, seja os prédios, as miúdas, os carros etc. É como se fosse um outro mundo para eles, cuja fronteira fazem por não atravessar. Essa mesma visão distante é a única visão do exterior que Toyoda nos oferece. Não há nada fora da escola. Não há família, não há ruas, não há casas ou lojas. Apenas a escola é o seu mundo.

É ainda mais curioso notar que até o meio do filme não vemos nem a famosa cena dos estudantes a regressarem a casa após as aulas. É como se eles vivessem na escola ou que todo aquele tempo fosse resumido em algum momento em algum dia. A única pista fornecida para sabermos que se trata de um dia diferente dos demais são três flores plantadas pelos estudantes que naturalmente se desenvolvem e vão crescendo.

O realizador apresenta-nos somente dois estudantes que deixam a escola. Nem que seja de uma maneira pouco gloriosa: um sai preso por assassinar um colega e outro que abandona os estudos para se juntar à yakuza. Será que podemos entender que o futuro para esses rapazes será sempre tão tenebrosos assim? Os poucos que conseguem entender esse mundo exterior e encará-lo com naturalidade são desafiados e encarados como covardes traidores.

Blue Spring é um sublime ensaio da indiferença da causa e efeito que hoje norteiam a sociedade japonesa. Os adultos, representados pelos professores, indiferentes à problemática da juventude, que por sua vez, buscam à sua maneira criar um mundo onde possoam entender e serem entendidos com regras próprias, mesmo que fragéis e em constante mudança. O mais interessante é que Toyoda não imprime um estilo forte tecnicamente — isso não quer dizer que ele não tenha estilo —, apenas deixa os personagens e seus factos falarem mais alto. Maravilhoso.

Classificação: 8/10

Ric Bakemon

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Completamente de acordo!
Como ja tinha dito aqui, o Toyoda é um dos meus realizadores favoritos! Boa estreia com o "Pornostar", depois a elevar mt o nivel com este "Blue Spring" e finalmente o maravilhoso "9 Souls", a mostrar um evolução fantastica! Com grande cuidado a nivel visual e tambem muita atenção às bandas sonoras consegue criar ambientes de grande intensidade! Sempre com excelentes argumentos a servirem de pano de fundo.
Sem dúvida um filme a não perder (e logo a seguir ver sem falta a sua pequena obra de arte -> "9 Souls")

Um dos filmes que mais aguardo este ano é exactamente o último dele "Hanging Garden"
ja falta pouco!!

p.s. ja agora, grande Matsuda!

2:52 da manhã  
Blogger Misato said...

Yuhuuuu! Mais um filme com Ryuhei Matsuda!

3:57 da manhã  
Blogger Sérgio Lopes said...

Tenho de o ver então. Se todos concordam com o nosso colaborador Bakemon, vou tentar arranjá-lo para o ver. Deve ser mesmo bom.

Cumprimentos,

Sérgio Lopes

10:57 da tarde  
Blogger Sérgio Lopes said...

Já o vi! E completamente de acordo com a crítica do nosso amigo Bakemon.

12:20 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Sem duvida um grande filme(tal como o "9souls"),acho fantastico a maneira como Toshiaki Toyoda pega na musica para dar muito mais impacto as cena e criar fabulosos momentos(final de "blue spring" e os minutos finais de "9souls" são uma grande amostra disso),Toyoda é sem duvida um dos meus ralizadores preferidos e tenho que lhe agradecer pelo seu bom gosto em bandas sonoras,porque so conheci Thee Michelle Gun Elephant e dip com os seus filmes e neste momento não consigo passar uns dias em que não os ouça.

Tenho pena de ainda não ter conseguido ver os filmes "Pornostar" e "Hanging Garden",o "pornostar" ainda tentei procurar dvd a venda e tal,mas era impossivel ate nos meios menos legais,mas parece que vai ser lançado finalmente em R1 dia 29 de Agosto,com o nome de "Tokyo Rampage" >__>,la vai mais um dvd para juntar aos outros 2 ^^,era bom se a new age pega-se nos filmes do Toyoda.

E tenho que concordar com o resto dos users,bela review Bakemon e grande Ryuhei Matsuda!

3:32 da manhã  
Blogger Daniê Kitsch said...

Yuhuuuu! Mais um filme com Ryuhei Matsuda![2]

*.*

12:42 da manhã  

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