terça-feira, junho 27, 2006

Samaritan Girl (Samaria)

Coreia do Sul, 2004, 95Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: Yeo-Jin é uma jovem adolescente que ainda vive com o seu pai, viúvo. A sua melhor amiga, Jae-Young, é prostituta. Yeo-Jin ajuda-a marcando os encontros com os clientes e vigiando a policia. Juntas mantêm o sonho de juntar dinheiro e fugir para a Europa. Mas um dia, Yeo-Jin comete uma distracão fatal e Jae-Young é apanhada pela policia, resultando daí um acidente com trágicas consequências. Jae-Young morre e Yeo-jin embarca numa espécie de viagem de redenção, aos clientes habituais de Jae-Young...

Crítica: Os heróis de Kim Ki Duk são antes de mais outsiders, não anti-sociais. Eles têm a crueldade inocente das crianças. Assim como o indivíduo que invade as casas desocupadas em 'Ferro 3', não para roubar, para nada, aliás; apenas para pernoitar, lavar a roupa, consertar aparelhos avariados e ir embora. Assim como o velho que mantém uma menina no barco em ‘The Bow’ até ela atingir a maioridade e casar-se com ele: ela inconsciente de que está a privar-se de uma vida lá fora, ele inconsciente de estar a causar algum mal a ela.

Em compensação, é de fora do universo fechado destes outsiders, da sociedade dita normal, que vemos um desfile de maldade: os pescadores que vêm pescar no barco do velho em ‘The Bow’ vêem malícia na relação da menina com o velho. Em 'Ferro 3': a mulher que é agredida pelo marido, o casal que se desentende mesmo em férias, os policias corruptos.

Em Samaria, duas amigas têm o sonho de juntar dinheiro, ir para a Europa. Uma delas prostitui-se, a outra tem certa repulsa por isso, mas não consegue se opor. Aqui entra a personagem outsider típica de Kim Ki Duk: a menina que se prostitui envolve-se com os seus clientes, interessa-se por eles e até mesmo sente prazer no seu ofício. Numa operação policial, acaba por se atirar pela janela e morre. A sua amiga, transtornada e culpada pela sua morte, resolve redimir-se da culpa tendo relações com os antigos clientes e devolvendo-lhes o dinheiro. Uma outsider, também ela.

Um outsider sozinho poderia ser motivo de desprezo, riso ou estranheza: aqui entra o génio de Kim Ki Duk. O pai da menina, detective policial, numa patrulha corriqueira, encontra a filha a prostituir-se. O outsider agora tem uma família que ele faz sofrer, a despeito da sua crueldade inocente ou inconsciente. O pai não consegue castigar a filha directamente, talvez por lhe reconhecer a inocência, a inconsequência, e passa a procurar os clientes dela e vingar-se neles. Mais uma vez a sociedade normal e doente: homens de família que saem com uma prostituta adolescente que poderia ser sua filha.

Incapaz de vingar-se directamente na filha prostituída, mas ao mesmo tempo incapaz de aceitá-la na sua hediondez, vemos o pai abandoná-la à própria sorte numa cidade distante, como um animal ferido (ele ou ela?), numa cena perturbadora. Impossível saber quem mais sofre: ela, abandonada, ou ele, abandonando-a. Não se trata, para Kim Ki Duk, de condenar ou criticar a sociedade - embora essa crítica naturalmente apareça. Trata-se antes de uma espécie de voyeurismo: Kim joga os seus outsiders no palco social, hostil a eles em geral, e observa o comportamento e as reações de ambos os lados.

Classificação: 8/10

Pedro Ayres

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não consigo visualizar o texto ;(

12:48 da tarde  
Blogger Sérgio Lopes said...

Problem solved! Obrigado.

Sérgio Lopes

7:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

o fim é realmente angustiante. qual deles sofre mais? sem saber que destino terão.

boa crítica, gostei da comparação com as outras personagens e a ideia de outsiders...

10:08 da tarde  
Blogger Sérgio Lopes said...

Eu n gostei do filme. Mas a crítica é fantástica, por isso a decidi postar aqui no cineasia. Muito bem dissertada...

Cumprimentos,

Sérgio Lopes

12:03 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

gostei tb mto dessa exposição sobre os outsiders do realizador... e da critica no geral... e do filme.

12:35 da tarde  
Blogger gonn1000 said...

O filme começa e acaba bem, o problema é o que está no meio, que é muito fraco.

4:59 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Este é (mais) um grande filme e um dos meus favoritos do mestre Ki duk.
Mais um grande exemplo da "violência psicologica" presente nos seus filmes, sobretudo naquele final brutal, que me deixou com falta de ar!
Só mesmo alguém com o génio dele para fazer 2 grandes filmes no mesmo ano!
2004 -> realizador do ano!

6:48 da tarde  
Blogger Sérgio Lopes said...

Eu tb n gostei muito do filme. Samaria e Bad Guy são 2 filmes do realizador algo confusos na narrativa e não se sabe muito bem o que ele pretende...

2:19 da tarde  

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