terça-feira, agosto 22, 2006

Kaze no Tani no Nausicaa (Nausicaä )

Japão, 1984, 116min

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Sinopse: Num mundo de uma ecologia distorcida, Nausicaa, a corajosa princesa do pequeno reino do Vale do Vento, esforça-se em manter pacificamente o instável equilíbrio entre uma natureza de desertos e florestas tóxicas habitadas por insectos gigantes e possíveis invasões de povos vizinhos. Mas o Vale do Vento é invadido, o pai de Nausicaa assassinado e, para poupar o seu povo de mais sofrimento, Nausicaa vê-se envolvida numa guerra inútil contra os insectos enquanto que a solução para uma vida melhor está mesmo debaixo dos seus narizes.

Crítica: Talvez o único filme de Miyazaki baseado numa manga do mesmo, este primeiro filme dos Estúdios Ghibli representa, desde logo, as preocupações principais do realizador: a ecologia e a sua paixão por máquinas voadoras. De todos os filmes dele, Nausicaa é o filme onde a temática da ecologia ocupa quase a totalidade do filme, imediatamente seguida de um modo pacífico de resolver conflitos face a um mundo em guerra.

As máquinas voadoras, tema quase sempre presente nos filmes de Miyazaki, têm aqui um papel vital tanto no desenvolvimento da história como na definição das personagens. O Mehve, as asas voadoras de Nausicaa, é o sonho de Ícaro concretizado. Todas as naves do povo do Vale do Vento têm um certo ar robusto mas prático, sendo o Mehve particularmente ágil e delicado. As naves dos Dorok, em contrapartida, são maiores, mais agressivas, escuras e cheias de apêndices. Fora o filme “Porco Rosso”, este é provávelmente o seu filme onde aparelhos voadores têm uma presença mais forte.

Mesmo ainda não tendo a exuberância de alguns dos filmes posteriores, de ser um filme mais comedido, a sua história é extremamente complexa e apaixonante. Parece que toda a indignação de Miyazaki pelo que os homens andam a fazer ao planeta Terra foi canalizada para este filme.

Nausicaa é uma rapariga fora do comum, mesmo para o seu povo que a adora, desde miúda que tem uma empatia especial com os Ohmu, uma espécie de reis da comunidade de insectos gigantes, e resolve sempre os conflitos com os insectos sem destruição nem morte. A sua paixão pelas florestas tóxicas, provocadas pelos esporos espalhados pelos insectos choca até o aventureiro Yupa, habituado às agrestes florestas. A oposição do carácter pacifista e ecologista de Nausicaa com o da Princesa Kushana, cruel, implacável e ambiciosa, é mais um demonstrativo da inutilidade da maioria das guerras e de como elas podem ser resolvidas, de forma pacífica, através de negociação e estudo.

Mesmo não sendo tão “de encher o olho” como a maioria dos filmes posteriores, este filme mostra-nos maravilhosas paisagens de desertos ventosos, o verdejante Vale do Vento e as Melancólicas florestas tóxicas. As cenas de acção, principalmente as aéreas, são feitas com uma mestria fora do comum e uma beleza deslumbrante.

Outros elementos clássicos de um filme de Miyazaki também já estão presentes, tais como céus muito azuis, águas límpidas e claras, campos verdejantes, personagens fortes, criaturas estranhas, velhotes com um ar de cara de couro curtido e uma excelente conjugação de momentos em que a história flui e outros mais contemplativos, mas perfeitamente integrados no contexto do filme.

Curiosamente os insectos são apresentados como mais umas vítimas do Homem, o ênfase não é posto em serem horrorosos ou nojentos, mas na demonstração de carácter e densidade psicológica. A certa altura damos por nós a torcer pelos Ohmu e não pelos cruéis Dorok.

Aqui temos uma prova (se é que haveria necessidade de haver provas) de que a animação para ser boa, densa, para adultos, com temas importantes e interessante, precisa essencialmente de um bom tema e de uma boa história aliadas a uma boa realização. A animação, como sempre nos Estúdios Ghibli é impecável e de um cuidado impressionante. O character design é fácilmente reconhecível como sendo um Miyazaki, não é particularmente belo, mas cada personagem e seus adereços são concebidos detalhe meticuloso.

Este é um filme intenso, profundo, cheio de conteúdo, dá que pensar, tem uma mensagem positiva sem ser moralista ou castradora e é muito bem feito de um modo comedido, sóbrio, mas eficaz e sem desperdício.

Classificação: 8/10

Misato

6 Comments:

Blogger Sérgio Lopes said...

Mais uma brilhante crítica da Misato ao que parece ser mais uma obra-prima de Miyazaki!

12:46 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Este foi o primeiro filme que vi do mestre Miyasaki. Foi amor à primeira vista. Maravilhoso!

11:14 da manhã  
Blogger Kitato said...

Lá está. Há realizadores que marcam. O Miyasaki é um deles, é o "the special one" do cinema de animação. Por acaso, Nausicaa foi a última princesa Ghibli que descobri, já depois da igualmente apaixonada justiceira Mononoke (tb com evidentes preocupações ambientais, tb com amigos muito especiais). Este Vale do Vento faz-me sempre lembrar as corridas de Conan (o rapaz do futuro), o seu arpão, a Lana e o Jimsy, as máquinas voadoras da cidade industrial, a guerra predominante, a esperança.

3:50 da tarde  
Blogger Kitato said...

mea culpa Miyazaki (e não Miyasaki)

3:53 da tarde  
Blogger Starfox said...

Gosto muito mais do Takahata, mas não posso ficar também indifrente ao génio consciente do Miyazaki.

1:59 da tarde  
Blogger Sérgio Lopes said...

Tato: Realmemnte Miyazaki é um mestre da animação.

Starfox: Mas Isao Takahata também não lhe fica atrás. Basta por exemplo, o magnífico "Grave of The Fireflies"

12:09 da manhã  

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