sábado, setembro 02, 2006

Hanging Gardens (Kûchû teien )

Japão, 2005, 114Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: O casamento de Eriko e Takashi está-se a desmoronar e não têm relações sexuais à mais de 5 anos. Takashi preenche esse vazio com inúmeras amantes enquanto a sua esposa finge que tudo vai correndo bem e se sente feliz. Os filhos seguem o mesmo caminho de pretensa honestidade, mas escondendo um lado negativo não tão visivel na sociedade japonesa contemporânea...

Crítica: “Por babilônias, entre falsa gente. Entre tristezas mil e mil perigos. De tantos vícios ver, vi-me demente!” Foi desta forma que Eugênio de Castro descreveu a lendária civilização babilônica. Não deixa de ser uma tarefa razoavelmente fácil traçar a milenar Babilônia, com esta estrofe português do começo do século 20 e o nosso dia-a-dia. Afinal, é impossível não perceber na sociedade de hoje, vícios, costumes e hábitos que tornaram famosa aquela civilização. É justamente isso que Toshiaki Toyoda procura expor no seu mais recente filme, “Hanging Garderns”.

Nele, Toyoda cria uma alegoria onde expõe os podres desprovidos de vergonha ou de moral de uma família japonesa que rompem a maquilhagem de uma hipocrisia comandada firmemente pela figura de uma mãe, que em nome da felicidade e da honra da família, faz das suas acções a busca de uma felicidade descrita nos imaginários manuais de como criar uma família perfeita. A família em questão são os Kyobashi, que apesar de todas as dificuldades de uma família de classe média, mora num belo condomínio de uma bela cidade onde tudo parece perfeito e pintado à mão. A perfeição entre quatro paredes é conseguida por intermédio da regra de não esconder nada entre eles. E assim, nada é suficientemente embaraçoso ou vergonhoso que não possa ser discutido abertamente.

É praticamente um retrato de uma família moderna e exemplar que Toyoda desmancha caprichosamente, tornando-a vazia e insípida deixando-se misturar num denominador comum que conhecemos. Como em todas as famílias, os defeitos e as malezas são camuflados e deixados por baixo do tapete, transformando o quotidiano num festival de hipocrisia e de atitudes patéticas. Camuflagem que podemos entender com uma frase da mãe: “O Meu sorriso é para proteger a minha família”. Ou por meio de regras e atitudes inusitadas como só a mãe ter a chave da casa, pois não quer encontrar um lar vazio e assim, sentir o sabor amargo da solidão.

Por trás dessa fantasia de certa forma infantil, todos caminham entre seus segredos diante de suas sombras. A começar pela mãe, passando pelo pai que a trai com as suas amantes; a filha que falta às aulas e não controla sua libido e começa a ganhar um dinheiro com pequenos programas; o filho que tem como tutora uma das amantes de seu pai etc. Mas o que Toyoda discute mesmo é o que se faz e como juntar as peças novamente quando tudo isso é colocado em cima da mesa diante da regra onde nada pode ser escondido e se considerado tabu? Apesar de traçar um paralelo simbólico e visual com a antiga Babilônia e fazer com que o filme soe como uma crítica a actual sociedade japonesa, Toyoda acerta em não tomar parte e nos impôr o que é certo ou que é errado. Deixando tal julgamento para cada um de nós, e assim entendê-lo de acordo com as nossas próprias experiências ao olhar para os nossos próprios lares.

Apesar de tudo isso, o filme não tenta ser pessimista. Pelo contrário, deixa-nos uma mensagem de optimismo na belíssima e emocionante cena final numa pílula auto-analítica de redenção e de renascimento. Tecnicamente, o filme é novamente estupendo e fabuloso. O trabalho de câmera milimétrico de Toyoda novamente sintetiza sua sensiblidade em montar imagens únicas. Às vezes densa, como em “Blue Spring” e às vezes harmoniosa, como em “Nine Souls”, ajudando a entrelaçar uma poesia instigante e pulsante. E outras vezes, trabalha como se fosse os nossos próprios olhos, vagueando curiosamente como um voyeur entre jardins e comportamentos babilônicos.

Com “Hanging Gardens”, Toyoda conseguiu fazer mais uma maravilha do cinema contemporâneo japonês, provando novamente porque é um dos nomes de sua geração mais celebrados do cinema daquele país. Poucos conseguem aliar técnica, inteligência, sensibilidade, humor e um discurso social como ele. Toyoda mostra a sua força!

Classificação: 9/10


Ric Bakemon

2 Comments:

Blogger fernando_vilarinho said...

anotei.
a melhor obra até ao momento de Toyoda.

11:23 da tarde  
Blogger Sérgio Lopes said...

Depois de ter visto o brilhante Blue Spring, Anseio por Hanging Gardens.

9:29 da manhã  

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