quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Paradise Now

Palestina/Alemanha/França/Holanda/Israel, 2005, 90Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: Dois jovens amigos palestinianos, Khaled e Saïd, são recrutados para cometerem um atentado suicida em Telavive. Após a última noite com as famílias, sem se poderem despedir, são levados à fronteira com as bombas atadas à volta do corpo. No entanto, a operação não corre como esperado e eles perdem-se um do outro. Separados, são confrontados com o seu destino e as suas próprias convicções... O filme realizado em Nablus traz-nos uma visão interior das vidas normais de pessoas em condições desesperadas.

Crítica: Num período em que o conflito entre Israel e a Palestina gera notícias constantes em grande parte dos telejornais, devido aos cenários de tensão quase diária, as abordagens cinematográficas centradas nesta temática começam também a evidenciar-se. Foi o caso do interessante "Syriana", de Stephen Gaghan, ou do soberbo "Munique", de Steven Spielberg, e é também o de "O Paraíso, Agora!" (Paradise Now), que ao contrário dos anteriores não nasce em Hollywood mas da iniciativa do palestiniano Hany Abu-Assad.

Alvo de consideráveis distinções a nível internacional - Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, nomeado para os Óscares na mesma categoria e premiado no Festival de Berlim, entre outros -, o filme poderia ser um dos que se torna foco de atenção mais pela relevância da temática e boas intenções da sua "mensagem" do que pela abordagem que propõe e méritos cinematográficos, mas felizmente Abu-Assad oferece aqui uma prova de sensibilidade e inteligência, suscitando a reflexão sem se tornar estridente, maniqueísta ou oportunista.

Alicerçado na recruta de dois jovens amigos palestinianos para a realização de um atentado suicida em Telavive, "O Paraíso, Agora!" mergulha nas inquietações que levam a que cidadãos comuns se transformem em terroristas, evitando o sensacionalismo de algum jornalismo e surpreendendo pela contenção com que trabalha questões tão controversas.

Aqui as personagens não são meros instrumentos que se limitam a debitar posicionamentos políticos e morais (embora estes sejam discutidos), antes figuras complexas e credíveis que o filme explora com genuína densidade emocional, nunca abdicando da dimensão humana. A direcção de actores é, por isso, decisiva, e se todos são verosímeis é obrigatório destacar Kais Nashef, brilhante na pele de Saïd, o denso e circunspecto protagonista, muito longe dos lugares-comuns a que são associados muitas vezes os agentes suicidas. Notabilizando-se com uma das mais subtis interpretações do ano, Nashef cativa pelo seguro underacting, cujo olhar desencantado traduz todas as contrariedades de um quotidiano pouco esperançoso.

Os perigos do dia-a-dia dos palestinianos foram, de resto, testemunhados pela própria equipa do filme, que durante a rodagem em Nablus lidou com alguma desconfiança de parte da população local e reflexos dos ataques dos mísseis israelitas, o que levou a que elementos da equipa alemã desistissem ao fim de poucos dias.

Pertinente e corajosa, "O Paraíso, Agora!" é uma das melhores obras a estrear em salas nacionais em 2006, despertando o espectador sem cair no pretensiosismo de um filme de tese nem apostando em rodrigunhos fáceis e moralistas. Uma das boas propostas cinematográficas a descobrir, com um olhar diferente sobre um contexto com tanto de conturbado como de actual.

Gonçalo Sá

5 Comments:

Blogger C. said...

Gostei muito deste filme e até o coloquei no meu top de 2006. Surpreendeu-me pela inteligência e pela abordagem a um tema tão delicado!

2:53 da manhã  
Blogger Museu do Cinema said...

Esse filme é impressionante porque nos mostra o lado que para nós era um grande buraco negro.

Vale a pena como filme, e ainda mais como informação.

1:13 da tarde  
Blogger gonn1000 said...

Wasted Blues: Também consta do meu, foi uma bela surpresa.

Museu do Cinema: Concordo, pena ter passado um pouco despercebido.

8:09 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Filme excelente,
onde procura-se monstrar o lado do qual não obtemos conhecimento,e deixando bem claro a proporção do conflito em que Kalhed e Said vivenciam, fazendo-nos pensar um poucos mais sobre determinada ações.

9:47 da tarde  
Anonymous Maria Clara said...

Ainda tenho uma dúvida em relação ao final do filme que para mim não ficou bem claro, Said aciona a bomba ou ele fica vivo no final do filme?

11:46 da manhã  

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