quarta-feira, março 14, 2007

Cure (kyua)

Japão, 1997, 111Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: Pessoas aparentemente normais (um professor, um policia, uma médica), após manterem contacto com um homem, Mamiya (Masato Hagiwara) que parece sofrer de amnésia, matam os seus entes mais próximos cortando-lhes as artérias carótidas e marcando-os com um x do pescoço até o peito. O detective Takabe (Kôji Yakusho) será o responsável pela investigação tentando encontrar a razão das ocorências bizarras...

Crítica: Kiyoshi Kurosawa (sem qualquer ligação directa com o mestre Akira Kurosawa) é um cineasta prolífico, lançando cerca de dois a três filmes por ano desde 1983, sendo um dos valores seguros da nova vaga de realizadores Japoneses. Foi justamente com Cure que crítica e público europeu e norte-americano começaram a prestar atenção ao seu trabalho, graças à passagem do filme pelos vários festivais de cinema mundiais, elevando Kiyoshi ao estatuto de autor. A sua principal característica é o uso do sobrenatural de uma forma invulgar levando a uma certa subversão do género, abordando-o de uma maneira muito própria.

Assim, Cure, não é um filme de terror, mas sim um thriller, de contornos sobrenaturais. A nível comparativo, podemos afirmar que Cure é um thriller nos moldes de Se7en, no qual, polícia e assassino (?) criam uma espécie de empatia invulgar. No entanto, a abordagem de Kiyoshi Kurosawa é bastante diferente da de David Fincher e o cineasta japonês baseia toda a narrativa no confronto psicológico entre a mente doentia de Mamiya e a aparente racionalidade do policia que tenta descortinar a origem dos crimes.

E tal como em Se7en, em Cure, há de novo um verdadeiro tour de force entre dois homens, dois grandes actores japoneses, ambos com performances tão incriveis e uma empatia tal, que chega a assustar de tão realista. Mamiya é um pobre coitado que parece sofrer de amnésia. Cada pessoa que tem contacto com ele, aparentemente comete um crime. Mamiya responde sempre às perguntas com uma outra pergunta; è um personagem aterrador, perturbante na forma como manipula e controla as mentes humanas, enigmático e poderosamente interpretado por Masato Hagiwara.

Por outro lado, Takabe é o polícia racional. No entanto, a sua própria esposa sofre de uma doença mental. Vive num emprego onde cria os seus próprios demónios e quando chega a casa o cenário não é o melhor. Será que a sua sanidade mental estará intacta? Kôji Yakusho (recentemente visto em Babel) é Takabe numa performance que tem tanto de carismática como de poderosa. Os dois vão criar uma relação tão próxima quanto perigosa...

Para além da absoluta perfeição no casting, Cure mascara o género thriller apostando no tema do hipnotismo e do poder da sugestão e é exactamente por aí que cativa a audiência. Grande parte do mérito vai para Kurosawa, que escreve e realiza Cure, pegando numa temática insólita e perigosa, redige um argumento perfeito e apresenta uma gestão da narrativa notável, onde cada cena é genuinamente misteriosa e intensa. Utilizando longos planos-sequências, com elaborados enquadramentos, os contrastes entre claro e escuro e o uso de cinzentos saturados , longos silêncios, locais desertos e isolados, a quase ausência de música, Cure respira um ambiente de tensão constante, quase hipnótico.

Cure não se trata de um filme de terror, embora possa encaixar seguramente nas grandes obras de terror psicológico. O final do filme deixa algumas pontas soltas, por isso, é preciso estar muito atento ao úkltimo frame do filme (mesmo, mesmo o último) para tentar perceber o que Kurosawa pretende transmiitir. Kiyoshi Kurosawa tem em Cure a sua grande obra-pima, um thriller criminal perturbante, completamente original e que mexe com o espectador. Há pouco sangue e gore, mas ninguém consegue ficar indiferente e afectado pela atmosfera desconfortável de Cure. Altamente recomendável!

Sérgio Lopes

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

bom dia, trabalho na Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, e gostaria de saber o endereço de e-mail deste blog. Tem uma certa urgência...
Pode responder para nunotinoco@vilanovadefamalicao.org
Muito Obrigado

10:45 da manhã  
Blogger Sérgio Lopes said...

Boas Nuno. Envia por favor para sergioaclopes@clix.pt

Melhores Cumprimentos,

Sérgio Lopes

6:59 da tarde  
Anonymous Ticiano said...

O filme é espetacular. Pena que dificilmente o veremos em dvd por aqui.
Vale indicar a sugestão mística do diretor para o personagem "sem memória". Para Krishnamurti o ego é memória e na tradição budista há um tipo de meditação em que o sujeito se pergunta sistematicamente "quem sou eu" e nunca se contenta com a resposta, que lhe indica apenas seus papéis.
É o que faz o homem "sem memória", ou sem ego. Pergunta "quem é vc" e não se contenta com a resposta, repetindo-a até perturbar o interlocutor, as vezes até à exasperação. O homem sem memória seria um iluminado? É uma sugestão que percebi no filme. Geniais e engraçados os diálogos. Ele pergunta: 1"quem é vc?" 2"fulano de tal" 1"quem?" 2 "fulano de tal". Depois de uns 5 segundos: 1"Mas quem é vc?" Como se perguntasse: vc acredita mesmo que é isso?
Inspirador.

4:54 da tarde  

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