sábado, março 03, 2007

RAN

Japão, 1985, 160Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: No Japão feudal do século XVI o chefe da família Ichimonjis, lorde Hidetora, decide dividir os seus bens entre os três filhos e afastar-se do cargo. O único filho que se mantém fiel ao pai é banido pelos demais irmãos. Porém não demorará muito para que a cobiça e a ganância tome conta deles...

Crítica: É complicado dissertar sobre qualquer obra de Kurosawa, um dos principais realizadores de todos os tempos. Ao mesmo tempo que falar sobre ele assusta, pois é uma considerável responsabilidade, sendo simultaneamente desafiador e fascinante conhecer melhor p seu trabalho. A adaptação da famosa obra de Shakespeare, King Lear, levou cerca de 10 anos para ser produzida. Mas valeu a Kurosawa por Ran a nomeação para o Oscar na categoria de Melhor Realizador.

Ran significa literalmente loucura e\ou caos. Hidetora, personagem muito bem interpretado por Tatsuya Nakadai, mergulha na insanidade depois de uma série de ocorrências, deixando a maioria dos seus bens para o seu primogénito, Tora (Akira Terao), mas exige manter o seu título, morar no castelo com algum deles e manter 30 dos seus homens. Acontece que a mulher de Tora procura a vingança pela morte da sua família, chefiada por Hidetora, e manipula o marido para tomar as rédeas do feudo. Vivendo na fantasia de seu ex-império, o lorde enlouquece cada vez mais, enquanto os seus filhos começam a lutar por causa das terras e pelas posses do império outrora do pai...

Um dos pontos mais apelativos em Kurosawa é a forma, a riqueza de detalhes com que representa a cultura do seu país. Há outros exemplos, como Walter Sales quando tratou da triste realidade do nordeste do Brasil em Central do Brasil e Abril Despedaçado ou Juan José Campanella quando fala da crise que assolou a Argentina em meados de 2000 em El Hijo de la Novia e Luna de Avellaneda. São alguns exemplos de realizadores que têm muito cuidado com os detalhes, mas apesar da qualidade de ambos nenhum se compara com Kurosawa.

E Ran, não foge è regra; toda a primazia técnica está presente em cada frame da obra, seja na adaptação do argumento, enquadramento, desenvolvimento de personagens e até mesmo no figurino. A sua habilidade como editor também é excelente e merece destaque. Uma pequena prova disso contrasta entre a cena inicial e final: na primeira os belos campos verdes acompanham o céu enquanto que na segunda o céu está vermelho, desolado, com a pequena silhueta do personagem ao fundo. Um exemplo de cinema perfeito.

Outra facto que impressiona é o tempo que o filme levou para ser concluído e um dos grandes motivos do atraso foi o de o realizador estar com a visão bastante debilitada (os diversos storyboards produzidos foram essenciais). Outra razão é que Kurosawa nunca conseguia obter capital suficiente para fazê-lo (para se ter uma ideia da dimensão da produção, um castelo de verdade foi construído para as filmagens) até que Serge Silberman, francês que produziu com Luís Buñuel Le charme discret de la bourgeoisie e Le fantôme de la liberte, financiou o restante da produção.

São poucas as adaptações que fazem jus à obra original. Infelizmente não li a obra de Shakespeare, Ran é considerada de forma unânime, como a adaptação mais fiel e próxima. Tal como Kubrick, é difícil achar algum filme mau de Kurosawa e Ran - Os Senhores da Guerra é seguramente um dos melhores. Trata-se de um épico em grande escala vencedor do óscar para melhor guarda-roupa e nomeado nas categorias de melhor direcção artística, fotografia e melhor realizador. Cada plano é cuidadosamente planeado e filmado, sendo visualmente arrebatador. Um trabalho de extema criatividade de um dos mestres de sempre do cinema.

Marcus Vinicius

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ganhar ou nao um Oscar - quando tantas obras medíocres, que caíram no esquemento, ganharam um, nao me parece um indicador da qualidade de um filme. enfim...

10:54 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home