quarta-feira, maio 09, 2007

Indie Lisboa 2007 - Análise

Esta edição do Indie Lisboa pode se considerar uma edição vencedora para o cinema asiático. Para além da extensa, inédita na Europa e quase completa retrospectiva de Shinji Aoyama, com a exibição de 14 filmes do realizador, entre os quais o último “Korogi” (“Crickets”), ainda houve uma vasta exibição de filmes asiáticos, contando entre eles alguns vencedores (“Love Conquers All”, Malásia, “Kiyumi to Sayuri”, Japão e “Adults Only”, Malásia) mas também “Exiled”, de Johnnie To, Hong Kong e “Opera Jawa”, Indonésia, entre muitos outros.
Tal como em edições anteriores, é físicamente impossível assistir a tudo, portanto, para além dos filmes premiados, não me foi possível ver parte dos filmes, nomeadamente de Shinji Aoyama e o último de Takashi Miike, “Big Bang Love, Juvenile A”. Dentro do que me foi possível ver, as surpresas foram muitas e as desilusões poucas, sendo uma delas “A Scanner Darkly”, o muito falado filme de Richard Linklater onde as personagens interpretadas por Keanu Reeves, Winona Ryder, entre outros, são animadas por cima, adoptando um grafismo de banda-desenhada, mas efeito esse que se tornava enervante desviando a atenção para o resto do filme. “Exiled” também foi, para mim, uma desilusão, sendo apenas mais um filme de gangsters de Hong Kong, com a variante de que, desta vez, se passava em Macau. É um bom filme para quem viveu ou é de lá e quer matar saudades.
Entre as muitas surpresas contam-se “Viva”, um divertido filme em que se recria o universo dos filmes de Russ Meyer e John Waters, realizado por uma mulher multifacetada que para além de protagonizar o filme, também toca música, entre outras funções. Outra surpresa foi “La Antena” um filme Argentino que é uma homenagem a filmes do expressionismo alemão e russo com uso pleno das novas tecnologias, aliado a uma história comovente. Destacaria também “Forever”, Holanda, “China, China” de João Pedro Rodrigues, “Analog Days”, Estados Unidos, “Electroma”, Daft Punk, “Herbie Hancock’s Possibilities”, Estados Unidos, e “Cuidado, as portas vão abrir”, Rússia, “Papá Lobo”, Coreia do Sul e “Um dia de sol” da secção ‘Indie Júnior’.
Shinji Aoyama, Herói Independente
Os filmes de Shinji Aoyama são muito variados, passando pelos mais diversos géneros. Segundo o próprio, exceptuando o terror, que talvez aborde em breve, por causa de uma promessa que fez a Kiyoshi Kurosawa, de que não faria filmes de terror enquanto o amigo os fizesse. Mas algo em comum se pode achar nos filmes de Aoyama, a temática da morte e do amor. Apesar desta temática constante os filmes dele acabam sempre bem, não propriamente com um final feliz, mas com as personagens a conseguirem conviver com os problemas que se lhes colocaram ao longo da narrativa de um modo bastante saudável.

São filmes com um ritmo lento, compassado, mas que nos dão tempo para prestar atenção aos pormenores que, de certa forma, compõem as personagens e a situação. Ao contrário de Kiyoshi Kurosawa, Shinji Aoyama não aposta tanto na imagem, preferindo cenários naturalistas com uma fotografia de cores pouco saturadas. Por outro lado as bandas-sonoras são rigorosamente pensadas, tanto nas ambiências que geram como nas letras das eventuais canções, que aparecem, na grande maioria, apenas nos genéricos finais. Outra característica comum nos filmes dele são as histórias e personagens completamente insólitas em situações aparentemente normais e naturalistas, aliadas a um humor muito japonês, talvez pouco acessível ao público ocidental.

Dentro do que me foi possível ver, destaco “Mike Yokohama: Forest With no Name”, simplesmente uma delícia, a participação de Seijun Suzuki em “Embalming” e a alusão ao Sebastianismo em “Korogi”.

Shinji Aoyama é um fã do cinema português, encontrando-se entre os seus realizadores preferidos Manoel de Oliveira (ele aspira poder filmar até aos 100 anos à sua semelhança), José César Monteiro e Pedro Costa. Fascinado com “O Estado das Coisas” de Wim Wenders, ele teve pena de não ter sido possível visitar as Azenhas do Mar, durante a sua estadia, mas garante que o fará em breve, quem sabe se quando algum dia fizer um filme por cá.

Este ano o ‘Indie Lisboa’ voltou à sua sala original, o Cinema São Jorge, aliando-se esta ao grupo da Av. de Roma, o Fórum Lisboa, King e Londres. Esta adição teve a vantagem de haver mais salas, possibilitou as ‘Lisbon Talks’ e as sessões de filmes com música ao vivo. A desvantagem foi que, apesar da existência do ‘Indie Bus’, o facto de ser de hora-a-hora, não facilitava assim tanto as deslocações entre avenidas e sessões. Outra desvantagem foi a opção de os fins-de-noite também acontecerem no São Jorge, sala que tem mais condições para o fazer, mas que limitou o convívio das pessoas envolvidas no festival já que a maioria se encontrava centrada na Av. de Roma, tanto os profissionais como o público. Estas desvantagens continuam a ser apenas pontuais, pequenos erros a corrigir, num festival que está a crescer e que ainda tem muito para dar. Só a possibilidade de poder ver alguns filmes que nunca serão exibidos comercialmente e muito provávelmente nem terão edição em DVD disponível por cá, é de ouro e de aproveitar.