segunda-feira, junho 04, 2007

Kamikaze Taxi


Japão, 1995, 170Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: Um jovem yakuza procura vingança quando a sua namorada prostituta morre após uma sessão com um poderoso político japonês com um gosto especial por tortura. Inicia então uma missão 'kamikaze' para fazer justiça... pelo caminho encontra um taxista recentemente regressado ao Japão após ter vivivido na América do Sul e que luta contra a pobreza.

Crítica: Com certeza você já ouviu falar do termo “dekassegui”, que designa os brasileiros descendentes de japoneses que vão ao Japão para tentar uma vida melhor. Essa foi uma palavra literalmente inventada no Brasil, mas que ganhou força internacionalmente; sendo hoje incorporada até no vocabulário do Japão. Mas, deixando aspectos linguísticos de lado, e voltando ao lado mais socioeconômico, o assunto ganha uma dimensão cada vez maior no Japão na medida em que o país não consegue sair da recessão de mais de uma década e na medida em que o número de dekasseguis aumenta. Aos poucos, eles vão se incorporando na cultura japonesa invadindo até as telas de cinema.

Caso típico é o filme “Kamikaze Taxi”. Poderia ser simplemente mais um dos milhares de filmes sobre a Yakuza, se não tratasse exatamente desse assunto. O filme começa como um documentário, que serve para posicionar historicamente o espectador, lembrando até o estilo de Kinji Fukasaku em “Battle With Honour and Humanity”. Além de citar factos históricos e entrevistar dekasseguis, o realizador afirma que há 150 mil “estrangeiros” que abandonaram os países de criação e retornaram ao Japão como cidadãos de segunda classe; existem 90 mil Yakuzas; e o país tem uma quantidade de políticos corruptos além do desejado. E que, às vezes, esses grupos se cruzam. É o que ocorre nesse filme.

Tatsuo (Tatsuya Takahsahi) é um aspirante a Yakuza que recebe sua primeira missão: recrutar garotas de programa para o corrupto senador Domon (Naito Taketoshi). Para essa tarefa, leva sua amante e a colega Tama (Reiko Katayama). O senador Domon, ex-kamikaze, é um típico político japonês que vê na retórica nacionalista e no orgulho pós-guerra o seu combustível eleitoral e de crítica a grupos contrários. No encontro, Domon acaba matando a amante e ferindo Tama. Após escapar, Tama conta a Tatsuo que Domon mantém uma boa quantia de dinheiro escondida em um vaso em sua casa. Ambicioso e com um sentimento de vingança, Tatsuo reúne alguns amigos e roubam a casa do senador.

O que parecia ser uma missão de sucesso, acaba virando um pesadelo. O clã da Yakuza protegido por Domon descobre a traição de Tatsuo e vai atrás do bando. Todos os amigos de Tatsuo são mortos impiedosamente. Ele consegue escapar e acaba contratando um taxista para levá-lo a Tóquio para se vingar do clã. O taxista é justamente o dekassegui Kantake Kazumasa (Koji Yakusho), que saiu do Japão quando criança e imigrou para o Peru, e que retornara ao Japão para tentar ganhar a vida com taxista. Kantake — que guarda consigo um grande segredo — é um típico dekassegui: retraído e com muita saudade de casa. É ainda semi-analfabeto na língua japonesa e constantemente pede ajuda a seus passageiros para identificar ruas num guia.

Durante a viagem, o cineasta Masato Harada expõe o mundo da Yakuza e dos dekasseguis num simples táxi, fazendo um confronto entre os dois mundos aparentemente incongruentes. Tatsuo é um típico jovem japonês, que através da geografia, expõe a sua ignorância e indiferença pelo mundo fora do Japão. “Não é na União Soviética?”, pergunta sobre a localização do Peru. Kantake, por sua vez, tenta compreender o mundo da honra e da fidelidade presente na sociedade japonesa e se mantém fiel a seu passageiro, mesmo sabendo que ele é um Yakuza jurado de morte. Aos poucos, os dois vão entendendo o mundo do outro e vão descobrindo que as afinidades entre eles são bem maiores do que pensavam, criando uma relação, ao mesmo tempo, amistosa e estranha. Mas o melhor do filme fica para o final surpreendente e extremamente pesado e crítico.
Enfim, o filme expõe de forma escancarada o problema da imigração e sua relação com a sociedade japonesa a diferentes níveis. Fica registado que a trilha sonora é totalmente composta por músicas típicas dos Andes e, durante os créditos, são mostradas fotos de habitantes da região, numa clara homenagem do diretor ao povo andino. Estamos diante de um belíssimo filme de três mundos diferentes: Yakuza, dekasseguis e políticos; e, como diz o filme, às vezes eles se cruzam...

1 Comments:

Blogger ekalafabio said...

Tive o prazer de ver este filme. Comprei barato o VHS no centro de São Paulo, por causa da pela capa, e tive uma supreza. Raras vezes a violência foi tão bem usada para passar um ensinamento.

7:43 da tarde  

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