segunda-feira, março 27, 2006

Joint Security Area (Guangdong Gyeongbi Guyeok)

Coreia do Sul, 2000, 110Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Elevar questões políticas ou ideológicas acima de relações humanas mostra o nível de ignorância atingida por sociedades aparentemente diferentes na sua ideologia, mas que compartilham muita coisa em comum, como a raiva, o orgulho e a indiferença, até mesmo quando esses sentimentos caminham para o lado da amizade. Isso parece ser a ideia central apresentada pelo cineasta sul-coreano Park Chan Wook no seu segundo filme, “Joint Security Area” (2000).

Joint Security Area ou Panmunjon é uma área neutra criada em 1953 após o fim da Guerra da Coreia. Essa área é formada por duas paralelas entre as duas Coreias de cerca de 1km de diâmetro adiministrada por organismos internacionais neutros que procuram manter a tranquilidade na região.

O filme, baseado no livro de Park Sang Yeon, “DMZ”, começa com um incidente no lado norte da fronteira. Numa fatídica noite, tiros são disparados na guarita de segurança da Coreia do Norte. O facto envolve militares dos dois países e termina na morte de dois soldados e um ferido do lado norte e outros dois do sul feridos. Como não poderia deixar de ser, a tensão na região chega próxima ao limite, obrigando uma força neutra a investigar e esfriar os ânimos. A militar sueca de descendência coreana Sophie Jang (Lee Yeong-ae), é enviada à região para tentar solucionar o caso.

Claro que ela encontra um cenário pouco favorável a qualquer tipo de investigação. Movidos pelo orgulho e pela ideologia, cada lado apresenta a sua versão do facto, mostrando pura e simplesmente a inimizade entre os dois países, onde a acusação mútua é o único discurso em comum. Enquanto o lado sul, afirma que os seus soldados foram vítimas de um sequestro, o lado norte acusa o inimigo de ter invadido seu território. Além dessa retórica banal já esperada, os envolvidos tentam, claramente, esconder detalhes imporantes no caso, tornando os seus testemunhos extremamente frágeis e sem nenhuma credibilidade, fazendo disso um processo stressante e traumático.

Mas apesar da desconfiança dos dois lados, Sophie apresenta as suas armas e vai montando um complexo quebra-cabeças que vai além dos factos narrados. Chan-Wook traduz isso em imagens de flashbacks que aos poucos vão apresentando os verdadeiros acontecimentos. Essas imagens mostram um crescente laço de amizade entre dois soldados do sul com outros dois do norte, todos encarregados pela vigilância. Essa amizade fortalece apesar de todas as diferenças ideológicas e culturais. Aos poucos, vão descobrindo que eles têm muita coisa em comum; que são todos seres humanos movidos pelos seus problemas ou pelas suas alegrias.

Mas a coisa não é assim tão simples. O filme mostra que qualquer laço de amizade é apenas um frágil fio que se rebenta com enorme facilidade ao primeiro sinal de tensão. Park Chan Wook apresenta isso de maneira magistral, deixando que as cenas de amizade entre os soldados não soem como algo forçado. Pelo contrário, todo esse relacionamento fica em segundo plano, deixando em evidência o nervosismo e a tensão entre os dois países, representado na figura desses quatro soldados, onde os seus instintos de sobrevivência e de obediência falam mais alto. Um simples olhar mais torto, um descuido qualquer, um movimento em falso é algo capaz de iniciar uma disputa. É por isso que fica a tese que essas questões políticas se sobrepõe a qualquer lado mais humano.

Esse cuidado — ou a precaução política — também se traduz na visão de Chan Wook em transpor essa problemática coreana de maneira mais imparcial possível. Em todo o filme, ele procura se manter neutro. No filme, essa neutralidade é colocada em cheque na figura da major Sophie Jang, que ao decorrer do filme, descobre um segredo envolvendo seu pai, que havia lutado da Guerra da Coreia.

O resultado é um belíssimo filme que questiona até onde as semelhanças entre as duas coreias podem influenciar e diminuir as diferenças que hoje dividem os dois países. No final, o filme é a produção mais política e ao mesmo tempo pacifista do realizador. Ele aborda um tema que era considerado um tabu anos atrás e que hoje vai se tornando um tema mais popular entre os coreanos. Resultado: mais filmes começam a tocar no assunto como “Shiri” e “Tae Guk Gi”. Vale a pena visualizar e produz alguns momentos de reflexão.

Classificação: 8/10

Rick Brakemen

4 Comments:

Blogger Nic said...

Rick,
desculpa-me mas vou ter que criticar a tua critica:

Como critica, adiantaste demasiados promenores do enredo. Isso deve-se evitar para o caso de haver leitores interessados em ver o filme sem lhes ter sido revelado todo o enredo.

Julgo que o filme quis mostrar que em ambos os lados, estao o mesmo povo, separados por estrategemas criados pelos ocidentais que desconhecem o povo em questao!

A JSA nao tem 1 km de diamentro, pois nao e' uma circunferencia. Cerca de 1 km, e' a distancia que separa as duas fronteiras e nao e' administrada por organismos internacionais neutros, e'-o sim por americanos e sul-coreanos e a funcao e' de manter a paz armada entre as duas corieas.
No filme os neutros eram suicos e investigadores dos acontecimentos.

Se bem me lembro, a Sophie Jang era suica e nao sueca e a investigacao passa-se apenas no lado do sul.

Os ultimos teus 3 paragrafos teriam sido suficientes feito uma boa critica.

desculpa-me de ter sido critico em relacao ao teu texto, mas apenas o fui com o intuito de corrigir alguns erros.

ja agora, para quem tiver interesse, uma boa critica com enquadramento historico, on line aqui:

http://www.mediacircus.net/jsa.html

3:18 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá, Nic. Obrigado pela sua crítica. Não quero justificar os pontos levantados, mas escrevi o texto um bom tempo depois de ter visto o filme. Esse período, bem como a tradução do coreno para o inglês (meu DVD é tailandês) podem ter gerado esse ruído. Mas essas suas correções são bem-vindas.

5:30 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Como sempre Park com um excelente argumento,bela fotografia, uma engenhosa montagem e um cast fabuloso!!(lee, shin, song....k luxo!) O resultado é um filme intenso (como sao todos os que abordam a temática das Coreias) e sem dúvida a nao perder.

p.s. ja agora mais uma correcção: o Shiri é anterior ao JSA

8:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Pena que nao tem tradução em português

7:36 da tarde  

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