sábado, junho 24, 2006

Happy Together (Chun guang zha xie)

Hong-Kong, 1997, 96Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: Ho Po-Wing (Leslie Cheung) e Lai Yui-Fai (Tony Leung) saem de Hong Kong em direção à Argentina, em busca de um trabalho e uma vida melhor. Eles querem chegar às Cataratas do Iguaçu, desejo que representa acima de tudo um novo recomeço para o ora calmo, ora turbulento romance entre eles. De nada adianta, já que o comportamento instável e volúvel de Fai só causa mais dor em Wing. A chegada de um outro nativo de Hong Kong, o heterossexual introspectivo Chang (Chang Chen), fará com que Wing pense em retornar à sua cidade natal e definitivamente abandone Fai à sua própria sorte.

Crítica: Exílio, deslocamento, ausência, nostalgia. Algo a ser contado sobre Hong Kong, ou sobre possivelmente, Buenos Aires. Maio de 1997. Meses antes de a ilha passar pelo processo histórico de transferência de colónia britânica ao poderio chinês. Esse é o momento de produção da película de Wong Kar-Wai, “Felizes Juntos”. O filme é um marco para o cinema de Hong Kong e também para o cinema oriental. É a primeira vez que um realizador local recebe um prémio no Festival de Cannes no mesmo ano. O título "Happy Toghether” (tradução oficial em inglês) refere-se a uma música da banda pop The Turtles.

O título chinês (Chunguang Zhaxie) é completamente distinto ao inglês e embaraçosamente traduzido. O título em chinês quer dizer “Algo sexy” a ser mostrado, uma frase incomum, que pode ser usada para advertir mulheres que mostram um excesso ao cruzarem as pernas. Nesse sentido, a escolha do realizador para um segundo título “The Buenos Aires Affair”, é realmente significativa, pois no filme ocorre um caso amoroso na cidade argentina de Buenos Aires. Paradoxalmente, o ressoar feminino que o título chinês aponta está completamente ausente no filme. Pelo contrário, direciona-se a uma narrativa exclusivamente masculina, com ausência de personagens femininos.

Observa-se a tentativa de se recriar Hong Kong em Buenos Aires realizando o filme fora do limite geográfico referencial do realizador. Como um road-movie semelhante aos norte-americanos (Easy Rider), a atmosfera captada pelas imagens conduz a um sentimento de exílio, de diáspora, de lar perdido, de nomadismo pós-moderno. Pessoas que se deslocam do local de origem em função de acontecimentos políticos e sociais conturbados, redefinindo parâmetros, entrando em outros sistemas sígnicos que os deixam confusos. Algo como um começar de novo. O encontro com o desconhecido num país completamente distinto, como a Argentina, uma atmosfera fria, o exacto oposto geográfico e temporal de Hong Kong.

É com toda a miscelânea acima que o realizador resolve produzir e filmar sem saber exactamente o que seria narrado, sem ter a trama pronta. Ressoando como algo caótico, as seis semanas em Buenos Aires consistiriam numa filmagem sobre tempo, espaço, identidade e isolamento. E é disso que o filme trata. Sobre tempos e espaços que podem coexistir simultaneamente. Sobre identidades móveis, flutuantes, o mundo globalizado, instantâneo, caótico. Um relacionamento amoroso que é frustrado pelas circunstâncias nas quais a dependência psicológica concorre com o medo ao isolamento, à dor e à solidão. O filme aborda a homossexualidade a partir de um locus de enunciação heterossexual. A proposta não é ser panfletária à causa, mas demonstrar que a dor de um relacionamento amoroso contém um traço universal, independente da orientação sexual de quem o experimenta.

Não existe a crença em identidades únicas e essenciais. Os protagonistas são sujeitos desterritorializados, imersos no contexto em que o único possível é o encontro, a experiência humana, a sobrevivência caótica. O sentido diaspórico ocorre na narrativa fílmica, especialmente ao atestar a referência histórica televisiva à morte do líder chinês Deng Xiaoping. Ou seja, pode-se inferir o registro do momento histórico conturbado, a passagem de poder de uma nação para outra, o desejo de escapar, de conhecer algo novo, embora sem participação direta nos acontecimentos, sem tratar-se de uma militância política. Vai se perfilando, nestes comentários iniciais, atmosferas semelhantes no texto de Puig e no filme.

Os chineses em Buenos Aires – como os argentinos Gladys e Leo – vivem a experiência do deslocamento territorial como etapas de construção identitária a partir e situados na alteridade. Na primeira cena do filme de Kar Wai o espectador depara-se com os passaportes dos chineses (Yiu-Fai e Wo Po-Wing) que, ao abandonarem o lugar de origem, encontram-se imersos na solidão melancólica e soturna de Buenos Aires. A mescla de cores fortes filtradas na película acompanha a atmosfera da história, marcada pela separação e união cíclicas.

Dessa forma, pode-se considerar que o recurso fotográfico de alternância de cores, as imagens aceleradas e o movimento da câmera na mão são escolhas que nos permitem realizar uma leitura norteada pelo elemento político de união e separação entre países cuja estrutura antiga vai desmoronando no mundo globalizado. E o filme demonstra a maneira como este fenômeno de separação e união políticas pode ser deslocado e colocado para a reflexão na simples história do relacionamento de dois sujeitos.Duas pessoas que, face à impossibilidade de lograr felicidade pela união, acabam por simplesmente circular nos bordes de uma metrópole latino-americana e receber dela elementos culturais que se juntam e misturam a seus sistemas sígnicos e podem ser experimentados como próprios.

De Puig, Kar-Wai toma emprestada a atmosfera urbana, a ambientação kitsch e os signos do camp. O kistch está nas cores baratas do quarto de Yiu-Fai, no sentimentalismo reprimido dos dois amantes e na representação das Cataratas do Iguaçu em um abajour. O camp, no filme, relaciona-se à relação homossexual vivida pelo casal, que, mesmo que não seja destaque na história, a relação da homossexualidade e os movimentos engajados de libertação sexual, ela está presente para enfatizar que certos tipos de relacionamentos e angústias podem ser vivenciados por sexos iguais (ou não).

Continue a ler a crítica a Happy Together AQUI

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Espero que ela comente o uso da musica belissima de Astor Piazzolla, que caiu como uma luva para o personagem de Tony Leung.

Abraços.

2:42 da tarde  
Blogger Sérgio Lopes said...

Vamos esperar para ver... eh eh

6:06 da tarde  

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