domingo, agosto 26, 2007

Devilman (Debiruman)

Japão, 2004, 112Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: Ccom deslumbrantes anjos e aterrorizantes demónios, vivendo num mundo apocalíptico, o filme narra a história de dois amigos, na eterna luta no bem contra o mal.

Crítica: Devilman é uma adaptação da obra de Go Nagai (Kekko Kamen, Maboroshi Panty), que na década de setenta habitou a televisão japonesa com uma popular versão em anime - hoje um clássico. Trinta anos depois, finalmente temos uma versão em live-action trazida pelo realizador Niroyuki Nasu (BEBOP HIGHSCHOLL), talvez mais em computação gráfica, do que exactamente live-action. Com quilos e quilos de bytes, ele finalmente conseguiu recriar, não só o ambiente infernal, como também os incríveis pesonagens criados por Nagai: anjos deslumbrantes e demônios sedentos por dominação, para além de paisagens apocalípticas e avassaladoras.

Akira (Hisato Isaki) e Ryo (Yusuke Izaki) são dois adolescentes inseparáveis desde a infância. Mas uma coisa o faz diferentes entre eles. Apesar de ser órfão e morar com uma família adotiva, Akira cresce como um miúdo normal, enquanto Ryo manteve a sua paixão por monstros e demônios, além de ter atitudes poucos comuns a miúdos de sua idade, mantendo-se isolado, tranformando-o numa pessoa temida por seus colegas de escola.

O pai de Ryo é um cientista que descobre um portal ligado ao inferno. Um dia, os dois vão conhecer o laboratório dele e se deparam com o portal aberto. Akira, então, é possuído por espíritos do inferno que vêm à Terra para a dominação dos humanos. Mas Akira tem um coração puro e não se transforma por completo num demônio. Com um coração humano e o corpo de demônio, ele se transforma em Devilman. Enquanto isso, Ryo revela sua verdadeira identidade e se transforma no verdadeiro demônio. Outros espíritos também saem em busca de corpos que, capitaneados por Ryo, vão aos poucos transformando os humanos em demônios que vão espalhando o terror por todos os cantos da Terra. Akira, aos poucos, vai dominando suas forças e inicia um feroz combate com essas forças do mal. Ryo tenta ainda convencer Akira a se juntar a ele na conquista dos humanos...

A impressão final que fica é que o filme traz um enorme vazio e um certo desapontamento por se tratar de uma produção muito aguardada. Todo o esforço das toneladas de efeitos especiais em nada adiantam para evitar o marasmo do filme. Apesar do belíssimo visual criado pelos efeitos especiais e das batalhas entre anjos e demônios, jogam desfavoravelmente um argumento fraco e banal com actores pouco convincentes. A batalha entre o bem e o mal nunca foi tão cliché. É uma pena, pois os personagens criados por Go Nagai não são de deitar fora. Um filme com um belo visual mas apenas e só isso...

Ric Bakemon

terça-feira, agosto 21, 2007

Ichi The Killer (Koroshiya 1)

Japão, Coreia do Sul e Hong Kong, 2002, 128Min.

Sinopse: Um chefe da máfia japonesa, conhecido como Anjo, desaparece com 3 milhões de yenes. Kakihara, líder do seu gangue e extremamente leal á Anjo, vai atrás dele, mas cria mau estar com as demais facções da Yakuza e dá início a uma sangrenta guerra em Tóquio...

Crítica: Há um facto concreto: os filmes de Takashi Miike não são para qualquer um, principalmente para os que têm estômago fraco. Já dirigia filmes desde 1990, mas tornou-se conhecido no final da década de 90 com ‘Audition’, que passou por diversos festivais em todo mundo. A partir de então firmou o seu estilo e as suas principais características: geralmente obras sobre a yakuza, extremistas, violentas e, de certa forma, com doses de humor. Lançou grandes filmes como ‘Visitor Q’, ‘Dead or Alive’, ‘Imprint’ (da série Masters of Horror), entre outros.

Baseado no mangá de Hideo Yamamoto, tudo começa com o desaparecimento de Anjo, um dos chefes da Yakuza. Junto com ele desaparecem três milhões de yenes (cerca de 50 mil dólares) e surge a suspeita de ele ter roubado o dinheiro para fugir com uma prostituta. O mais fiel dos seus capangas, o cruel e masoquista Kakihara (o inspirado Tadanobu Asano), recusa-se a aceitar a suspeita e acredita que ele tenha sido sequestrado ou assassinado por rivais. Já de começo (e é somente o começo...) ele aplica uma monstruosa tortura num suspeito do tal sequestro, que por ventura é um líder de outro gangue. Ao presenciar o ocorrido, Jiji, ex-policia envolvido com a Yakuza, resolve contratar Ichi, um exímio e problemático assassino, para dar fim aos planos de Kakihara.

Após alguns minutos podemos ver as principais características das obras de Miike: primeiro um homem a espancar uma mulher e logo depois a cena da tortura, um sujeito pendurado por ganchos recebe uma panela de óleo quente nas costas (!), sem contar os que já morreram entretanto. E foram 15 minutos apenas! Ultraviolence é a primeira palavra que surge na mente. O frenesim inicial vai tomando forma aos poucos, dando espaço para as sequências sanguinárias e sádicas, para os litros e litros de sangue que jorram na tela enquanto corpos e membros voam por todos os lados, espancamentos, torturas, prostitutas e masoquistas. Um ambiente próximo do surreal.

Ao ler isso pode parecer que é um filme B, mas a habilidade do realizador em executar as cenas (quanto mais hardcore mais perto é o close, como na cena onde Kakihara corta a própria língua), conduzir os actores (você ficará algum tempo a pensar em Kakihara e Ichi), de criar uma atmosfera violenta, insana e ao mesmo tempo cômica, torna tudo mais interessante. Junte tudo isso a uma fotografia forte e pesada e uma trama narrada nos moldes de um mangá, cheia de surpresas e situações inimagináveis. O resultado é algo que faria Tarantino ficar enjoado e maravilhado ao mesmo tempo. Se não fosse a segurança de Miike na realização, o filme poderia cair ou para o tosco ou para o caricato demais. É exatamente esse limite, essa extremidade que faz do seu trabalho algo especial, inovador e diferente.

Ichi The Killer não é para qualquer um. É uma obra forte, pesada e violenta, de um realizador corajoso e inteligente, com um estilo muito peculiar e que sabe até onde pode conduzir as suas ideias e técnicas. Com protagonistas muito bem trabalhados e um ambiente que mistura surrealismo com um pouco de comédia, o filme faz jus ao status de culto assim como Takashi Miike faz juz ao status de enfant terrible nipônico no cinema.

quinta-feira, agosto 16, 2007

Cinema asiático vencedor em Locarno

O realizador japonês Masahiro Kobayashi venceu a mais alta distinção da 60ª edição do Festival Internacional de Cinema de Locarno, o Leopardo de Ouro, na Suíça, pelo filme "Ai No Yokan", uma história sobre o relacionamento entre a mãe de um assassino e o pai da vítima. O filme centra-se na relação entre duas pessoas com existências monótonas: Nirko, a jovem mãe de uma adolescente que matou um colega de escola e Junichi, o pai da vítima, que é interpretado pelo próprio Kobayashi. O Prémio Especial do júri foi para o filme sul-coreano “Memories”.

Mais uma vez, o cinema asiático mostra a sua força, com dois prémios num festival de cinema.
Sérgio Lopes

segunda-feira, agosto 13, 2007

Fearless (Huo Yuan Jia)

China/Hong-Kong/EUA, 2006, 107Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: Relato da vida da lenda de artes marciais Huo Yuanjia, que se tornou no mais famoso lutador da China nos primórdios do século XX. Huo enfrentou tremendas tragédias pessoais desbravando por fim o caminho para além das trevas e para um lugar na história, definindo, para todo o sempre, o verdadeiro espírito das artes marciais. O seu auto conhecimento, e as escolhas que fez ao longo da vida, inspiraram uma nação.

Crítica: Confesso que, sabendo que Fearless seria realizado por Ronny Yu, fiquei um pouco renitente à sua visualização, pois o cineasta de Hong-Kong, apesar dos créditos firmados no seu país, é o homem por trás dos sofriveis Bride Of Chucky e Freddy Vs. Jason e do aceitável Formula 51, em terras americanas. No entanto, há que referir que com Fearless, Yu volta em grande forma a Hong-Kong, com um biopic de artes marciais com sequências de luta espantosas e alguma densidade dramática, bem como um Jet Li em grande forma no alto dos seus 44 anos de idade.

Fearless centra-se na vida de Huo Yuan Jia, uma importante figura no panorama das artes marciais da cultura chinesa do princípio do século XX, fundador da escola / federação de artes marciais Jing Wu Sports Federation. O filme acompanha o herói desde os tempos de juventude até ao grande torneio em que competiu com 4 lutadores, dos 4 cantos do mundo, numa luta que ultrapassava os limites do ringue e coincide com uma época conturbada politicamente, na luta dessa quatro potências pelo domínio da China.

A grande força do filme reside nas fantásticas cenas de luta, coreografadas de forma sublime por Yuen Woo Ping, responsável pelas sequências de alguns dos mais recentes sucessos, tais como Matrix, ou Kill Bill, entre outros. De facto, as cenas de luta são realistas, bem encenadas, rápidas e a espaços brutais e bastante realistas, apesar de por vezes roçar o exagero. Ronny Yu consegue um bom equilíbrio entre o drama baseado numa vida de opressão e desgosto e as cenas de arte marciais, e apesar dos inevitáveis clichés, o resultado é bastante satisfatório. Jet Li tem uma performance poderosa fisicamente e não desilude na parte dramática da sua interpretação.

Fearless é pois um biopic carregado de acção que serve o seu propósito como filme de artes marciais, dando a conhecer um pouco a nível dramático da vida do icon Huo Yuanjia. Envolto em polémica desde início, o filme sofreu um corte de mais de 40 minutos em relação à versão original que removeu por completo todo o papel da bela Michelle Yeoh, bem como a família do próprio Huo Yuanjia reprovou a forma como este foi tratado no grande écrân. Marca também o abandono de Jet Li dos filmes de artes marciais, pelo menos até ver... Mas no fundo (e tendo visto a versão cortada), achei uma experiência digna de ser vista e recomenda-se.

Sérgio Lopes

quinta-feira, agosto 09, 2007

Estreia da semana - The Host

Depois de com Memories Of Murder, o seu segundo filme , ter criado um dos melhores policiais da história do cinema, o cineasta sul-coreano Joon-ho Bong regressa com The Host, supostamente uma das produções Coreanas mais caras do ano passado, e também um dos filmes de maior sucesso internacional do panorama asiático.

Contando com Bae Doona, Park Hae-il, Song Kangho (Memories Of Murder) e Byeon Hee-bong, nos principais papéis, The Host centra a premissa nos acontecimentos que ocorreram perto do Rio han onde um terrivel monstro, escondido nas profundezas, começa a atacar e aterrorizar a comunidade.

O filme estreou finalmente em Portugal, depois de, na Coreia, já ter sido visionado por mais de 3 milhões de pessoas. The Host precisou apenas de 5 dias para atingir os 3.15 milhões de espectadores comparativamente com o anterior detentor do recorde Taegukgi, que só atingiu esse número de espectadores passados oito dias de exibição. Podem visualizar a crítica clicando AQUI.

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Sérgio Lopes

segunda-feira, agosto 06, 2007

To Sir With Love (Seuseung-ui eunhye)

Coreia do Sul, 2006, 90Min.


Sinopse: Um grupo de ex-estudantes reunem-se para uma última visita à sua professora primária que se encontra gravemente doente. No entanto, o que se pensava ser uma reunião de reencontro entre professora e ex-alunos, cedo se transforma numa vingança sangrenta, pois cada um dos jovens tem algo a apontar à sua antiga professora...

Crítica: To Sir With Love (a.k.a My teacher / Bloody Reunion) nada tem a ver com o filme com o mesmo nome, clássico de 1964, de Sidney Poitier. Trata-se, acima de tudo, de um flick de terror bem à moda dos grandes slashers dos anos 80, nomeadamente Friday The 13th, ou Texas Chainsaw Massacre, entre outros. Pelo menos, por uma vez que seja, não temos a eterna rapariga jovem de longos cabelos negros como fonte aterrorizadora, o que por si só já constitui uma lufada de ar fresco na saturada onda de terror asiático.

Alertem as pessoas de estômagos mais fracos, pois o filme apresenta cenas não recomendáveis aos mais sensíveis... Tudo começa com uma reunião de antigos colegas de turma com a sua professora gravemente doente. Eles deslocam-se à casa à beira rio da sua ex-tutora onde se dá o reencontro. Com alguns copos bebidos a mais, traumas do passado começam a ser relembrados, pois cada um dos jovens tem algo de grave a apontar à simpática professora. Após o jantar, as mortes começam em catadupa e cada um dos alunos é massacrado violentamentemente. As mortes são brutalmente elaboradas e sádicas, ao bom estilo slasher. E tudo aponta para uma vingança perpretada pelo filho deficiente da professora, outrora criado numa cave sombria, vítima do desprezo dos demais colegas devido ao seu aspecto grotesco... Mas será que é mesmo assim...?


Em boa parte, o filme assemelha-se ao clássico slasher, mas o último terço traz uma reviravolta nu domínio do terror psicológico que faz desta obra, algo singular no domínio do terror coreano. O realizador Im Dae Woong faz um excelente trabalho, mantendo um ritmo equilibrado ao longo dos ideais 90 minutos de duração, nunca sendo enfadonho e permitindo assim captar a atenção do espectador permanentemente. Intercalando flashbacks e visões surreais, o cineasta consegue manter um ambiente de tensão constante, bem como um feeling de ameaça e desconforto.
Os actores têm performances seguras, acrescentando a dose de realismo necessário para fazer a coisa funcionar. No terceiro acto, o filme caminha para o domínio do surreal com alguns twists mais ou menos eficazes, que embora difiram do ritmo inicial, deixam uma sensação de ambiguidade que acaba por tornar ainda mais credível os acontecimentos. No global, "To Sir With Love" pauta-se por uma agradável surpresa, que combina dois universos de terror, o slasher e o terror psicológico, de forma homogénea. valendo a pena a sua visualização.
Sérgio Lopes