quinta-feira, março 30, 2006

Nobody Knows (Dare mo shiranai)

Japão, 2004, 140Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

NINGUÉM SABE

Sinopse: Quatro irmãos vivem felizes com a mãe num pequeno apartamento em Tóquio. As crianças têm todas pais diferentes. Nunca foram à escola. A própria existência de três deles tem sido escondida do senhorio. Um dia, a mãe deixa algum dinheiro e uma nota a pedir ao seu rapaz de 12 anos para olhar pelos seus irmãos mais novos. E assim começa a odisseia das crianças...

Crítica: O título diz tudo: Ninguém Sabe, do abandono das crianças por parte da mãe e da responsabilidade que é para o mais velho ter de cuidar das restantes. E ninguém sabe porque Akira, a criança mais velha (com apenas 12 anos) era a única que aparecia na rua e que era vista pelos vizinhos. Ninguém sabia da existência das outras crianças...

Nobody Knows é levemente baseado num acontecimento real, no entanto, bem mais dramático do que o retrato apresentado pelo realizador Hirokazu Koreeda, que ainda assim, amacia um pouco os acontecimentos. O cineasta japonês traça o retrato dos dias longos e dificeis das crianças e da crueldade a que estão sujeitas sem o apoio materno.

O cuidado com os detalhes é uma das razões que levam o filme a um nível superior. Com uma narrativa bastante lenta, a espaços até monótona, esse cuidado nos detalhes no que toca à degradação do espaço circundante e até mesmo da própria saúde e bem-estar dos meninos, leva o espectador a interiorizar o sentimento de desespero e abandono sentido por eles e permite ter a noção clara do decorrer do tempo. Deste modo, Hirokazu Koreeda traça um retrato sombrio, deprimente e perturbador do dia-a-dia destas crianças.

Nomeado para a Palma de Ouro do festival de Cannes de 2004, venceu apenas na categoria de melhor actor, para Yûya Yagira, no papel de Akira, o mais velho dos irmãos. Embora todas as crianças tenham um desempenho notável, Yagira claramente suplanta todos os outros exprimindo um retrato de desespero e tristeza, apenas com um simples olhar.

No inicio das gravações, Yûya Yagira tinha apenas dez anos e com o decorrer das filmagens nesse ano sofreu transformações próprias da idade a nível do corpo e da própria voz o que permitiu dar ainda mais credibilidade à sua interpretação e consequentemente, maior realismo no que toca à passagem do tempo, tendo sido, desta forma, um trunfo importante para o cineasta japonês.

Por todas as razões anteriormente apontadas, Nobody Knows é imperdível para quem quer visualizar cinema asiático com o selo de qualidade. Pode não ser de fácil visualização, pois impressiona e dá que pensar, mas levanta questões pertinentes e não é isso também uma das funções da 7ª arte?

Classificação: 8/10

Sérgio Lopes

quarta-feira, março 29, 2006

Nobody Knows - Estreia da Semana

Esta semana apresenta-se entre nós uma estreia de luxo. Trata-se do filme Nobody Knows / Dare mo shiranai (Ninguém Sabe), baseado em factos que ocorreram na realidade sobre um grupo de crianças deixadas ao abandono pela própria mãe.

Nomeado para a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2004 e vencedor na categoria de melhor actor, Nobody Knows é um filme a não perder.

Podem visualizar o Trailer e aceder à Página Oficial.

Sérgio Lopes

segunda-feira, março 27, 2006

Joint Security Area (Guangdong Gyeongbi Guyeok)

Coreia do Sul, 2000, 110Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Elevar questões políticas ou ideológicas acima de relações humanas mostra o nível de ignorância atingida por sociedades aparentemente diferentes na sua ideologia, mas que compartilham muita coisa em comum, como a raiva, o orgulho e a indiferença, até mesmo quando esses sentimentos caminham para o lado da amizade. Isso parece ser a ideia central apresentada pelo cineasta sul-coreano Park Chan Wook no seu segundo filme, “Joint Security Area” (2000).

Joint Security Area ou Panmunjon é uma área neutra criada em 1953 após o fim da Guerra da Coreia. Essa área é formada por duas paralelas entre as duas Coreias de cerca de 1km de diâmetro adiministrada por organismos internacionais neutros que procuram manter a tranquilidade na região.

O filme, baseado no livro de Park Sang Yeon, “DMZ”, começa com um incidente no lado norte da fronteira. Numa fatídica noite, tiros são disparados na guarita de segurança da Coreia do Norte. O facto envolve militares dos dois países e termina na morte de dois soldados e um ferido do lado norte e outros dois do sul feridos. Como não poderia deixar de ser, a tensão na região chega próxima ao limite, obrigando uma força neutra a investigar e esfriar os ânimos. A militar sueca de descendência coreana Sophie Jang (Lee Yeong-ae), é enviada à região para tentar solucionar o caso.

Claro que ela encontra um cenário pouco favorável a qualquer tipo de investigação. Movidos pelo orgulho e pela ideologia, cada lado apresenta a sua versão do facto, mostrando pura e simplesmente a inimizade entre os dois países, onde a acusação mútua é o único discurso em comum. Enquanto o lado sul, afirma que os seus soldados foram vítimas de um sequestro, o lado norte acusa o inimigo de ter invadido seu território. Além dessa retórica banal já esperada, os envolvidos tentam, claramente, esconder detalhes imporantes no caso, tornando os seus testemunhos extremamente frágeis e sem nenhuma credibilidade, fazendo disso um processo stressante e traumático.

Mas apesar da desconfiança dos dois lados, Sophie apresenta as suas armas e vai montando um complexo quebra-cabeças que vai além dos factos narrados. Chan-Wook traduz isso em imagens de flashbacks que aos poucos vão apresentando os verdadeiros acontecimentos. Essas imagens mostram um crescente laço de amizade entre dois soldados do sul com outros dois do norte, todos encarregados pela vigilância. Essa amizade fortalece apesar de todas as diferenças ideológicas e culturais. Aos poucos, vão descobrindo que eles têm muita coisa em comum; que são todos seres humanos movidos pelos seus problemas ou pelas suas alegrias.

Mas a coisa não é assim tão simples. O filme mostra que qualquer laço de amizade é apenas um frágil fio que se rebenta com enorme facilidade ao primeiro sinal de tensão. Park Chan Wook apresenta isso de maneira magistral, deixando que as cenas de amizade entre os soldados não soem como algo forçado. Pelo contrário, todo esse relacionamento fica em segundo plano, deixando em evidência o nervosismo e a tensão entre os dois países, representado na figura desses quatro soldados, onde os seus instintos de sobrevivência e de obediência falam mais alto. Um simples olhar mais torto, um descuido qualquer, um movimento em falso é algo capaz de iniciar uma disputa. É por isso que fica a tese que essas questões políticas se sobrepõe a qualquer lado mais humano.

Esse cuidado — ou a precaução política — também se traduz na visão de Chan Wook em transpor essa problemática coreana de maneira mais imparcial possível. Em todo o filme, ele procura se manter neutro. No filme, essa neutralidade é colocada em cheque na figura da major Sophie Jang, que ao decorrer do filme, descobre um segredo envolvendo seu pai, que havia lutado da Guerra da Coreia.

O resultado é um belíssimo filme que questiona até onde as semelhanças entre as duas coreias podem influenciar e diminuir as diferenças que hoje dividem os dois países. No final, o filme é a produção mais política e ao mesmo tempo pacifista do realizador. Ele aborda um tema que era considerado um tabu anos atrás e que hoje vai se tornando um tema mais popular entre os coreanos. Resultado: mais filmes começam a tocar no assunto como “Shiri” e “Tae Guk Gi”. Vale a pena visualizar e produz alguns momentos de reflexão.

Classificação: 8/10

Rick Brakemen

sábado, março 25, 2006

Colaboradores CINEASIA!

Pois é pessoal... O cineasia não pára de crescer (felizmente) e está-se a tornar internacional. Nesse sentido, é com imensa satisfação que me apercebo que é visitado por uma comunidade brasileira interessada no belo cinema oriental.

São os casos dos blogues ASIAN FURY e BAKEMON, dois blogues que blinkaram o cineasia e que embora não específicos da temática do cinema asiático contém muitos posts sobre filmes asiáticos.

Assim sendo, para além de contribuirem para o crescimento do cineasia (pois blinkaram-no), os respectivos fundadores dos blogues, takeo maruyama (Asian Fury) e Rick Bakemon (Bakemon), tiveram a amabilidade de a partir de hoje se disponibilizarem para escrever textos para o cineasia, o que permitirá, crescer ainda mais.

Este era o objectivo que eu, Sérgio Lopes, tinha inicialmente ao criar o cineasia: ter um número crescente de colaboradores, pois só assim se poderá divulgar ainda mais o ainda pouco conhecido para muita gente, mas extremamente belo, cinema asiático.

Reitero os meus agradecimentos aos novos colaboradores do cineasia, prometendo para muito breve um primeiro texto a postar no cineasia. Muito obrigado a ambos e Viva o cinema asiático!

Sérgio Lopes

quinta-feira, março 23, 2006

Estreia da Semana


Estreia esta semana um filme de visionamento obrigatório, "Three... Extremes - 3... Extremos". Trata-se de uma longa metragem composta por três segmentos realizados por três dos mais conceituados realizadores asiáticos da actualidade, Fruit Chan, Takashi Miike e Park Chan-Wook.

A temática abordada é o terror e o bizarro, daí o título sugestivo Three...Extremes. Para quem perdeu a oportunidade de o visionar na edição deste ano do Fantasporto, tem aqui a obrigação de o apreciar no conforto de uma sala de cinema, em frente ao grande ecrân e admirar o trabalho sublime dos grandes mestres do terror asiático mais recente.

Podem ler algumas críticas ao filme, bem como visualizar o trailer, clicando AQUI.

Sérgio Lopes

sábado, março 18, 2006

Princess Mononoke (Mononoke-Hime)

Japão, 1997, 134Min.

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Sinopse: Japão, Era Muromachi onde os homens ainda conviviam com feras e deuses. Mas a paz só durou até o dia em que um terrível "demónio" possuiu o corpo do Deus Javali, que vivia na floresta Shishi. Possuído pelo "demónio" este "Deus" dirige-se para a aldeia dos Emishi, um nobre povo, onde vive um jovem principe de nome Ashitaka, e que se encarregaria de eliminar o terrível Deus Javali (um Tatara Gami, ou Deus da Maldição).

Amaldiçoado, Ashitaka decide abandonar o seu povo, e segue em busca da cura para o seu problema. É aqui no meio da sua viagem que encontra um povo que se dedicava à extracçao de ferro e que travavam uma grande batalha contra os deuses-animais. Do lado dos deuses-animais estava San, uma jovem que foi adotada e criada por uma tribo de lobas deusas. O seu ódio pelos humanos de que querem destruir a floresta dos deuses é tão grande, que ela acaba por esquecer que ela também é humana. Mas depois de conhecer o jovem príncipe Ashitaka, a história muda...

Crítica: Inspirando-se nas tradições e lendas japonesas (os duendes kodama habitantes da floresta), Miyazaki conseguiu criar uma "sociedade" habitada por deuses e criaturas, onde a floresta faz o papel de Olimpo (morada dos deuses na Grécia). Mas nem só dessas tradições Miayzaki recorre, senão vejemos o caso da "Princesa Mononoke", uma jovem criada por lobos e de educação muito primitiva, estas situações encontramos em algumas obras literárias ocidentais como por exemplo a história latina de Rómulo e Remo e o L'enfant sauvage de François Truffaut.

Mononoke Hime é um anime simplesmente impressionante, podendo ser considerado como um dos melhores animes versão longa-metragem de toda a história da animação japonesa. Não importa o que se diga ou se escreva sobre este filme, o que importa é vê-lo. Mononoke Hime, que traduzido literalmente para português significa A Princessa Mononoke. Mas o que é curioso neste titulo é o uso da palavra Mononke que para os japoneses é utilizado para descrever qualquer coisa de estranho, como por exemplo desaparecimento de objectos ou num estado mais extremo as possessões malignas. Apesar de o título ter sido escolhido para atrair uma maior atenção do público japonês e mais tarde o ocidental, Mononoke Hime não deixa de ser uma obra de arte animada, com uma história bonita e graficamente atraente. Mas porquê tantos elogios?

Hayao Miyazaki e os estúdios Ghibli, são dos nomes mais conhecidos da animação japonesa fora do seus país. Depois de ter mostrado ao mundo este filme e obras anteriores como por exemplo Porco Rosso, Tonari no Totoro ou mesmo Nausicaa, é reconhecido na última edição da Academia dos Oscares por outro filme de nome "A viagem de Chihiro", titulo na versão portuguesa, e que mais uma vez foi sucesso mundial.

Com um tratamento muito detalhista, onde a mistura da animação convencional e as novas tecnologias de animação (CG) se vão desenrolando a ponto de não sabermos o que é uma e outra a não ser que estejamos muito por dentro deste tipo de animação.

O que se destaca em Mononoke Hime e em quase todos os trabalhos de Miyazaki é a visão ecologista do mundo e a sua mensagem, onde o seu ponto de vista é muito mais do que a simples expressão "Não destrua a natureza". A história também faz nos questionar sobre o "futuro" da natureza, isto é se está correcto destruirmos a natureza para evoluirmos tecnologicamente ou se por contrário devemos preservá-la. Mas Miyazaki não quer tomar parte de nenhum dos caminhos e remete-nos para nós a busca dessa resposta, cabendo a nós decidir-mos qual o "caminho" porque optamos. O Homem ou os deuses-animais?

Outra nota de curiosidade deste filme Mononoke Hime é a edição dobrada e legendada que foi "criada" para o ocidente, isto porque o guião foi reescrito. Foram feitas algumas mudanças que ficaram a cargo de Neil Gaimen (o mesmo escritor de Sandman), mudanças essas que foram apenas adaptadas para que os ocidentais pudessem entender melhor, isto porque o filme está repleta de referências ao folclore japonês. Não existem cortes em nenhuma cena, devido ao acordo entre os Estúdios Ghibli e Buena Vista Internacional, uma empresa da Disney.

Assim, Mononoke Hime é daqueles títulos que todas as pessoas devem ver e se não for pedir muito terem em casa para mostrar aos amigos que ainda não viram...

Fernando Ferreira

quarta-feira, março 15, 2006

A Woman Called Abe Sada


Japão, 1975, 76Min.

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Sinopse: Uma gueixa, de nome Abe Sada, desenvolve um tórrido romance proibido com um homem de negócios. Durante uma semana intensa, levam a paixão carnal até ao limite. Porém, o ciúme e o amor obsessivo da jovem mulher, levará a um final abrupto e trágico...
Crítica: Trata-se da adaptação da bizarra e extraordinária história real da “geisha” Abe Sada, a mulher que em 1936 matou o seu amante e lhe cortou o pénis... Datado de 1975, marca o inicio da era do "Roman-Porno", que marcou o cinema japonês com filmes de carga erótica relevante e com alguma violência à mistura. A Woman Called Abe Sada tem a particularidade de ter estreado um ano antes do famoso Império dos Sentidos de Nagisa Oshima, que se baseia no mesmo acontecimento real.

Apesar de tudo, as duas películas apresentam diferenças significativas; enquanto que o Império dos sentidos apresentava uma carga erótica muito mais explícita, A Woman Called Abe Sada, de Noburu Tanaka, centra muito mais os acontecimentos nos desvaneios psicológicos da personagem principal e na obsessão e desolação sentidas pela jovem mulher. Ainda que com uma carga erótica reinante, Abe Sada é um filme em que a carga dramática sobrepõe-se, ao contrário da película de Nagisa Oshima onde o acontecimento trágico é o climax da história e a carga sexual explícita domina todo o filme.

Nesse sentido, A Woman called Abe Sada, é mais sangrento que o seu sucessor e vive sobretudo das magníficas interpretações de Junko Miyashita (Abe Sada) e de Hideaki Esumi (Ishida Kishizo), da bela fotografia e da boa realização de Noboru Tanaka.

Apesar das suas óbvias limitações da época, A Woman Called Abe Sada é um dos títulos recomendados para adeptos da era "Roman-Porno". Noboru Tanaka é hábil com a câmara, conseguindo criar um ambiente erótico sem ser forçado e sem mostrar demasiado,sendo mesmo assim, bastante erótico, embora o trunfo do realizador seja o estudo pesicológico da obsessão e ciúme doentio da personagem feminina, ABE SADA. Por essa razão, é a espaços, bastante violento quer fisica quer psicologicamente. Uma excelente proposta, pricipalmente para cinéfilos convictos e interessados no belo cinema japonês
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Classificação: 6/10

sábado, março 11, 2006

Crying Fist (Jumeogi Unda)

Coreia do Sul, 2005, 135Min.

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Sinopse: Gang Tae-shik (CHOI Min-Sik) é um ex-lutador de boxe que atingiu algum sucesso na sua juventude. Com 40 anos de idade e vítima da recessão económica dos finais dos anos 90, não tem dinheiro nem qualificações e a sua vida familiar está se a degradar. Para ganhar algum dinheiro oferece-se às pessoas nas ruas como saco de boxe para extravasarem toda a sua fúria do dia-a-dia... Yoo Sang-hwan (RYOO Seung-Bum) é um jovem agressivo e tendencialmente violento que depressa vai parar à prisão. Na prisão junta-se à equipa de boxe para aprender a se auto-controlar e torna-lo numa pessoa melhor. Os caminhos destes dois homens irão se cruzar num combate em que acima de tudo a dignidade de uma vida e o amor-próprio estarão em jogo...

Crítica: Mais uma proposta diferente da ultra-produtiva Coreia do Sul. Desta vez estamos na presença de um drama realista onde o boxe é um elemento secundário de redenção. O filme, tal como a sinopse o descreve, acompanha em paralelo a vida de dois homens de geração diferentes, cujas vidas destroçadas por razões distintas os tornaram em pessoas à margem da sociedade, sem objectivos claros de vida. Ambos encontram no boxe a forma de recuperar a confiança e por isso no combate final entre eles estará muita coisa em jogo.

Grande parte do filme é composta pelo dia-a-dia em paralelo dos dois personagens centrais, sendo o último terço do filme preenchido com o combate de boxe, filmado de forma realista e bem coreografado. Gang Tae-shik é interpretado pela estrela de Oldboy (CHOI Min-Sik) e compõe um personagem tão negativista que dificilmente o público simpatiza com ele. No entanto, quem realmente rouba o filme a nível interpretativo é o jovem RYOO Seung-Bum. A sua interpretação para além de bastante credível é poderosa na medida em que personifica na perfeição um jovem explosivo, anti-sistema e cheio de raiva contida devido às agruras por que passou.

Trata-se de um filme bastante depressivo e negativista quase até ao fim, atingindo o clímax com o combate de boxe final onde estará em disputa muito mais que um título: É literalmente a última tentativa de ambos em darem um murrro nas suas vidas, metaforicamente falando.

É no entanto, na parte final que o filme perde algum fulgor, pois caminha para o cliché. Tem a particularidade de ser um excelente drama, mas cujas cenas de boxe não são tão apelativas quanto isso e acabam por cortar um pouco do clima reinante de forma um pouco precipitada. Fica-se com a sensação de previsibilidade no final e qualquer que fosse a escolha do realizador sobre qual dos dois venceria, soaria um pouco cliché (um pouco filmado à Rocky). Não deixa de ser um filme que mereça visualização mas certamente será muito mais apreciado pelos verdadeiros adepto da modalidade. Para os restantes é uma proposta aceitável.

Classificação: 6/10

Sérgio Lopes

sábado, março 04, 2006

Doce Tortura

O título do filme não poderia estar mais de acordo com aquilo que quero transmitir... Este filme, "A bittersweet life" do magnífico realizador coreano Kim Jee-Woon, criador do sublime "A tale of two sisters", tinha estreia agendada para Outubro de 2005 (!). Como os distribuidores gostam de nos torturar, a nós espectadores, decidiram adiar a sua estreia até data indefinida. Felizmente que com o final do Fantasporto, decidiram colocar "Doce Tortura" em sala... Vá lá, valeu a pena ter esperança e aguardar pela estreia de mais um excelente filme deste cineasta, referência maior do cinema asiático em geral e coreano em particular.

Eu já tive oportunidade de o visionar e recomendo-o vivamente. Podem ler a crítica a "A bittersweet life - Doce Tortura", bem como aceder à página oficial e assistir ao trailer AQUI.

Sérgio Lopes

quarta-feira, março 01, 2006

Metropolis (Metoroporisu)


Japão, 2001, 110Min.

Página Oficial e Trailer - Fotos

Sinopse:
As máquinas criadas pelo homem tentam dominar o mundo, levando a uma eterna guerra entre o homem e a máquina. Os protagonistas são, porém, uma pequena menina que dá pelo nome de Tima e um rapaz que a ensina a estimar as coisas simples da vida, Kenichi. Várias circunstâncias induzem Tima a se tornar na líder dos robots de Metropolis, fazendo com estes se tornem a "raça" superior e dominante da cidade.

Crítica: Uma vez mais, o nome de Metropolis surge associado a uma magnífica produção cinematográfica. Este é mais um mergulho numa paisagem urbana futurista, mas bem diversa da versão de Fritz Lang ou da cidade que serve de poiso a um certo senhor de S no peito...


Trata-se da versão em animação há muito desejada de uma série de manga de Ozamu Tezuka, o pai do manga (com Tetsuan Atom, Kimba, etc.), trazida agora entre 10 a 20 imagens por segundo. E nada mais nada menos que pelas mãos dos mestres por direito próprio em manga e anime de Katsushiro Otomo (Akira, Perfect Blue) e Rintaru (Lodoss War OAV's, X/1999, Pet Shop of Horrors TV). Tendo em conta esta equipa de luxo, podemos sem dúvidas afirmar que este filme é um dos projectos mais ambiciosos da indústria do anime, superando sem esforço a da animação americana.
Tal como outras mega-produções ultimamente criadas, Metropolis é criado através do uso das mais recentes tecnologias de animação digital, misturando-as com desenho e animação tradicional, levando à criação de um nível de realidade "monstruoso".

Metropolis é de uma beleza estonteante, poderosa, misteriosa, mas, fazendo jus ao espírito de Tezuka, tem sobretudo coração. Como sempre, uma lição humanista subjaz mesmo as fantasias mais negativas. Apesar de não ter estreado em salas de cinema, é um filme indispensável para os amantes de anime, na linha de outros filmes igualmente geniais, dentro do género, como por exemplo, Princesa Mononoke do incontornável Hayao Miyazaki.

Fernando Ferreira