sábado, outubro 29, 2005

Whispering Corridors


Coreia do Sul, 1998, 100Min.

“Whispering Corridors” é considerado um dos primeiros filmes de terror asiático da nova vaga, que de certa forma influenciaram outros cineastas e permitiram o aparecimento de obras como “The Grudge” ou “Dark Water”. Tal como estes, é um filme exageradamente aclamado, quando na verdade é repleto de falhas e… não é capaz de provocar o mínimo susto no espectador.

A narrativa gira em torno de uma escola assombrada por uma ex-aluna (morta no interior da escola) e de uma série de mortes que despoletam o medo e a preocupação entre a comunidade estudantil.

O ponto de partida até é bastante chamativo, mas a realização de Ki-Hyung Park e o argumento pouco plausível deitam tudo a perder. A primeira metade do filme é desenvolvida a um ritmo bastante lento, privilegiando o estudo de personagem e criando um ambiente crescente de tensão. À medida que caminhamos para o final da película o ritmo aumenta e somos confrontados com tão famoso twist final dos filmes de terror asiáticos. Em “Whispering Corridors” (tais como noutros filmes como “Dark Water ou “The red Shoes”), para agravar mais o descontentamento, esse twist final não funciona., Para além de ser bastante previsível, é muito pouco credível.

A película apresenta, no entanto, alguns pontos positivos, tais como, o sentido visual apurado, as interpretações seguras de praticamente todos os personagens ou a própria forma como o realizador filma os planos dos corredores da escola, um pouco à maneira Kubrickiana de “Shining”. É de destacar igualmente a forma cruel e fascista como são tratados os alunos pelos professores. Para além de serem tratados brutalmente ainda são sujeitos a assédio sexual por parte de alguns professores! No lado negativo, a música consegue ser irritante a espaços e a montagem é inacreditavelmente fora de tempo.

“Whispering corridors” é um filme dispensável no universo do cinema de terror asiático. Tem os seus pontos positivos, é certo, mas falta-lhe qualquer coisa para ser considerado um clássico dentro do género. Apesar de tudo, conseguiu gerar mais 3 sequelas, sendo a última, a parte 4, intitulada, "Voice".

Classificação: 3/10

Sérgio Lopes

terça-feira, outubro 25, 2005

In The Mood For Love


Hong-Kong, 2000, 98Min.

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O realizador Wong Kar-Wai estabeleceu-se como um cineasta autor. Através da cor e da luminosidade constrói toda uma narrativa baseada nos simbolismos que daí advêm criando o seu próprio estilo. Cada cena é meticulosamente ensaiada e posteriormente filmada de forma a obter exactamente aquilo que visualmente pretende. É um daqueles cineastas perfeccionistas que assumem o cinema como forma de arte.

Sinopse: “In the mood for love” trata do amor platónico entre dois seres, Su Lin (Maggie Cheung) e Chow (Tony Leung). São vizinhos, ambos foram traídos pelos respectivos cônjuges e ambos não se podem ter um ao outro... É esta a premissa de um dos melhores e mais originais romances da história do cinema, filmado com mestria pelo mestre da arte visual, Wong Kar-Wai.

Crítica: Baseado nesta premissa, poderia ser apenas mais um filme romântico. No entanto, as interpretações, as situações vividas e os pequenos detalhes desenrolam a narrativa duma forma única e visualmente cativante. Wong Kar-Wai cria um mundo visual onde cada frame corresponde a uma fotografia de uma beleza rara. É um filme que vive sobretudo da insinuação em detrimento da concretização. Há um enorme amor entre Lin e Chow, fortíssimo mesmo, mas em última análise impossível de concretizar.

As performances dos dois actores são sublimes, sendo capazes de transmitir uma sensualidade e desejo quase cerebrais, fruto de uma relação platónica, baseada na sugestão. Apesar dos protagonistas falarem muito pouco em cada cena, conseguem transmitir ao espectador a crescente paixão e emoção entre eles, cada vez que aparecem juntos no écrân.

A estética do filme é desenvolvida através do uso extremo da luz e cor, tendo, portanto, a música um papel preponderante, na criação do ambiente. Com poucos diálogos e uma montagem quase marginal, Wong Kar-Wai repete alguns temas musicais, em determinadas cenas, para enfatizar o estado emocional dos protagonistas e suportar a bela fotografia.

Realizado a partir de um argumento quase inexistente e privilegiando a improvisação, “In the mood for love” é considerado por muitos como a obra-prima do realizador de Hong-Kong. Poderá, no entanto, ser um filme de difícil visualização, uma vez que é único na abordagem artística que faz ao género romance, tantas vezes destruído pelos clichés lamechas dos homónimos americanos do género. Para ser visto com disposição e atenção.

Classificação: 8/10

Sérgio Lopes

Mais Críticas 1

segunda-feira, outubro 24, 2005

Save the green planet!


Coreia do Sul, 2003, 118Min.

Começam a faltar adjectivos para classificar a diversidade e grandiosidade do cinema coreano, tal é a qualidade demonstrada. Títulos como “Oldboy”, “My sassy Girl”, “Memories of murder” ou “A tale of two sisters”, abrangem géneros tão díspares como acção/thriller, comédia/romance, policial ou terror psicológico, respectivamente.

E onde encaixa “Save the green planet!”? De facto, em nenhum género específico. É um filme único, onde se misturam todos os géneros. Incrível!

Ha-kyun Shin (Lee Byeong-gu) é um tratador de abelhas, típico loser, obcecado por vida extra-terrestre e ficção-científica. Quando investiga a vida do seu patrão, um poderoso empresário, (Kang Man-shik), descobre que este é um extraterrestre do planeta Andrómeda, que planeia tomar posse do planeta Terra por altura do próximo eclipse lunar. Completamente paranóico, Ha-kyun Shin rapta a sua vítima , prende-o na sua cave e tortura-o por forma a evitar o fim da civilização humana…


Esta é a premissa do original filme de estreia do coreano Jun-hwan Jeongs. A realização segura de Jun-hwan Jeongs atravessa vários géneros, desde a comédia negra, passando pelo thriller e pela ficção científica, mas sempre com o fio narrativo correcto para ligar correctamente os diversos estágios do filme. O argumento é extremamente dinâmico e imprevisível (fazendo recordar Charlie Kaufman) criando, no espectador, ao longo dos cerca de 120 minutos de filme, um turbilhão de diversas emoções, até ao twist final.

Os dois protagonistas Lee Byeong-gu e Kang Man-shik têm um excelente desempenho e são claramente uma mais valia num filme de uma temática tão invulgar. Contém algumas cenas de tortura um pouco fortes (no entanto, necessárias no conceito do filme) e parodia entre outros temas, o desaparecimento dos dinossauros, o rapto extraterrestre e alguns clichés dos filmes de ficção-científica.

Save the green planet!” é uma película que claramente surpreende por todas as razões apontadas e que excede claramente as expectativas. É bastante original e revolucionário, recomendável para quem gostar de argumentos alternativos um pouco à maneira de Charlie Kaufman.

Classificação: 8/10

Sérgio Lopes

terça-feira, outubro 18, 2005

One missed call


Japão, 2003, 112Min.

Um dos nomes fortes do novo cinema japonês, Takashi Miike tem uma filmografia que proporcionou já vários títulos de culto, sendo o perturbante “Audition – Anjo ou Demónio” talvez o mais emblemático. No seu novo filme, “Uma Chamada Perdida” (Chakushin ari / One Missed Call), o realizador volta a pisar territórios que já lhe são familiares, percorrendo domínios do terror, suspense e fantástico, através dos quais se distinguiu internacionalmente.

A premissa da película assenta em misteriosas mensagens que alguns estudantes universitários recebem nos seus telemóveis, enviadas pelos seus próprios números e que contêm frases proferidas pelas suas próprias vozes. Estas mensagens são normalmente de teor intrigante q.b. e têm as datas de dias depois, datas estas que correspondem ao momento exacto das abruptas mortes dos receptores das mensagens.

Outro filme de terror com adolescentes? Sim, mas “Uma Chamada Perdida”, nos primeiros momentos, aparenta não ser apenas mais um, uma vez que conta com uma interessante ideia de argumento e Miike sabe como proporcionar uma atmosfera suficientemente claustrofóbica e desconcertante… até certo ponto.

Se o filme até arranca de forma intrigante e promissora, com uma curiosa interligação entre as novas tecnologias e os códigos do suspense, quando chega a meio perde o conseguido ritmo e aura enigmática que mantinha até então para se tornar numa colecção de sustos fáceis e histerismos involuntariamente cómicos, que nem sequer dispensam uma sofrível abordagem do sobrenatural.

Desperdiçando a relativa frescura que apresentou na fase inicial, “Uma Chamada Perdida” entra num campo minado de clichés que já se julgavam esgotados e sobre-explorados em “The Grudge – A Maldição” ou “Águas Passadas”, outros filmes de (suposto) terror recentes que caíram também num esoterismo ridículo e nada convincente.Nem sequer faltam os francamente irritantes finais falsos, através dos quais Miike tenta surpreender mas falha ao apostar numa pouco recomendável lógica de “vale-tudo”, tornando a película ainda mais incoerente e, sobretudo, inconsequente.

“Audition – Anjo ou Demónio” já era um filme algo desapontante e sobrevalorizado, mas pelo menos continha ainda sequências de antologia vincadas por uma considerável tensão e desconforto. “Uma Chamada Perdida” conta com dois ou três cenas que sugerem que Miike repita aqui esses escassos momentos inspirados, mas infelizmente a qualidade do filme apenas decresce – e muito – à medida que o desenlace se aproxima. Não deixa de ser um filme perturbante, só é pena que o seja pelos piores motivos.

Classificação: 5/10

Gonçalo Sá

Mais Críticas 1

domingo, outubro 16, 2005

Beautiful Boxer


Filipinas, 2003, 118Min.

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Oriundo das Filipinas (uma cinematografia emergente no continente asiático), Beautiful Boxer, realizado pelo cineasta Ekachai Uekrongtham é uma história da determinação e concretização de um sonho que por vezes parece impossível de alcançar.

Sinopse: É a história verídica de Nong Toom, um famoso lutador de Muay Thai que se tornou atleta para conseguir juntar dinheiro para ajudar a sua família (oriundo de um meio extremamente pobre) e submeter-se a uma operação de mudança de sexo (daí o título sugestivo, Beautiful Boxer).

Crítica: Pela temática abordada, é um biopic arriscado, é certo, mas o realizador Ekachai Uekrong consegue ter uma sensibilidade notável de forma a não ferir qualquer susceptibilidade. O realizador consegue transmitir a ideia de que Nong Toom é uma mulher presa no corpo de um homem.

O filme acompanha a vida de Nong Toom, desde a infância, onde tomamos conhecimento dos seus maneirismos femininos (maquilhagem, papéis femininos em teatros de escola, etc), passando pela sua fugaz aventura como monge (sendo posteriormente expulso devido às suas inclinações femininas), até atingir o estrelato como o lutador profissional de Muai Thai mais conceituado da Ásia, culminando com a mudança de sexo que o transformou no transsexual Parinaya Charoemphol.

A grande força do filme reside também na interpretação do estreante Asanee Suwan. Escolhido através de um casting e sendo praticante profissional de kickboxer, faz ele mesmo todas as cenas de luta (aliás muito bem coreografadas), o que traz uma mais valia para o filme. Por outro lado, a nível dramático consegue transmitir a fragilidade necessária ao personagem criando um transexual credível em densidade emocional e física. É extremamente curioso vermos, ao longo do filme, o assumir da sua transsexualidade. À medida que se vai tornando mais famoso, vai aparecendo cada vez mais maquilhado e feminino em cada combate que participa.

Obviamente que o filme não é perfeito; tem algumas falhas principalmente a nível de montagem/edição e talvez seja um pouco longo demais. A nível interpretativo, só mesmo Asanee Suwan se destaca, embora a película dependa quase em exclusivo da sua capacidade dramática e física.

No geral, e como filme de estreia do cineasta filipino, é uma película recomendável e bastante interessante, não tendo comparação com o estilo de realização dos biopics americanos (alguns deixam bastante a desejar).

Citando a sinopse que promove o filme: Ele luta como um homem para se poder tornar uma mulher…

Classificação: 7/10

Sérgio Lopes

quarta-feira, outubro 12, 2005

Three... Extremes


Japão/Hong-Kong/Coreia, 2004, 120Min.

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Após o sucesso em 2002 do filme “Three” que conjugava três curtas-metragens de três cineastas independentes asiáticos, a dose é repetida 2 anos mais tarde com “Three…Extremes”. A película junta outros três dos mais consagrados cineastas do continente asiático: o japonês Takashi Miike (nome conceituado da sétima arte, conhecido pela violência extrema e gráfica dos seus filmes), Fruit Chan, o cineasta independente de Hong-Kong, e Park-Chan Wook, a coqueluche do cinema coreano (realizador das obras “Sympathy for Mr. Vengeance” e do premiado em Cannes “Oldboy”)

Three… extremes”, é composto pelos segmentos Box, Dumplings e Cut. Os três segmentos apresentam a marca pessoal de cada realizador e por isso, diferem na forma, argumento, estilo de realização e género narrativo; Todas os três, no entanto, são visualmente arrebatadores, coloridos e denotam grande cuidado no design dos cenários.

Box, Takashi Miike, 40 minutos

O primeiro segmento, Box, realizado por Takashi Miike não tem nada a ver com o festival de violência gráfica apresentado habitualmente pelo realizador. Para quem espera encontrar um segmento repleto de gore, poderá ficar desiludido. Takashi Miike, opta por um registo mais lento e mais próximo de filmes como “a tale of two sisters”, onde realidade e sonho se cruzam na vida da protagonista Kyoko, que é assolada pelas memórias de infância, na qual juntamente com a irmã fazia shows de contorcionismo no circo do pai, e se sente responsável por um acidente ocorrido. Ainda hoje é invadida por essas memórias desoladoras e por demónios interiores. Esta agonia é soberbamente filmada por Miike criando uma atmosfera por vezes surrealista e de insanidade mental.

Dumplings, Fruit Chan, 37 minutos

"Three…Extremes" segue, em crescendo, com Dumplings, de Fruit Chan. Chan apresenta um estudo sobre o envelhecimento e as preocupações inerentes, focando a narrativa numa ex-estrela televisiva que após se retirar do activo e começando a sentir o avanço da idade (o marido mantém casos extra-conjugais com mulheres mais jovens), tenta encontrar o elixir da eterna juventude. Recorre a uma curandeira chinesa (Aunt Mei, interpretada pela sensual Bai Ling) que afirma possuir o segredo da juventude eterna: Dumplings (uma espécie de pastéis de carne chineses). O segredo está no ingrediente do qual são feitos os dumplings… Não o vou desvendar; Só poderei dizer que é simplesmente… arrepiante!

Este segmento deu origem a uma longa-metragem, com cerca de 90 minutos de duração, que se recomenda vivamente uma vez que permite uma melhor compreensão da história e tem uma série de cenas que foram cortadas para este segmento e que são fabulosas.

Cut, Park-Chan Wook, 48 minutos

Three…Extremes”, termina em grande estilo com Cut de Park-Chan Wook. A história centra-se num cineasta de filmes de terror (Ryu) que após regressar do trabalho, encontra a casa assaltada e a sua mulher presa como uma marioneta (e com os dedos presos a um piano). O intruso também se encontra em sua casa. Trata-se de um figurante que sente enorme inveja de Ryu e da forma como ele é incapaz de tratar mal seja quem for. O intruso dá então uma hipótese a Ryu: Se Ryu não provar que é capaz de praticar algum acto de maldade, a sua mulher irá ficar sem um dedo a cada 5 minutos… Escusado será dizer que confissões inesperadas irão surgir e a violência tão comum nos filmes de Park-Chan Wook (tanto física como psicológica) vai despontar.

Veredicto final: Trata-se de um filme que apesar de tudo não deve ser entendido como filme de terror. É antes de mais, um conjunto de três segmentos com elevada qualidade, com temas complexos tais como, demência, inveja, aborto, envelhecimento, etc, dai o rótulo, extreme…

Altamente recomendável.

Classificação: 8/10

Sérgio Lopes

Outras Críticas 1

domingo, outubro 09, 2005

Infernal Affairs



Hong Kong, 2002, 100Min.
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"Infiltrados" (Infernal Affairs), o primeiro episódio da aclamada trilogia de Andrew Lau e Alan Mak, centra-se num absorvente jogo do “gato e do rato” e segue as perseguições de Yan e Ming através de uma complexa rede de perigos e embustes, onde a polícia e as tríades tentam encontrar e eliminar os “toupeiras” da facção oposta.

Sinopse: Yan (Tony Leung), é um elemento das forças policiais, que se infiltra numa tríade e lá permanece durante vários anos, mas os criminosos recorrem ao mesmo estratagema e conseguem inserir um dos seus membros, Ming (Andy Lau) na polícia. Os dois protagonistas encontram-se assim numa encruzilhada de difícil saída, deparando-se com conturbadas crises existenciais e um constante questionamento dos seus modelos de vida. No final só poderá haver um...


Crítica: O ponto de partida de "Infiltrados" poderia ter servido para mais um espectáculo exibicionista com uma mirabolante sucessão de cenas de acção e altas doses de pirotecnia, contendo tanto de megalómano como de inócuo.

No entanto, a dupla de realizadores desvia-se de territórios mais previsíveis e oferece uma envolvente mistura de drama intimista e thriller claustrofóbico, que, ao contrário de muitos “filmes de acção” actuais, revela um esforço significativo no desenvolvimento das personagens e no estudo dos seus conflitos interiores. Junte-se a isto um arrojado estilo visual e uma não menos viciante banda-sonora e estão reunidas as condições para uma experiência cinematográfica acima da média.

Para além de um vibrante thriller, "Infiltrados" é um bem conseguido estudo sobre a identidade, a confiança e a lealdade, auxiliado por um sólido núcleo de actores, um argumento inventivo, um ritmo escorreito, uma realização plena de nervo e intensidade e uma inebriante atmosfera soturna criada pela assombrosa fotografia de Christopher Doyle (capaz de traduzir a aspereza e melancolia urbanas através de fascinantes tons de cinzentos e azuis metálicos).

Classificação: 7/10

Gonçalo Sá


sábado, outubro 08, 2005

Natural City


Coreia do Sul, 2003, 120Min. ´

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O cinema asiático, nomeadamente o coreano, bebe das inúmeras influências do cinema europeu e principalmente americano e adequa-as à sua cultura, normalmente criando obras magníficas. No entanto, não é caso de Natural City, um filme de ficção científica, género que se encontra ainda numa fase muito embrionária no país.

Sinopse: "R", um membro da "MP" apaixona-se por uma clone em fase de expiração não aceitando que esta seja terminada. Quando descobre que o Dr. Croy conhece una forma alternativa de continuar a vida de Ria, vai lutar contra tudo e contra todos para salvar a sua amada.

Crítica: O argumento baseia-se um pouco em Blade Runner: Em 2080, o trabalho manual humano, em Natural City, é desempenhado por clones com inteligência artificial que têm uma determinada data de expiração. No entanto poucos aceitam esse facto (reciclagem) sendo necessário criar uma força de intervenção “MP” para capturar esses clones expirados.

"Natural city" (de MIN Byung-Chun) é um blockbuster coreano de ficção científica com um orçamento estimado em cerca de 7 biliões de won. O filme é centrado na história de amor entre os dois protagonistas, servido por excelentes efeitos especiais e cenas de acção ao estilo “Matrix”.

No entanto, “Natural City”, é um filme vazio, pois não há química alguma entre os personagens centrais: “R” tem uma personalidade irritante e não consegue transmitir os seus sentimentos, enquanto que Ria é um clone completamente embrenhado na sua decadência e por isso, não temos empatia por nenhum dos dois. É também um pouco longo demais, as interpretações são medianas e a historia já foi contada antes (não traz grandes novidades), ou seja, é mais do mesmo.

Não se trata de um filme mau. Decerto que os apreciadores de ficção científica vão achar o filme agradável, mas definitivamente, não é nenhuma obra-prima do cinema coreano.

Classificação: 5/10

Sérgio Lopes

Mais Críticas 1

quarta-feira, outubro 05, 2005

A tale of two sisters (Janghwa, Hongryeon)



Coreia do Sul, 2003, 120Min.

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Provavelmente estamos na presença da obra-prima asiática de terror psicológico.

Sinopse: A história gira em torno de duas irmãs que regressam a casa, após terem estado numa instituição mental. Em casa encontram o pai e uma madrasta cruel. A relação entre as três começa a deteriorar-se ao ponto de a irmã mais forte (brilhante Im Su-jeong), tentar proteger a mais fraca (Mun Keun-yeong), das investidas da madrasta que sentem como uma enorme ameaça para ambas. Ao mesmo tempo, começam a surgir estranhas aparições e fenómenos invulgares no seio da casa…

Crítica: A tale of two sisters” é o filme da consagração do cineasta da nova vaga de realizadores coreanos, Ji-woon Kim, que neste ano de 2005 apresenta o muito aguardado thriller de acção noir (o primeiro filme do género na Coreia), “a bittersweet life” .

Para evitar estragar o visionamento do filme, prefiro não me alongar muito mais sobre o argumento. Apenas posso dizer que “A tale of two sisters” é intelectualmente inteligente e combina de forma quase perfeita o thriller psicológico, drama e terror, servido por uma banda sonora magnífica e uma realização sublime.


Desde o argumento intrigante, passando pela música, narrativa e escolha dos actores, todos os aspectos neste filme roçam a perfeição. Do ponto de vista técnico, é difícil encontrar uma falha, pois tudo é cativante. A forma como atravessa os vários géneros (desde o drama ao terror, passando pelo thriller) é algo a ter em conta. A utilização do contraste de cores e da luz torna a película esteticamente apelativa e visualmente cativante. As duas actrizes principais brilham a todos os níveis. São mágicas no écrân. A actriz Yeom Jeong-ah, que representa a madrasta das duas irmãs é genuinamente cínica e má.

Ji-woon Kim baseia toda a estrutura cinematográfica num argumento fabuloso, na realização e no estilo visual, de modo a criar uma atmosfera densa de tensão capaz de provocar verdadeiros sustos, sem recorrer ao terror directo que advém da utilização do gore ou do uso de cenas de violência gratuita. Pelo contrário, filma-as no tempo certo e com o plano de câmara adequado a para esse efeito.

Para quem gosta de filmes de terror na linha de “O Sexto Sentido” ou “Os Outros”, vai com certeza delirar com “A Tale Of Two Sisters”. É definitivamente um filme obrigatório que esperemos não seja alvo de um remake americano… A imitação nunca poderá igualar o original. E este original é fabuloso!

Classificação: 9/10

Sérgio Lopes

terça-feira, outubro 04, 2005

Ab-normal Beauty (Sei mong se jun)


Hong Kong, 2004, 101Min.

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Após o estrondoso sucesso de “The Eye”, os irmãos Pang separam-se e Oxide Pang realiza uma série de obras menores, voltando à boa forma, (com a ajuda do seu irmão) realizando Abnormal Beauty.

Sinopse: Jiney é uma jovem fotógrafa não satisfeita com o seu trabalho. Um dia após assistir a um acidente de carro descobre a sua paixão por tirar fotos às pessoas no momento da sua morte, o que a irá conduzir a uma obsessão por fotografar cadáveres ou vítimas moribundas. Quando juntamente com a sua amiga Jas, Jiney tenta pôr fim à sua obsessão mórbida, subitamente recebe uma cassete de vídeo de um assassino que partilha as mesmas ideias que ela…

Crítica: Abnormal Beauty, não pode ser classificado como filme de terror, mas mais como um thriller com cenas de extrema violência. É um olhar fascinante sobre a obsessão de uma mulher pela morte. O estilo dos irmãos Pang está lá: Visualmente soberbo e colorido, com um ambiente soturno e a música colocada na altura certa para criar excelentes momentos de tensão. O último terço do filme é bastante brutal e violento fazendo lembrar um pouco as cenas de tortura ao estilo do filme "Saw".

A cena final é perturbadora e muito bem filmada. Infelizmente, o clímax é previsível e pouco eficaz. O cineasta consegue criar um filme visualmente elegante e audaz, baseado num fascinio quase obsessivo pela morte, mas falta algo para ser considerado uma obra-prima. A actriz Race Wong tem um excelente desempenho como a fotógrafa Janey, tal como, Roseanne Wong que personifica a sua amiga íntima, pseudo-lésbica. Curiosamente, na vida real, as duas actrizes são irmãs gémeas.

E de facto, "abnormal beauty" tem mais pontos positivos do que negativos: a beleza estética está lá, a atmosfera de tensão, os bons diálogos e interpretações, e a enfatização do carácter emotivo dos personagens. No entanto, o estilo voyeurista já explorado em filmes como "8mm", por exemplo, e o final um pouco forçado, contribuem igualmente para o menor valor da película.

O material definitivamente é bom, mas o seu potencial podia ser bem mais explorado pelo cineasta. É um filme a ver, para quem gosta do trabalho dos irmãos Pang, mas não comparável à sua obra-prima, “The Eye”, ficando claramente uns furos abaixo desta.

Classificação: 5/10

Sérgio lopes

Mais Críticas 1

segunda-feira, outubro 03, 2005

A Bittersweet Life (Dalkomhan insaeng)


Coreia do Sul, 2005, 120Min.

Sinopse: Sun-Woo tem servido o seu patrão, presidente Kang, fidedignamente nos últimos 7 anos, sendo por isso o seu braço direito e gerente do seu hotel. Kang vem mantendo um caso amoroso com uma rapariga muito mais nova do que ele suspeitando que ela o anda a trair. Assim sendo, entrega a missão de descobrir a veracidade dos factos ao seu fiel colaborador, pedindo-lhe que não tenha misericórdia caso a traição seja real… A batalha que se irá despoletar vai ultrapassar os valores da honra, lealdade ou vingança…ultrapassando os limites do razoável.

Crítica: Após o fabuloso “A tale of two sisters” (talvez o melhor filme de terror psicológico asiático de sempre), chega-nos o novo filme de Kim Jee-woon, A Bittersweet Life. Trata-se do primeiro filme de acção noir coreano e nesse contexto não desilude.

Tal como em “A tale of two sisters” as marcas de originalidade, desafio intelectual e soberbo estilo visual, voltam a estar presentes, acrescentando-se ainda excelentes cenas de acção (coreografadas ao estilo John Woo), intercaladas com momentos de narrativa lenta (mas visualmente soberbos) servidos por uma música clássica de fundo da autoria de… Chopin! As cores, vermelho e negro, são utilizadas de forma perfeita pelo realizador como forma de ilustrar o ambiente do filme.


Sun-Woo é por definição o bandido com estilo; Sempre de fato negro, integrado num mundo de violência, domina artes marciais, facas e armas de fogo. Aparentemente calmo, vive no seu mundo, desligado de tudo o que o rodeia, não tem namorada nem amigos de qualquer espécie, vivendo sozinho. Na sua mais recente missão, a amizade estabelecida com a sua presa irá levar à sua expulsão do gang. Confiando na sua consciência mas contradizendo o seu chefe, irá forçar a sua queda. Uma rapariga irá mudar o seu destino para sempre…

Com um final sangrento à "Scarface", "A bittersweet life" tem todos os ingredientes para agradar os amantes dos policiais negros e sangrentos ao estilo de Brian De Palma. Com inevitáveis comparações a "Oldboy", devido à temática de vingança explorada, é no entanto, um filme diferente do de Park Chan-Wook, na medida em que transparece todos os traços característicos e de autor do cineasta Kim Jee-woon.

É portanto mais um filme de vingança, só que com um estilo muito próprio e com uma realização de classe. Mais uma obra-prima do realizador, noutro género e certamente recomendável, sendo o primeiro filme noir coreano, o que prova que este país está cada vez a evoluir mais e melhor tornando-se uma séria referência para o que de melhor se faz na 7ª arte.

Só como nota final, queria acrescentar que a estreia de "A bittersweet life" estava prevista para o mês de Outubro e que inexplicavelmente foi adiada para data indefinida! Inadmissivel...

Sérgio Lopes