sexta-feira, setembro 30, 2005

The Eye (Jian gui)


Hong-Kong, 2002, 99 min

Uma rapariga cega, recebe um transplante ocular para que possa voltar a ver. No entanto, acaba por obter mais do que esperava quando se apercebe que começa a ter visões de fantasmas. Esses fantasmas levam-na a tentar encontrar a origem do órgão e revelar a história da pessoa que era sua detentora…

Um grande filme de terror dos irmãos Pang, capaz de provocar os maiores sustos quando menos se espera. O ambiente de tensão e horror é constante em todo o filme e as cenas em que há o aparecimento de fantasmas / espíritos são muito bem, conseguidas, provocando bastantes calafrios aos espectadores…Algumas cenas são verdadeiramente assustadoras, tais como a do elevador, a da sala de aulas ou as dos corredores do hospital. A interpretação da actriz principal, Angelica Lee, é bastante credível e a realização competente, servida por um argumento bem delineado.


The Eye não se trata de um filme de terror simplista e sangrento. Pelo contrário é um filme inteligente na abordagem que faz ao sobrenatural e suspense (que é o que realmente provoca medo às pessoas - medo do desconhecido), um pouco como homónimos americanos, tais como, "Os Outros" ou "O 6º sentido".

Especialmente a primeira parte do filme, contém cenas verdadeiramente arrepiantes, não só pelos planos de estética visual tão característicos dos irmãos PAng, mas sobretudo, pelo timing correcto dos efeitos sonoros que intensificam a insegurança e terror vividos pela personagem. (É recomendável visionar o filme com um bom sistema de som...)

Em suma, estamos perante um excelente filme de horror asiático, recomendado para quem quer apanhar uns valentes sustos, confortavelmente instalado no sofá…Brevemente assistiremos ao remake americano. Os direitos já foram adquiridos por... Tom Cruise. Ultrapassará o original? Duvido...

Classificação: 7/10

Sérgio Lopes

Mais Críticas 1

domingo, setembro 18, 2005

Oldboy - Velho Amigo

COREIA DO SUL, 2003, 125Min.

Com o cinema americano em crise (falta de ideias) e o cinema europeu ainda visto como indie, ou 'esquisito', por muita gente, cada vez é mais dificil encontrar películas que apelem à estimulação dos sentidos e que tratem o cinema como uma forma de arte aliada ao entretenimento.

No entanto, paralelamente à crise anunciada há um grande desenvolvimento do cinema asiático, nomeadamente o Coreano. Nos últimos 3 ou 4 anos surgiu uma nova vaga de realizadores coreanos estimulados pela cultura ocidental que são já considerados autores no seu país de origem e cujos filmes obtêm melhores resultados nas bilheteiras que os Blockbusters americanos.

Filmes como "memories of murders", "a tale of two sisters", "My sassy girl", "Taegukgi" ou "save the green planet" são alguns exemplos do que se faz de melhor a nível do cinema coreano actual. No expoente máximo temos o realizador Park Chan-Wook, cuja obra Oldboy - Velho amigo lhe permitiu obter notariedade mundial. As suas histórias são de vingança com uma estética muito própra já tendo sido elogiado várias vezes por Quentin Tarantino.

Sinopse: Oldboy passa-se num dia qualquer. Dae-Soo é preso permanecendo num quarto de hotel durante 15 anos. Após ser libertado tem 5 dias para descobrir quem foi o seu raptor e procurar vingança. No entanto, o seu raptor tem planos diferentes para ele...

Crítica: Oldboy recebeu inúmeros prémios e distinções, entre as quais o de melhor filme estrangeiro no festival de cinema independente britânico e o grande prémio do júri no festival de Cannes, tendo sido inclusivé nomeado para a palma de ouro

É um filme de vingança, que é o tipo de temática explorada por Park Chan-Wook, encontrando-se incluído numa trilogia de vingança iniciada com "Sympathy for Mr. Vengeance (2002)" e que irá terminar com o muito aguardado "Sympathy for Lady Vengeance (2005). A estética de violência utilizada pode não ser para todos os gostos mas pode-se definir o filme como um estudo sobre a vingança, a sua natureza e a forma como a vingança pode acabar por destruír a pessoa que a procura mais até do que àquela pessoa da qual se quer vingar. É uma tragédia pessoal moderna filmada com um estilo muito próprio por um dos realizadores mais promissores do momento. Só espero que o seu mais recente filme "Sympathy for lady Vengeance" tenha estreia cá em Portugal. Entretanto nada como ver (ou rever) a sua filmografia. Fundamental para quem gosta verdadeiramente de cinema.

Nota final: Não esquecer o seu primeiro grande sucesso na Coreia, JSA - Jouint security Area, um drama militar sobre o assassinato de dois soldados norte-coreanos na zona comum que separa a Coreia do Norte da Coreia do Sul. Igualmente recomendável.

Classificação: 9/10

Sérgio Lopes

Mais Críticas 1

House Of Flying Daggers

CHINA / HONG KONG, 2004, 120 Min.

Página Oficial e Trailer - Fotos

Com "Herói", o realizador chinês Zhang Yimou efectuou um desvio considerável relativamente aos seus trabalhos habituais, debruçando-se pela primeira vez sobre o filme de artes marciais - com fulgurantes cenas de acção exemplarmente coreografadas - e afastando-se assim das obras e teor mais intimista e sóbrio que marcaram o início da sua filmografia (como "Milho Vermelho" ou "Esposas e Concubinas").

Sinopse: "O Segredo dos Punhais Voadores" (House of Flying Daggers) está bem mais próximo de "Herói" do que dos primeiros títulos do cineasta, apresentando um misto de romance, suspense e acção centrado na dúbia relação de dois guerreiros da Dinastia Tang, na China do século IX. Um jovem capitão, Jin (Takeshi Kaneshiro), tem a missão de conquistar a confiança da espia rebelde Mei (Zhang Ziyi) e de a seguir até ao quartel-general da suposta organização desta, "O Segredo dos Punhais Voadores", uma das forças que mais ameaça o poder totalitário do governo. Contudo, o plano não corre como era esperado e a relação entre os dois jovens adquire contornos bem mais ambíguos e imprevisíveis, fazendo com que o amor se insinue em conturbados tempos de guerra.

Crítica: "O Segredo dos Punhais Voadores" recicla ideias e atmosferas que vão desde "O Tigre e o Dragão", de Ang Lee (uma das obras que mais contribuiu para conceder um novo fôlego aos filmes de artes marciais) até ao clássico "Romeu e Julieta", passando por por uma energia visual não muito distante das sagas "Matrix" (pelo recurso ao bullet time, sobretudo) e "Kill Bill" (o remix de influências e o flirt com o kitsch). Devido a este conjunto de referências, poderia pensar-se que o novo filme de Yimou é demasiado derivativo (e é-o de facto), mas o minucioso e inatacável rigor estético do cineasta consegue cativar de forma a que essas "pilhagens" sejam relativamente desculpáveis.

A verdade é que não há muitos filmes que apresentem uma exuberância cénica tão irrepreensível como os deste realizador chinês, e "O Segredo dos Punhais Voadores" é mais uma prova da sua singularidade. Sim, a narrativa força os limites da verosimilhança - ainda se aceita que as técnicas de combate das personagens contrariem as leis da gravidade, mas as múltiplas reviravoltas do argumento chegam a ser exaustivas - e o seu desenvolvimento é demasiado linear e até maniqueísta, mas Yimou faz com que a película resulte devido a uma minuciosa direcção artística, com uma sumptuosa fotografia (nomeada para os Óscares) e uma deslumbrante diversidade cromática (recorrendo a uma larga paleta de tonalidades, texturas e ambientes).

"O Segredo dos Punhais Voadores" tenta gerar uma intensa densidade dramática através de protagonistas larger than life e de uma história de contornos quase míticos e carregados de romantismo, mas o resultado é desequilibrado, uma vez que as situações nem sempre suscitam empatia e envolvência. As esforçadas e intrigantes cenas finais possuem uma vibração emocional considerável, mas pecam por se estenderem demasiado e não resistem ao recurso a twists pouco conseguidos.

Se fosse tão absorvente no argumento como o é na fulgurante componente visual, "O Segredo dos Punhais Voadores" destacar-se-ia como uma imponente tour-de-force a caminho de se tornar num clássico. Assim, é uma interessante e a espaços muito inspirada obra - vejam-se os episódios do desafio à dançarina "cega" ou as perseguições na floresta de bambus - que, apesar das vastas doses de pompa e circunstância, agrada e seduz mas não esmaga.

Classificação: 6/10

Gonçalo Sá

Mais Críticas 1

sábado, setembro 17, 2005

Kung- Fu Hustle - Kung-Fu-Zão

CHINA / HONG KONG - 2004 - 95Min
Numa altura em que o cinema oriental parece evidenciar-se cada vez mais, disseminando-se por tudo o mundo e conquistando públicos mais alargados, torna-se não só numa reconhecida influência para o trabalho de cineastas, mas é também influenciado por estes.

"Kung Fu Hustle" a mais recente película de Stephen Chow, é um esgrouviado combinado de acção, humor, suspense e artes marciais, uma dinâmica paródia a códigos e géneros cinematográficos que tanto satiriza as rebuscadas aventuras de kung-fu como envereda também por paralelismos a obras de ficção científica ou westerns.

Chow, que no currículo contava já com a realização do delirante "Shaolin Soccer", volta a apostar num filme carregado de energia cinética, recorrendo a exageradíssimas sequências de combate numa obra cujo visual estilizado oferece alguns momentos efervescentes, evidenciando os impressionantes progressos do digital.

Ecléctico melting pot de referências, "Kung-Fu-Zão" tanto assenta nas sagas de "Kill Bill" ou "Matrix" como nas tradicionais histórias de kung-fu, passando por uma notória aproximação ao dinamismo dos universos cartoon norte-americanos e anime.

O argumento - que segue as peripécias de um jovem indeciso (interpretado pelo próprio Chow) entre a lealdade ao ameaçador Gang do Machado ou a procura de um caminho mais nobre - dá quase sempre prioridade ao desfile de prodígios visuais, e as personagens nunca vão além da caricatura numa história maniqueísta e formatada.

Contudo, os pequenos achados na concepção de certas cenas conseguem compensar (na medida do possível) a evidente linearidade dramática, tornando "Kung-Fu-Zão" num aceitável entretenimento, que a espaços até entusiasma mas que como um todo é bastante desigual (e sobretudo redundante, pois à medida que o filme decorre o efeito surpresa tende a descrescer).

O que fica? Algumas coreografias e efeitos especiais minuciosamente trabalhados, duas ou três cenas divertidas, uma montagem dinâmica e trepidante e um ritmo escorreito. Longe de revolucionário, é certo, mas dentro do cinema assumidamente lúdico e descartável consegue, ainda assim, elevar-se acima de grande parte da concorrência.

Classificação: 4/10

Gonçalo Sá
Mais Críticas 1