segunda-feira, novembro 28, 2005

Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera

Coreia do Sul, 2003, 103Min.

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Numa altura em que se encontra nas salas de cinema nacionais o mais recente filme de Kim Ki-Duk, “Ferro 3”, nada como relembrar “Primavera, Verão, Outono, Inverno… e Primavera”, que em Portugal pode ser encontrado em DVD.

Sinopse: Ninguém fica imune ao poder das estações e ao seu ciclo anual de nascimento, crescimento e envelhecimento. Nem mesmo dois monges que partilham um mosteiro flutuante, num lago rodeado de montanhas à medida que as estações se sucedem, todos os aspectos das suas vidas são insuflados com uma intensidade que os conduz ambos a uma enorme espiritualidade e tragédia. Porque também eles não conseguem resistir à escalada da vida, aos anseios, sofrimentos e às paixões que nos arrebatam a todos. Sob o olhar atento do Velho Monge, um jovem monge experimenta a perda da inocência quando as brincadeiras se transformam em crueldade; o despertar do amor quando uma mulher entra no seu mundo fechado; o poder assassino do ciúme e da obsessão; o preço da redenção; a iluminação da experiência. Assim como as estações continuam a alternar até ao fim dos tempos, também o mosteiro permanecerá como a morada do espírito, suspenso entre agora e sempre...

Crítica: Mais um filme carregado de misticismo e simbolismo em que a beleza das imagens ditam o desenrolar da narrativa. Kim Ki-Duk desenvolve mais uma história com um carácter emocional extremamente complexo relacionando-o neste caso com a natureza.

No que Kim Ki-Duk surpreende nas suas películas é no carácter de espiritualidade transposto para o écrân e na capacidade de deliberadamente permitir a cada espectador captar, por si mesmo, o que as imagens representam. Possivelmente “Primavera, Verão, Outono, Inverno…e Primavera”, ainda apresenta menos diálogos que “Ferro 3”, o que não é descabido pois a fabulosa fotografia e a partitura musical ajudam a criar um ambiente filosófico e magistral. Mais uma vez há que destacar o trabalho de câmara de Kim-Ki Duk; Num filme praticamente sem diálogos, cada plano filmado, para além de nos transmitir algo, faz desenrolar a narrativa. O realizador tem um sentido de realização fabuloso.

Aqui o protagonismo, para além dos actores, recai também nas paisagens naturais e nos animais. O realismo e a beleza natural do local acrescentam uma sensação quase de magia espiritual à película. Ki-Duk utiliza as estações do ano como metáfora para caracterizar os vários estágios da vida dos personagens, desde o nascimento, infância, adolescência, idade adulta e… desfalecimento. Neste contexto, as estações do ano acompanham o estado de espírito de mestre e aluno. A água tem um papel também preponderante como simbolismo do fio condutor da vida.

Note-se que “Primavera, Verão, Outono, Inverno…e Primavera” é um filme onde foi necessário construir um templo budista no meio de um lago, o que implicou a utilização de alguns meios e o esforço de algumas pessoas, o que prova que os valores de produção na Coreia estão cada vez mais a aumentar, tornando possível a criação grandes pérolas cinematográficas, como esta obra de Kim Ki-Duk.

Com este filme, Kim Ki-Duk cria uma viagem espiritual, mística e universalmente religiosa onde um rapaz e o seu mestre são os protagonistas, num cenário natural edílico. Para visionar, apreciar e interiorizar…

Classificação: 8/10

Sérgio Lopes

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quinta-feira, novembro 24, 2005

3-Iron (Bin-Jip)


FERRO 3

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Sinopse: Tae-suk é um jovem que vagueia na sua mota em busca de casas vazias onde possa ficar alguns dias até que os donos regressem. Nunca rouba ou estraga nada dentro de casa. Simplesmente, guarda-a durante alguns dias, arranja objectos estragados e até lava a roupa. Um dia, escapa-se para uma casa rica e encontra o seu destino – uma mulher casada chamada Sun-hwa que sofre tormentos às mãos do seu marido. Enquanto Tae-suk se esgueira pela casa, Sun-hwa esconde-se no escuro e espreita-o silenciosamente. Nessa noite, Tae-suk acorda petrificado quando descobre Sun-hwa a olhar para ele. Vai-se embora. Mas, mesmo depois de partir, Tae-suk não consegue deixar de pensar nos olhos tristes e suplicantes de Sun-hwa. Quanto mais tenta esquecê-la, mais vívida se torna a imagem de Sun-hwa...

Crítica: Kim Ki-duk é actualmente um dos nomes incontornáveis do novo cinema asiático, conseguindo à semelhança de Wong Kar-Wai, por exemplo, criar películas onde as imagens ditam a forma como decorre a narrativa, privilegiando a estética visual em detrimento dos diálogos. Cabe pois ao espectador tirar as suas conclusões e determinar o sentido metafórico que essas imagens representam.

Nesse sentido, é difícil classificar “Ferro 3”: è um filme sobre um amor platónico? Trata-se de uma abordagem espiritual à relação entre dois seres? O que é real e o que é sonho no filme? Todas estas questões surgem quando visionamos “Ferro 3”. Mas a verdadeira beleza da película está na contemplação do silêncio. Com poucos diálogos, recai sobre a dupla de protagonistas, a tarefa de elevar o filme às custas da expressividade facial, aliada à realização sublime de Ki-Duk.


Tal como em “Spring, Summer, Fall, Winter… and Spring”, o realizador coreano apresenta um retrato de caracterização de personagens baseando-se em diversos aspectos metafóricos e simbolismos. Se em “Spring, Summer, Fall, Winter… and Spring” a água simbolizava o elemento condutor da vida e as estações do ano simbolizavam as várias etapas da vida (desde a nascença ao desfalecimento), em “Ferro 3”, destaca-se o simbolismo de um taco de golfe – exactamente o taco Ferro 3. Curiosamente, é o taco de golfe mais forte e pesado, e também o mais difícil de usar e como diz o realizador, adapta-se bem à imagem do personagem masculino do filme Tae-Suk. Será porventura uma metáfora, querendo significar uma espécie de singularidade de Tae-Suk, bem como simbolizar uma certa marginalização em relação à sociedade?

Vencedor de inúmeros prémios, destacando o prémio de realização no festival de Veneza, “Ferro 3” é um filme difícil de explicar por palavras. Só visionando-o é possível captar toda a arte cinematográfica da película e interiorizar o que Kim Ki-Duk pretende transmitir. O realizador conhece tão bem os personagens que nem necessita de recorrer aos diálogos. Kim Ki-Duk falando da personagem feminina Sun-Hwa:

Somos todos casas vazias à espera de alguém que nos abra a porta e nos liberte. Um dia o meu sonho torna-se realidade. Um homem aparece como um fantasma e tira-me desta conformidade. E eu acompanho-o, sem dúvidas, sem reservas, até que finalmente encontro o meu destino."

É pois, arte cinematográfica pura, um festim para os sentidos, a confirmação de um talento seguro do cinema asiático. Altamente recomendável.

Sérgio Lopes

quarta-feira, novembro 16, 2005

Memories Of Murder (Salinui chueok)


Coreia do Sul, 2003, 132Min.

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Sinopse: Baseado em factos reais, relativos a uma série de assassinatos que chocaram a Coreia do Sul entre 1986 e 1991, “Memories Of Murder” acompanha a investigação levada a cabo por dois polícias rurais, o agente Park (Kang-ho Song) e o agente Jo (Roe-ha Kim). Como os métodos dos dois agentes são pouco ortodoxos e apresentam poucos ou nenhuns resultados, é recrutado um detective, de top, de Seul para ajudar na investigação, que através do uso de métodos mais sofisticados tentará travar a onda de assassinatos e, em última análise, resolver o caso.

Crítica: “Memories Of Murder” apresenta algumas similaridades com “Se7en – Sete pecados mortais”, embora focando mais a Coreia do Sul numa época de ditadura militar e o efeito que essa ditadura provocou na difícil resolução do caso. Este facto é muito importante para a compreensão do filme, pois diversas vezes, soava uma sirene (despoletada pelo governo militar) que obrigava toda a gente a ficar em suas casas, o que obviamente facilitaria a ocorrência de um homicídio.
É neste contexto que se desenrola a película que trata da caça ao primeiro serial-killer da história da Coreia do Sul. Trata-se do segundo filme do realizador Joon-ho Bong, que consegue um excelente trabalho, nada inferior às películas americanas do género. Joon-ho Bong filma os planos de uma forma realista, tentando mostrar ao espectador o que realmente terá acontecido. A nível estético, o realizador presta imensa atenção aos pormenores tirando partida da bela fotografia que deriva dos espaços naturais e do jogo de luz/sombra.


A nível narrativo, o ambiente de mistério e a incerteza quanto à identidade do assassino tornam o filme cada vez mais intrigante à medida que o visionamos, até ao surpreendente clímax final. Muita atenção também à partitura musical que acrescenta um ambiente de tensão a cada cena.

Outro dos motivos que tornam este filme num dos melhores policiais da história do cinema é o trio de protagonistas. Os seus desempenhos são soberbos tornando os respectivos personagens realistas e incrivelmente credíveis. O facto de o realizador centrar a nossa atenção nos demónios interiores dos protagonistas, que derivam da dificuldade de resolução do caso, acaba por criar no espectador uma certa empatia pelos três personagens.

O único senão da película poderá ser a sua duração demasiado longa e o exagero da inclusão de algumas cenas perfeitamente descartáveis para o contexto final (tais como o interrogatório a três suspeitos diferentes, por exemplo). No entanto, é um policial mais interessante e eficaz que muitos dos homónimos americanos. Tenso, interessante, misterioso e sério, “Memories Of Murder” é mais uma agradável surpresa vinda da Coreia do Sul, de mais um jovem realizador a ter em conta na nova vaga de cineastas oriundos do continente asiático.

Classificação: 8/10

segunda-feira, novembro 14, 2005

Dark Water (Honogurai mizu no soko kara)


Japão, 2002, 102Min.

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Hideo Nakata, realizador do filme de culto “Ringu” que deu origem ao remake americano “The Ring – O Aviso”, é também o realizador de “Dark Water” (Honogurai mizu no soko kara), outra obra seminal da recente avalanche de obras de terror asiáticas, que têm sido proveitosas, para os tão bem sucedidos remakes à americana, a maior parte das vezes bem piores que os originais.

É curioso verificar que os remakes de “Ringu” e “Honogurai mizu no soko kara” foram entregues a Gore Verbinski (realizador da aventura “Pirata das Caraíbas”) e Walter Salles (“Diários de Che Guevara”), respectivamente. E enquanto que estes dois remakes até superam os originais em alguns aspectos, o que é curioso verificar é que a sequela de “The Ring” foi entregue a Hideo Nakata (o realizador original) e os resultados ficaram bastante abaixo do que seria de esperar. É uma sequela onde falta praticamente tudo o que tornou “Ringu” um objecto de culto.

Honogurai mizu no soko kara” apresenta algumas similaridades com “Ringu”, tais como a utilização da água como elemento fulcral da tragédia sofrida, a presença fantasmagórica de uma rapariga de longos cabelos negros e o uso de espaços claustrofóbicos para criar o ambiente denso de tensão. Ambas as películas têm o mesmo realizador, Hideo Nakata, e o mesmo argumentista, Koji Suzuki (considerado o Stephen King japonês), daí as semelhanças entre as duas películas.

Sinopse: O argumento do filme centra-se em mãe e filha que mudam para um apartamento enquanto decorre o processo de divórcio litigioso. O apartamento não apresenta grandes condições de habitabilidade mas a mãe acredita ser a solução temporária mais adequada. No entanto, subitamente, começam a aparecer manchas de água no tecto, provenientes do apartamento do andar superior, supostamente vazio. Insegura da sua própria sanidade mental, a mãe inicia uma investigação na tentativa de descobrir o que se está a passar no apartamento. Entretanto, a sua filha começa a adoptar um comportamento bastante estranho afirmando que tem visões de uma menina de cabelos longos e negros…

Crítica: Hideo Nakata é característico por conseguir criar um ambiente de tensão utilizando os espaços claustrofóbicos (poços, elevadores, tanques, etc) para esse efeito. Em “Dark Water” Nakata constrói uma narrativa que deriva do drama humano tendo como pano de fundo o sobrenatural, utilizando habilmente esses elementos. Nos primeiros dois terços de filme o cineasta incide a narrativa no estudo dos personagens, centralizando toda a história numa mãe insegura, preocupada e protectora da sua filha. A situação do divórcio litigioso e dos estranhos fenómenos que sucedem na casa contribuem para uma maior insegurança e intranquilidade da mãe, ao ponto de esta duvidar da sua própria sanidade mental. Hitomi Kuroki tem um desempenho notável como Yoshimi ao personificar uma mãe à beira do colapso, tentando endireitar a sua vida e providenciar o melhor para a sua filha, ao mesmo tempo que tem de lidar com problemas reais e sobrenaturais.

O desenrolar do filme é pois bastante lento até ao clímax final. Com poucos (ou mesmo nenhuns) efeitos especiais Hideo Nakata contrapõe esses momentos de narrativa lenta com um hábil trabalho de câmara e a utilização dos espaços para criar a atmosfera densa de tensão. O clímax final à semelhança de “Ringu” é bastante eficaz e verdadeiramente assustador. Decorre num elevador e tem todos os traços de originalidade do cineasta e … assusta mesmo!

No entanto, após o clímax, ficamos sem compreender a razão pela qual se sucederam os acontecimentos naquele apartamento. É um daqueles finais em aberto, capazes de estragar todo um filme. Contém algumas boas cenas de suspense / terror, é um facto, mas o último terço, após o clímax, consegue arruinar inteiramente a película. A suposta explicação para os acontecimentos é tão desconexa e irreal que quase… insulta o espectador.

Em “Dark Water” é mais uma questão de forma do que de conteúdo Hideo Nakata tentou utilizar uma estória de fantasmas para ilustrar um drama humano, tentando criar um quadro emocional forte suportado pelo sobrenatural. Obviamente, falha em ambos níveis, criando um filme algo desapontante no universo dos filmes de terror asiáticos. Já agora, alguém viu o remake americano? Confesso que, depois de visionar o original, não tive vontade de ver o remake…

Classificação: 5/10

Sérgio Lopes
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sexta-feira, novembro 11, 2005

Gabal (The Wig)


Coreia do Sul, 2005, 106Min.

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Depois do sucesso mediático das obras de terror asiático de Hideo Nakata, nomeadamente, “Dark Water” e “Ringu” (ainda que sejam filmes com aclamação algo exagerada), parece que este género de cinema está na moda. Vários têm sido os novos realizadores asiáticos a conceber películas com o intuito de assustar o espectador. O principal problema tem sido superar o pioneirismo de Nakata, por isso, é raro, uma obra superar as duas obras acima citadas. A solução tem passado, não pela imitação, mas por uma espécie de abordagem paralela ao tema explorado por Nakata. É o caso de Gabal. A maldição incide, desta vez, numa…peruca.

Sinopse: Su-hyeon, uma rapariga com leucemia, sai do hospital após tratamentos intensivos de quimioterapia. O médico transmite à irmã Ju-hyeon que Su-hyeon apenas tem uma semana de vida. Ju-Hyeon oferece uma peruca à irmã que entretanto perdera todo o cabelo devido aos tratamentos e aguarda resignada pela inevitável morte desta. No entanto, após colocar a peruca, Su-hyeon melhora subitamente a olhos visto, ao mesmo tempo que estranhas mortes vão sucedendo…

Crítica: É óbvio que a peruca está possuída por um espírito (Novidade? Só no objecto da possessão) e consequentemente toma conta da vida de Su-hyeon, mudando-lhe os hábitos, atitudes e até o aspecto físico. Rapidamente a situação irá se degradar e ter repercursões nas pessoas que rodeiam Su-hyeon, nomeadamente a irmã e seu namorado.

O jovem realizador Shin-yeon Won utiliza os diversos clichés do género para criar o ambiente de horror. No entanto, não se sai muito bem. A toada é demasiada lenta e não há grande desenvolvimento de personagens e essa narrativa lenta nos primeiros dois terços do filme é contraposta com o clímax e o twist final no último terço do filme. Apesar de tudo, o twist final é um pouco sangrento, brutal e inesperado e será isso que poderá de alguma forma salvar o filme.

Gabal é mais um filme de terror asiático, razoável, com algumas surpresas e alguns bons momentos de horror e com interpretações seguras. Perde obviamente, comparativamente com os percursores do terror asiático na medida em que é uma abordagem idêntica a um género já experimentado.

Classificação: 4/10

Sérgio Lopes

segunda-feira, novembro 07, 2005

Silmido


Coreia do Sul, 2003, 135Min.

Com o recente crescimento do cinema coreano, filmes com maior orçamento têm sido lançados para os ecrãs de cinema, normalmente focando pontos e / ou episódios marcantes da história Coreana. É o caso de Silmido – Código de Honra, um blockbuster de grande sucesso, baseado em factos verídicos.

A acção decorre em 1968. Um comando norte-coreano infiltra-se em Seul, com o objectivo de assassinar o presidente Park Jeong-hee. A operação fracassa e como medida de retaliação, os serviços secretos sul-coreanos decidem pôr em prática um plano para eliminar Kim Il-seong, o líder da Coreia do Norte. Para esse efeito, recrutam cerca de trinta indivíduos à margem da sociedade, sobretudo condenados à morte, que são levados para uma ilha deserta (denominada Silmido), com o objectivo de os tornar máquinas de morte e de os motivar ao cumprimento de uma missão que, supostamente, precipitaria a união da península coreana.

Silmido gerou enorme polémica no seu país, devido principalmente ao seu tom de crítica política a um acontecimento real, numa península ainda hoje dividida pelo Norte e Sul. Muitas vozes de desconforto se ergueram, principalmente contra a forma como a história foi contada e como os personagens foram descritos.

Muitas vezes comparado com o filme americano The Dirty Dozen, Silmido perde-se na concepção Épico / Melodrama, o que acaba por ser a sua maior fraqueza. A primeira metade é um épico de guerra puro (um pouco como a primeira metade de Full Metal Jacket – assistimos ao treino dos soldados), enquanto que a segunda metade é recheada de laivos melodramáticos. De duração um pouco excessiva, o realizador Woo-Suk Kang não consegue brilhar em nenhum dos registos.

No entanto, tem os seus pontos positivos, nomeadamente, grandes cenas de batalha (muito bem coreografadas), excelente fotografia e partitura musical que enfatizam na perfeição as partes melodramáticas e épicas da película. A nível interpretativo contém personagens fortes, credíveis e bem delineados. Por outro lado, o excesso de machismo, masculinidade e patriotismo conferem algum exagero ao filme.

Como entretenimento, Silmido é um filme aceitável, talvez longo demais e com os pontos negativos já citados anteriormente. Não é das melhores obras coreanas. O problema será já termos visionado filmes americanos do género, por isso a comparação poderá não ser justa. Mas de facto, comparativamente com um homónimo americano, mesmo com as limitações apontadas, não é um filme inferior; não traz é muita coisa de novo a não ser a abordagem histórica a um acontecimento real.

Para quem gostar de épicos de guerra com um tom dramático acentuado, não deve perder Silmido, com a vantagem de que é baseado em factos reais, logo temos a possibilidade saber um pouco mais sobre a história da Coreia do Sul.

Classificação: 6/10

Sérgio Lopes

sábado, novembro 05, 2005

Evolução do CInema Asiático

Não foi há muito tempo que o cinema asiático era maioritariamente conhecido apenas pelos filmes japoneses do grande Akira Kurosawa ou pelos filmes indianos de Satyajit Ray. No entanto, e a partir, principalmente, da década de 80, assistiu-se a uma grande evolução da sétima arte no continente asiático. Novos realizadores surgiram, como novas ideias e novas abordagens à realização, que tornaram possível a ocidentalização do cinema asiático.
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sexta-feira, novembro 04, 2005

The Doll Master


Coreia do Sul, 2004, 90Min.

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Nem só de filmes de qualidade vive a Coreia Do Sul. Sendo a obra de estreia do cineasta Yong-Ki Jeong, The Doll Master é um bom exemplo de um mau filme. Na realidade, o cineasta não tem uma estreia muito auspiciosa, ao contrário da tendência geral desta cinematografia coreana para nos surpreender, quase sempre com propostas arrojadas, arrebatadoras e de extrema qualidade.

Cinco jovens são convidados a posar para uma escultura numa galeria de bonecas perdida nas montanhas. A beleza do local parece própria de um conto de fadas, mas algo está errado. Há ruídos à noite...e as bonecas parecem seguir os seus movimentos.

Baseado nesta premissa, até seria possível construir um filme bastante interessante no domínio do horror. No entanto, em vez disso, o cineasta coreano cria uma espécie de versão asiática de “Chucky – O Boneco Diabólico”, onde o terror provém de bonecas assassinas que se assemelham a adultos de carne e osso.

E enquanto que ao visionarmos Chucky, já sabemos ao que vamos assistir (um filme idiota, mas que em última análise nos dá muita vontade de rir, pois quer queiramos quer não, o boneco Chucky é delirante!), em “The Doll Master” há uma espécie de amálgama entre drama lamechas e filme de terror sem fio narrativo intermédio. Salva-se a beleza natural da actriz/boneca diabólica.

O argumento, não faz, na realidade, sentido nenhum; é simplesmente ilógico e porque não dizê-lo, estúpido a espaços. Nem a bela fotografia utilizada salva a película. Os actores parecem autênticos rookies. Nunca um casting terá falhado tão redondamente como nesta película…Parece que estamos a observar aqueles actores principiantes das séries juvenis americanas.

The Doll Master é um mau filme de terror. Por favor, não comparem este filme à grande panóplia de obras coreanas de diversos géneros que saltaram para as salas de cinema, principalmente, nos últimos 4 anos. Nada comparável aos brilhantes “A tale of two sisters” ou “Audition”, entre outros filmes de terror asiáticos recomendáveis, que poderia ter citado. The Doll Master é perfeitamente dispensável.

Classificação: 2/10

Sérgio Lopes

quinta-feira, novembro 03, 2005

Dolls

Japão, 2002, 115Min.

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Desde 1989 que Takeshi Kitano, escreve e realiza em média um filme por ano (alguns protagoniza), mantendo sempre os traços de originalidade e sensibilidade artística que lhe granjearam notoriedade mundial. Com Dolls, Kitano experimenta a incursão nos domínios da violência psicológica e da tragédia humana.

Sinopse: Trata-se de três histórias sobre amor eterno: Ligados por uma corda vermelha, um casal jovem vagueia em busca de algo perdido; Um yakuza em final de vida regressa ao parque onde costumava encontrar-se com a sua namorada e onde juraram amor eterno; Uma estrela pop feminina desfigurada é confrontada com a fantástica devoção do seu maior fã; São três histórias, subtilmente intercaladas, pela beleza da tristeza…


Crítica: Dolls é um grande filme sobre o amor verdadeiro e o sentido da vida. É um filme deprimentemente belo. É visualmente assombroso e emocionalmente brutal. É, no entanto, perigosamente realizado por Kitano, pois contém inúmeros simbolismos (cores fortes, elementos da cultura japonesa, etc), que quando não correctamente interpretados, podem fazer com que o espectador menos atento, interprete o filme como um conjunto de cenas sem sentido, ou até, um filme aborrecido, tal é a toada lenta da película. E, de facto, quem não gostar de películas com toada lenta, não deve ver este filme…

Na minha opinião, Kitano faz um bom trabalho ao utilizar esses simbolismos para enfatizar o sofrimento dos protagonistas. Com poucos diálogos, o cineasta tenta transpor a história (ou as histórias) para o écrân através das imagens. É um filme altamente metafórico e introspectivo, que vive da estética em detrimento dos diálogos. Tudo deriva daquilo que conseguimos subentender da fabulosa fotografia.

A nível de interpretações, qualquer dos actores é capaz de transmitir o seu estado de espírito utilizando apenas a expressão facial. Seria possível com actores não asiáticos? A nivel de montagem, Kitano utiliza os flashbacks em contraponto com a narrativa lenta para nos mostrar os pesadelos e memórias do passado dos protagonistas.

Em "Dolls" Takeshi Kitano afasta-se da sua peculiar abordagem ao cinema violento (thriller yakuza) e apresenta o seu filme mais poético e introspectivo até à data. No festival de Veneza foi injustamente mal recebido pela crítica, concerteza surpreendida pela mudança extrema de registo do cineasta. Mas é, de facto, um grande filme de Kitano, o que demonstra um realizador talentoso em qualquer registo, mantendo o superior nível de realização e a sua marca pessoal. Recomendável.

Classificação: 8/10

Sérgio Lopes

Mais Críticas 1

quarta-feira, novembro 02, 2005

Audition (Odishon)


Japão, 1999, 115Min.
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Takashi Miike é um dos cineastas japoneses mais singulares, criando nos seus filmes uma atmosfera de horror, servida por um festival gore e de violência gráfica, susceptível de chocar qualquer espectador. Audition – Anjo ou Demónio, é talvez o título mais emblemático, pois contém todos os traços característicos da sua filmografia que tornou o cineasta conhecido fora do continente asiático.

Sinopse: Sete anos após a morte da sua esposa, um executivo de uma grande empresa, Aoyama, com a ajuda de um amigo cineasta, assiste a uma audição para a escolha de uma actriz, para o papel principal. Essa audição tem indirectamente o propósito de encontrar uma possível esposa para Aoyama. Imediatamente, Aoyama fica fascinado por uma das raparigas, Yamazaki Asami, uma bela e misteriosa jovem com formação em ballet. Apesar de Asami não ser seleccionada para o filme, Aoyama liga-lhe e convida-a para jantar. Só volta a contactar a rapariga mais tarde com medo de acelerar as coisas muito rapidamente. Asami deixa o telefone tocar; ela está sozinha, num quarto escuro, mas, na realidade, não está completamente sozinha… Ao seu lado está uma das suas vítimas, que Asami mantém fechada, dentro de um saco, no chão…!


Crítica: Baseado na premissa descrita na sinopse, pode-se dizer que Audition é um filme com duas partes completamente distintas: A primeira parte, narrada a um ritmo lento, com um ambiente de mistério e estudo profundo de personagens, onde é contada uma história de amor; quase como um drama romântico com um tom de violência psicológica e sofrimento humano, subjacentes.

A segunda parte do filme apresenta todos os traços característicos que definem o universo cinematográfico de Takashi Miike: Ultra-violência gráfica e o uso abusivo do gore, alternado com um jogo muito interessante de luzes e cores utilizados pelo realizador para enfatizar as cenas dos sonhos/alucinações, dos protagonistas.

A narrativa passa, portanto, por dois estágios difeentes: primeiro existe um atmosfera lenta e negra de mistério e drama humano, culminando com uma atmosfera colorida e luminosa de horror e violência gráficas. A fotografia e a montagem, de ambas as partes constituintes do filme, têm um papel preponderante para a ligação entre estilos. Essa ligação entre ambas as partes funciona porque Takashi Miike, consegue fazer com que o espectador se interesse pelos personagens. Eihi Shiina, que interpreta o papel de Asami, é simultaneamente bela e terrivelmente maligna e psicologicamente afectada. Esta dualidade é personificada na perfeição pela actriz asiática.


Infelizmente, a singularidade da película é muitas vezes incompreendida devido ao seu conteúdo extremamente violento. Como consequência, tem quase sempre uma leitura ambígua: Demasiado violento para os espectadores de cinema em geral; demasiado intelectual para os fás do terror gore, devido, principalmente, à primeira hora de filme

Audition é um daqueles filmes, que à parte das cenas mais violentas, nos deixa a pensar. Um pouco, à semelhança de Shining, de Stanley Kubrick, depois de o visionarmos, voltam a surgir imediatamente algumas cenas que ficaram gravadas na memória. E quando assim é, vale a pena visionar, porque significa que não se trata de apenas mais um filme…

Classificação: 7/10

Sérgio Lopes

Mais Críticas 1

terça-feira, novembro 01, 2005

Battle Royale


Japão, 2000, 120Min.

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Sinopse: Um grupo de estudantes do 9º ano é deixado numa ilha isolada levando apenas um mapa, alguma comida e várias armas (todas elas diferentes para cada um dos estudantes). Terão de se matar uns aos outros até ficar apenas um sobrevivente, ou serão todos dizimados. É esta a premissa do controverso Battle Royale do realizador veterano japonês Kinji Fukasaku.

Crítica: O principal problema de Battle Royale é o de parecer que estamos na presença de um grupo de adolescentes a praticar uma espécie de paintball mas… com armas reais. E qual a razão pela qual os adolescentes foram seleccionados para merecer tamanho castigo? É uma medida ultra-radical, do governo japonês, do novo milénio, à beira do colapso, na tentativa de servir de exemplo para uma juventude cada vez mais violenta e de uma sociedade cada vez mais dispersa. É, por isso, seleccionada uma turma à sorte por um antigo professor (interpretado por Takeshi Kitano). Será credível essa premissa? Mesmo eu não sendo grande conhecedor da cultura japonesa, parece-me um pouco forçado e ilógico.

Os primeiros 20 ou 30 minutos do filme são razoavelmente bem conseguidos. A partir daí é assistir à caça dos estudantes e consequente morte, que será comunicada pelo professor a uma determinada hora, diariamente. Aliás, o que se pode afirmar como um ponto positivo da película são as interpretações dos jovens actores e do conceituado realizador/actor, Takeshi Kitano.

Depois, há os clássicos clichés dos filmes do género: O psicopata sedento de sangue que escolhe sempre opositores que conseguem escapar milagrosamente; o génio de informática; o rapaz obeso; a vaidosa e popular rapariga de liceu; e o romance entre dois adolescentes “normais”; entre outros clichés.

Apesar das interpretações não comprometerem, não há, na realidade um grande estudo e desenvolvimento de personagem. A fotografia é óbvia e repetitiva e a nível de montagem, os flashbacks intermédios só servem para piorar a situação. A música também não é uma grande valia para a película.


Apesar de tudo, Battle Royale, foi um grande sucesso asiático, tendo sido altamente controverso no pais de origem e atingindo o estatuto de culto, um pouco pelo mundo inteiro, dando origem a uma sequela que aquando da estreia em sala, coincidiu com a morte do seu realizador Kinji Fukasaku.

Pessoalmente, penso que Battle Royale não traz nada de novo e apresenta inúmeras falhas de realização e buracos de argumento. Não apresenta nada a nível de inteligência, consistência e acima de tudo, beleza estética cinematográfica, tão característica do cinema asiático. No entanto, para quem quiser ver 30 maneiras diferente de matar um oponente, este filme é o indicado.

Classificação: 4/10

Sérgio Lopes