sábado, março 31, 2007

Zatoichi

Japão, 2003, 116Min.

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Sinopse: Japão, século 19. Zatoichi (Takeshi Kitano) é um caminhante cego que sobrevive como massagista e jogador de cartas, mas por trás da sua aparência humilde esconde-se um espadachim de raro talento. Numa das suas andanças ele chega a uma aldeia dominada pelo sanguinário Ginzo (Ittoku Kishibe), que, com a ajuda do samurai Hattori (Tadanobu Assano), seu capanga, elimina quem se oponha aos seus objectivos. O embate entre Zatoichi e a quadrilha de Ginzo torna-se inevitável quando o cego conhece duas gueixas que desejam vingar a morte dos pais...

Crítica: Zatoichi é um icon japonês, um herói nacional, adaptado ao cinema por mais de 26 vezes, entre 1962 e 1989 , sempre interpretado pelo mesmo actor, Shintaro Katsu, até à altura da sua morte, precisamente em 1989. Trata-se de uma série de filmes de muito sucesso e extremamente respeitados, ao qual Takeshi Kitano, quis prestar a sua homenagem, readaptando o personagem ao cinema e imprimindo-lhe o seu cunho pessoal.

Mas não se pense que este novo Zatoichi é uma continuação da série de filmes; antes pelo contrário é uma transformação, uma roupagem completamente nova e por essa razão, apesar dos elogios e da colecção de prémios internacionais, váras facções do japão não concordaram com o que consideram uma desvirtuação do original.

Zatoichi, o espadachim cego, é nesta nova versão interpretado pelo próprio Kitano, que acumula as funções de realizador e escreve também o argumento. É uma espécie de justiceiro solitário, semelhante aos personagens interpretados por Clint Eastwood, calmo, sereno, sem transparecer emoções, mas ultra rápido com a espada, acima de tudo um homem de bom coração, apesar de jogador inveterado. A chegada do espadachim cego a uma pequena vila, irá desencadear uma luta para salvar a comunidade da ditadura imposta pelo sanguinário Gizu.

A nível de actores, além de Kitano, destaque para o seu arqui-inimigo Hattori, interpretado por um sempre competente Tadanobu Asano (Gohatto). Kitano pega numa premissa básica de filme de vingança, e ao aplicar o seu cunho pessoal, cria um objecto no qual fotografia, cenários e música, estão afinados e adequados ao ambiente do filme, prestando por um lado um tributo aos filmes do género dos anos 60 e 70, e por outro lado, acrescentando um toque moderno. As cenas de luta estão muito bem coreografadas (a rapidez do espadachim é completamente visível ao espectador) e até o vermelho carregado do jorrar do sangue acrescenta uma dose de humor (tal como Kill Bill) pouco vista neste tipo de filmes.

Ainda assim, Zatoichi não é o melhor filme de Kitano, mas dada a sua premissa minimalista, pode-se dizer que o cineasta Japonês, consegue cria um objecto capaz de atingir vários públicos, acessivel, esteticamente irrepreensivel, com humor, acção e suspense, num cocktail que não deixa ninguém indiferente. Sem querer estragar o visionamento, apenas chamo a vossa atenção para o excelente número de sapateado em pleno Japão Feudal do século 19 que ocorre o filme... Portanto, se pretendem ser surpreendidos, pela abordagem pouco convencional que Kitano imprime ao género, então não devem perder Zatoichi!.

Sérgio Lopes

quarta-feira, março 28, 2007

Workaholic?

Já ouviram falar em workaholic ? É uma expressão americana que teve origem na palavra alcoholic (alcoólico). Serve para denotar uma pessoa viciada, não em álcool mas em trabalho. Não é o meu caso, mas devido a compromissos profissionais, as próximas 3 semanas vão ser extremamente preenchidas, por isso, peço a todos os leitores assíduos do cineasia a compreensão para o facto da actualização do blogue nesta fase ser menos efectiva. Para já, prometo que só lá para sábado terei alguma hipótese de postar algo... O meu pedido de desculpas, mas o momento assim o obriga. Obrigado pela compreensão.

Sérgio Lopes

terça-feira, março 27, 2007

Chermin será submetido a Cannes

Estreado esta semana na Malásia, Chermin, é o nome do primeiro filme do cineasta/argumentista Zarina Abdullah e centra-se numa mulher que é assombrada por um espírito aprisionado num antigo espelho: "Nasrin é uma jovem mulher cuja face fica desfigurada num estranho acidente de automóvel. Quando descobre um antigo espelho escondido num quarto da casa, começa a trasformar o fascínio por esse objecto numa obsessão, ao ponto de se confundir com a suposta entidade aprisionada no fatídico espelho...".

Ao que parece será submetido a diversos festivais internacionais, incluíndo o festival de Cannes Está disponível o site oficial, com variada informação sobre o filme incluíndo, fotos e um teaser trailer, que pode ser acedido clicando AQUI , bem como um trailer completo legendado em inglês que pode ser visualizado AQUI.

Sérgio Lopes

sábado, março 24, 2007

The Isle (Seom)

Coreia do Sul, 2000, 88Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos


Sinopse:
Depois de perder a inocência, uma mulher deixa de falar. Como um pássaro numa gaiola, vive isolada numa ilha bordel onde dá bebidas aos pescadores e os consola, juntamente com outras mulheres, nas horas de aborrecimento. A chegada à ilha de um pescador com vontade de se suicidar vai quebrar-lhe a rotina. Apesar de o ter salvado da morte e de ser a sua amante, a mulher não consegue prendê-lo ao seu amor. O final é feito de horror, sangue e muitos anzóis...

Crítica: Kim Ki-Duk é um dos nomes incontornáveis da nova vaga do cinema coreano, um cineasta com a sua marca autoral e que gera opiniões contrárias sobre as suas obras. No seu próprio país de origem os seus filmes não são gerlamente bem recebidos e curiosamente têm melhores resultados fora de portas. Por essa razão, filmes como Bad Guy, Samaria ou The Isle, são filmes que por explorarem a sexualidade de uma forma peculiar, geram aclamação e ódio quase em igual medida, sobretudo pela forma violenta e chocante como Ki-Duk aborda o tema, embora sempre poética.

E The Isle (em português O Bordel Do Lago) não foge è regra. Trata-se de um objecto desconcertante explora a problemática dos relacionamentos humanos na sua forma mais visceral e primitiva. A acção decorre numa ilha, com carcterísticas especiais, onde pequenas casas flutuam no lago que a circunda e permitem aos homens transformar em realidade as suas mais estranhas fantasias sexuais.

Hee-Jin, uma bela surda responsável por conduzir os homens às respectivas casas, vai se envolver com um polícia fugitivo, Hyun-Shik, num relacionamento que tem tanto de passional como de obsessivo e sádico. Duas almas desesperadas vão viver um relacionamento explosivo, que culmina em violência e morte, após os ciúmes integrarem a equação.

Embora à primeira vista, a premissa seja bastante básica, a forma poética como Ki-Duk desenvolve a narrativa, permite-lhe afastar de quaisquer clichés. Com pouquíssimos diálogos, a acção avança através dos actos dos personagens e das suas decisões. Por essa razão, o ambiente é sereno e o desenvolvimento bastante lento, mas a forma poética e metafórica como Ki-Duk aborda o tema e o visual assombroso do lago, permitem que a acção se desenrole com normalidade.

Aliás, a beleza dos cenários contrasta com o manancial de personagens desesperadas e com a violência dos actos. Os anzóis, como elementos metafóricos, são utilizados para fins muito pouco recomendados e são capazes de impressionar os mais sensíveis. Algumas cenas onde peixes são cruelmente cortados (vivos e na realidade), não devem ser do agrado dos defensores dos animais.

Kim Ki-Duk, cria com The Isle, um filme esteticamente belo, intimista, mas de dificil visualização, onde explora o relacionamento de dois seres, de forma depressiva, negra e violenta. O final do filme é deixado em aberto e embarca no limite entre o real e o surreal, remetendo ao espectador a sua própria interpretação. Vencedor do prémio especial do júri e do prémio de melhor actriz para Jung Suh, na edição do Fantasporto de 2001, 'O Bordel Do Lago' é um dos títulos incontornáveis na filmogrfia de Kim Ki-Duk, um filme que visa a exploração sexual e os relacionamentos pessoais, como só o cineasta coreano o sabe fazer.

Sérgio Lopes

sexta-feira, março 23, 2007

Bollywood vai rodar filmes em Portugal

A indústria de cinema indiano, a famosa Bollywood, poderá rodar filmes em Lisboa e em "outros locais exóticos" e assim levar mais turistas indianos a Portugal, noticia o jornal India Times. O jornal indiano afirma, que os governos dos dois países estão a traçar os detalhes finais de um acordo para facilitar a ida a Portugal de equipes de filmagem indianas, acordo esse firmado durante a visita do presidente português, Cavaco Silva, à Índia.

Inspirado em Hollywood, nos Estados Unidos, e situado perto de Bombaim (daí o nome), Bollywood é o maior centro de produção cinematográfica do mundo. Anualmente, produz mais de 800 filmes num país onde se estima que 14 milhões de pessoas vão ao cinema diariamente.

Segundo o jornal, este acordo poderia ser uma oportunidade para Portugal atrair mais turistas indianos e promover a aproximação entre os povos dos dois países, "muito centrada em Goa", colônia portuguesa na Índia até 1961. Outro dos pontos do memorando prevê um maior intercâmbio para a exibição de filmes indianos e portugueses nos dois países, principalmente em festivais de cinema. A edição deste ano do Fantas, no Porto, por exemplo, incluiu na sua programação uma retrospectiva dedicada ao cinema de Bollywood.

Sérgio Lopes

quinta-feira, março 22, 2007

Próximo filme de Miyazaki

Hayao Miyazaki (Princess Mononoke, My Neighbour Totoro, Nausicaa, entre outros) encontra-se actualmente a trabalhar num novo projecto. Corriam rumores que seria, uma adaptação de um livro infantil, de anime, chamado 'I Lost my Little Boy', trabalho do escritor chinês chamado Yishu. No entanto, o próprio Miyazaki desmentiu-o pulicamente. Ao que parece o novo filme vai se chamar sim Gake no ue no Ponyo, com a tradução literal (não oficial) Ponyo on a Cliff.

Em vez de uma adaptação, trata-se de uma história original que se centra nas vidas de um rapaz de 5 anos de idade chamado Sosuke (baseado nas características físicas do seu próprio neto) e de uma peixe dourado chamada Ponyo que anseia por se transformar num ser humano. Esperam-se os habituais elementos de Miyazaki, transportados para cenários marítimos. Mais informações serão colocadas no cineasia assim que estiverem disponiveis.

Sérgio Lopes

quarta-feira, março 21, 2007

The Host vai ter remake americano

Depois de com Memories Of Murder, o seu segundo filme , ter criado um dos melhores policiais da história do cinema, o cineasta sul-coreano Joon-ho Bong regressou este ano com The Host, uma das produções Coreanas mais caras do ano, e também um dos grandes filmes vindos da ásia até ao momento.

Contando com Bae Doona, Park Hae-il, Song Kangho (Memories Of Murder) e Byeon Hee-bong, nos principais papéis, The Host centra a premissa nos acontecimentos que ocorreram perto do Rio han onde um terrivel monstro, escondido nas profundezas, começa a atacar e aterrorizar a comunidade.

O filme foi um tremendo sucesso de bilheteira mundial e comportou-se bastante bem nos festivais europeus por onde passou. O lendário produtor Roy Lee, que trouxe a moda dos remakes para Hollywopd estava atento e os direitos de The Host foram adquiridos. O remake já está em marcha. Resta saber se um filme tão peculiar e tão diferente do típico monster movie, terá condições para triunfar num país onde o lucro fácil é o que interessa. Duvido e acima de tudo, recuso-me a ver esse remake que virá brevemente...
Sérgio Lopes

segunda-feira, março 19, 2007

Lovedeath de Ryûhei Kitamura

O regresso do realizador Ryûhei Kitamura (Azumi, Versus) dá-se com LOVEDEATH, um filme de acção non-stop baseado no manga "69" de Tsutomu Takahashi. O filme revolve em torno de um casal invulgar em fuga com uma soma de dinheiro, num thriller de acção frenético. Com Shinji Takeda, no papel principal, será um novo género abordado pelo cienasta depois da sucessão de épicos que misturavam elementos fantasiosos e artes marciais. Lovedeath estreia no Japão em Maio. O primeiro trailer pode ser visualizado no site oficial AQUI.

Sérgio Lopes

sábado, março 17, 2007

Sex & Fury (Furyô anego den: Inoshika Ochô)

Japão, 1973, 88Min.

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Sinopse: Ocho (Reiko Ike), carteirista e apostadora em Tokyo, acidentalmente acaba por se cruzar com os três gangsters responsáveis pela morte do seu pai e com alguns membros yakuza que a querem ver morta. Uma espiã europeia (Christina Lindberg) chegada ao local irá complicar ainda mais a vida a Ocho...

Crítica: Um dos géneros mais antigos e respeitados do cinema japonês é o género de filmes denominados por Sexploitation, no qual humor exarcebado, nudez, sexo e violência gratuita (com doses massivas de Ketchup), nas décadas de 60 e 70 serviam de contraponto às obras mais sérias de realizadores como Nagisa Oshima ou Shohei Imamura, entre outros, com filmes sem preocupações políticas, onde o puro entretenimento imperava. “Sex and Fury” (1973), de Norifumi Suzuki, é talvez o expoente máximo desse movimento.

“Sex and Fury” é na sua essência um filme de vingança, no qual partindo de uma premissa básica o exagero é a nota dominante. A bela Reiko Ike personifica Ocho e ficará para sempre ligada ao epíteto de rainha da "Pinky Violence", desinação pela qual são conhecidos este género de filmes. Aliás, uma série de filmes com o rótulo da Panik House entertainment, têm sido progressivamente lançados em DVD para todos os amantes da "Pinky Violence" onde está incluído não só 'Sex & Fury', como também a sequela 'Female Yakuza Tale: Inquisition and Torture'.

Cenas de luta envolvendo mulheres assassinas ultra-sexy, espadas e muita nudez, sangue exagerado que não impressiona, mas sim é cómico, tudo é misturado de forma surreal quase psicadélica, na medida certa, criando um cocktail de puro entretenimento, um hino ao mau gosto, mas com um equlibrio notável, fazendo de 'Sex and Fury' um icon do movimento exploitation, tendo influenciado inúmeros realizadores, incluindo o fantástico díptico Kill Bill, de Quentin Tarantino, que claramente bebe influências da série "Pinky Violence".

Norifumi Suzuki consegue com 'Sex and Fury' um filme essencial para a cultura pop japonesa. O uso do visual exagerado e de uma música disco-sound, no mínimo, hilariante, bem como a mescla de elementos levados ao exagero, faz de sex& fury, um percurssor do género, de essencial visualização para todos os fâns de light sexploitation. E já agora, para quem apreciou Kill Bill, dê uma vista de olhos em Sex & Fury e descubra as semelhanças...

Sérgio Lopes

sexta-feira, março 16, 2007

Projectos em marcha, sobre SARS

Estúdios de cinema na China e em Hong Kong começaram a trabalhar em projectos sobre a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, na sigla em inglês). Dois filmes cujos enredos envolvem a doença, que já matou pelo menos 219 pessoas na China e fez 204 vítimas em Hong Kong, devem começar a ser filmados em breve, disse o jornal Screen Daily. A empresa Mandarin Filmes, de Hong Kong, está a produzir "The City of Sars" (A cidade da Sars, em tradução livre), filme que será dirigido por Steve Cheung e deve chegar aos cinemas já em julho. Classificado como uma "comédia dramática", o filme vai entremear três histórias centradas no processo de contaminação pela doença: Uma delas é uma história de amor entre duas pessoas que se conhecem quando são forçadas a ficar sob quarentena. A segunda acontece em torno da dura rotina de médicos que trabalham em Hong Kong. A terceira é sobre um homem de negócios que tenta ser contaminado pelo vírus, depois que a doença provoca a sua falência.

A premiada actriz Gong Li está a ponderar aceitar o papel num filme chinês sobre a Sars, de acordo com o jornal Beijing Times. Se isso acontecer, ela vai interpretar uma enfermeira que trata muitos pacientes com Sars até se contaminar também. Gong é uma das actrizes chinesas mais famosas no Ocidente, mais conhecida pelo seu trabalho em Lanternas Vermelhas, de 1991. Ela ganhou o prêmio de melhor actriz secundária do Círculo de Críticos de Filme de Nova York em 1993 e inúmeras outras homenagens ao seu trabalho.

Marcus Vinicius

quarta-feira, março 14, 2007

Cure (kyua)

Japão, 1997, 111Min.

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Sinopse: Pessoas aparentemente normais (um professor, um policia, uma médica), após manterem contacto com um homem, Mamiya (Masato Hagiwara) que parece sofrer de amnésia, matam os seus entes mais próximos cortando-lhes as artérias carótidas e marcando-os com um x do pescoço até o peito. O detective Takabe (Kôji Yakusho) será o responsável pela investigação tentando encontrar a razão das ocorências bizarras...

Crítica: Kiyoshi Kurosawa (sem qualquer ligação directa com o mestre Akira Kurosawa) é um cineasta prolífico, lançando cerca de dois a três filmes por ano desde 1983, sendo um dos valores seguros da nova vaga de realizadores Japoneses. Foi justamente com Cure que crítica e público europeu e norte-americano começaram a prestar atenção ao seu trabalho, graças à passagem do filme pelos vários festivais de cinema mundiais, elevando Kiyoshi ao estatuto de autor. A sua principal característica é o uso do sobrenatural de uma forma invulgar levando a uma certa subversão do género, abordando-o de uma maneira muito própria.

Assim, Cure, não é um filme de terror, mas sim um thriller, de contornos sobrenaturais. A nível comparativo, podemos afirmar que Cure é um thriller nos moldes de Se7en, no qual, polícia e assassino (?) criam uma espécie de empatia invulgar. No entanto, a abordagem de Kiyoshi Kurosawa é bastante diferente da de David Fincher e o cineasta japonês baseia toda a narrativa no confronto psicológico entre a mente doentia de Mamiya e a aparente racionalidade do policia que tenta descortinar a origem dos crimes.

E tal como em Se7en, em Cure, há de novo um verdadeiro tour de force entre dois homens, dois grandes actores japoneses, ambos com performances tão incriveis e uma empatia tal, que chega a assustar de tão realista. Mamiya é um pobre coitado que parece sofrer de amnésia. Cada pessoa que tem contacto com ele, aparentemente comete um crime. Mamiya responde sempre às perguntas com uma outra pergunta; è um personagem aterrador, perturbante na forma como manipula e controla as mentes humanas, enigmático e poderosamente interpretado por Masato Hagiwara.

Por outro lado, Takabe é o polícia racional. No entanto, a sua própria esposa sofre de uma doença mental. Vive num emprego onde cria os seus próprios demónios e quando chega a casa o cenário não é o melhor. Será que a sua sanidade mental estará intacta? Kôji Yakusho (recentemente visto em Babel) é Takabe numa performance que tem tanto de carismática como de poderosa. Os dois vão criar uma relação tão próxima quanto perigosa...

Para além da absoluta perfeição no casting, Cure mascara o género thriller apostando no tema do hipnotismo e do poder da sugestão e é exactamente por aí que cativa a audiência. Grande parte do mérito vai para Kurosawa, que escreve e realiza Cure, pegando numa temática insólita e perigosa, redige um argumento perfeito e apresenta uma gestão da narrativa notável, onde cada cena é genuinamente misteriosa e intensa. Utilizando longos planos-sequências, com elaborados enquadramentos, os contrastes entre claro e escuro e o uso de cinzentos saturados , longos silêncios, locais desertos e isolados, a quase ausência de música, Cure respira um ambiente de tensão constante, quase hipnótico.

Cure não se trata de um filme de terror, embora possa encaixar seguramente nas grandes obras de terror psicológico. O final do filme deixa algumas pontas soltas, por isso, é preciso estar muito atento ao úkltimo frame do filme (mesmo, mesmo o último) para tentar perceber o que Kurosawa pretende transmiitir. Kiyoshi Kurosawa tem em Cure a sua grande obra-pima, um thriller criminal perturbante, completamente original e que mexe com o espectador. Há pouco sangue e gore, mas ninguém consegue ficar indiferente e afectado pela atmosfera desconfortável de Cure. Altamente recomendável!

Sérgio Lopes

segunda-feira, março 12, 2007

Bong Joon-Ho, Michel Gondry e Leos Carax juntos

Bong Joon-Ho (The Host), Michel Gondry (Eternal Sunshine Of The Spotless Mind; The Science Of Sleep), e o relativamente desconhecido Leos Carax vão colaborar juntos num esforço a três mãos intitulado 'Tokyo'. O filme será similar a New York Stories, no sentido de ter proporcionado a Martin Scorese, Woody Allen e Francis Ford Coppola, trabalharem juntos e filmarem, cada um deles, um segmento sobre Nova York. Desta feita cabe aos três jovens e promissores realizadores fazerem o mesmo mas sobre a capital japonesa. O início do projecto está agendado para o verão. O mais curioso é o projecto não contemplar nenhum realizador japonês...

Sérgio Lopes

sábado, março 10, 2007

Shanghai Dreams (Qing Hong)

China, 2005, 123Min.

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Sinopse: Nos anos 60, encorajadas pelo governo, um grande número de famílias na China deixa as cidades para se estabelecer nas regiões mais pobres do país.

Crítica: Nos anos 60, o governo chinês colocou em prática a “Terceira Linha de Defesa”, estratégia que consistia em deslocar para o interior diversas fábricas acompanhadas de famílias inteiras de trabalhadores para ocupar zonas desabitadas temendo uma invasão soviética. Duas décadas depois, a China dava os seus primeiros passos para uma abertura cultural e económica. Estava em curso, então, o desenvolvimento das cidades grandes como Pequim e Xangai, que enchiam de esperança todos aqueles que foram enviados para o interior e que mantinham um descontentamento diante de um ambiente estagnado e cercado da pobreza e que sonhavam em migrar para essas cidades grandes.

Nesse ambiente encontramos Qing Hong, uma garota que vive numa pequena cidade que descobre o primeiro amor e vive as suas primeiras aventuras como adolescente. Ao mesmo tempo, o seu rígido pai impõe-lhe severas regras de comportamento mas está determinado a voltar para Xangai.

Wu Zemim, pai de Qing Hong, mantém reuniões semanais com os seus colegas de fábrica onde discutem um plano para se mudarem para Xangai, com ou sem autorização do governo. Enquanto esse plano não sai do papel, a sua obsessão é fiscalizar a sua filha, exigindo dela empenho total nos estudos em total detrimento dos outros assuntos. Não aceita, por exemplo, que ela mantenha nenhum tipo de relacionamento ou que vá à festas ou qualquer outro passatempo que não seja os estudos e as tarefas domésticas. Apesar disso, Qing Hong faz de tudo para manter sua vida de adolescente como de uma outra qualquer. Uma rebeldia comportada que tenta seguir os seus instintos juvenis, mas que de certa forma aceita essa submissão pacificamente.

Até aqui, poderíamos estar diante do clássico tema de conflito de gerações. Um paralelo entre o tradicional choque entre pai e filha; Ou o tema político, quando vemos Wu Zemim a desafiar o próprio partido para tentar se mudar para Xangai sem autorização. Mas se esses conflitos poderiam ser entendidos como uma crítica ao sistema político, o resto do filme joga isso por água abaixo quando o realizador Wang Xiaoshuai expõe o seu lado mais panfletário — moral e político — onde explicita o que é certo e o que é errado a favor do governo. Um exemplo disso é a cena final do filme onde a família passa diante de um comboio da polícia que anuncia a execução de diversos criminosos.

Apesar disso, mais que tentar analisar o filme em si, é interessante entender um apaixonante país em constante transformação, assunto que parece ser uma obsessão do cinema chinês actual. Ao mesmo tempo que vemos filmes grandiosos com seus épicos históricos, a China apresenta filmes realistas que passam a limpo uma sociedade que viveu a época maoísta até os dias de hoje

É interessante notar que, apesar do filme estar ambientado na década de 80, ele poderia muito bem ser transportado para os dias de hoje, onde uma multidão de camponeses ainda espera pela chegada do milagre económico que parece não ultrapassar as fronteiras das grandes cidades. Ademais, o realizador Wang Xiaoshuai faz um retrato de uma época que ele fez parte. “ dedicado aos meus pais e aos muitos outros que compartilharam um destino similar”, disse na época de seu lançamento.

Voltando ao filme, a verdade é que Xangai Dreams discute o conflito entre esse sonho por parte dos migrantes em buscar um futuro melhor na cidade grande e a vontade da nova geração em permancer na cidade onde cresceram e ali estabelecerem sua vida e tiveram sua primeira paixão. E mais que uma simples história sobre conflito de gerações, Shanghai Dreams é um filme sobre sonhos. Seja ele, o sonho da busca de uma vida melhor economicamente desejado pelo pai, seja ele o simples sonho de viver a vida como ela se apresenta sonhada pela filha. Vencedor do Prémio do Júri no Festival de Cinema de Cannes em 2005.

Ric Bakemon

quinta-feira, março 08, 2007

Estreia da semana - Curse Of The Golden Flower

'China, século X. Na véspera do Festival Chong Yang, flores douradas enchem o palácio. O imperador (Yun-Fat Chow) regressa inesperadamente com o filho Jai (Jay Chou), com o pretexto de celebrar as festividades com a família, mas as relações tensas com a imperatriz (Li Gong) fazem suspeitar em outros motivos. Durante anos, a imperatriz manteve uma relação ilícita com o enteado, que por sua vez sonha fugir com o seu grande amor, a filha do médico imperial. Quanto ao príncipe Jai, preocupa-se sobretudo com a saúde da mãe e a sua obsessão crisântemos dourados. E, enquanto isso, o Imperador orquestra um plano secreto...'

Estreia esta semana o mais recente épico de Zhang Yimou (Herói; O Segredo Dos Punhais Voadores), com as super estrelas asiáticas Gong Li e Chow Yun Fat, Curse Of The Golden Flower - A Maldição da Flor Dourada. Depois dos recentes fracassos de The Promise ou The Banquet, pode ser que Yimou consiga dar um novo fôlego ao género. Não será de esperar outra coisa pois estamos na presença de um dos principais impulsionadores deste tipo de películas no ocidente.

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Trailer

Sérgio Lopes

terça-feira, março 06, 2007

Malice@Doll

Japão, 2000, 78Min.

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Sinopse: Malice é uma Doll, um tipo de androide concebido para consolar, dar prazer. O problema é que já não há quem consolar e Malice passa os dias a passear. É-lhe detectada uma avaria e Joe@Admin manda Malice ao Repairer para ser consertada. Malice perde-se e encontra um local que desconhece, onde se dá uma metamorfose e ela passa a ser um ser de carne e osso. Feliz com a sua nova condição Malice quer partilhá-la com os seus congéneres, mas os resultados não são bem o que tinha desejado.

Crítica: A história é simples, abordando conceitos básicos filosóficos do ser animado/inanimado, de se a felicidade está num corpo vivo e mortal ou numa máquina, virtualmente imortal.

Sendo Malice uma boneca para o prazer, é através do beijo erótico que se manifesta o seu poder de dar carne, beijo esse que anteriormente distribuía por não poder oferecer mais do que isso. Malice passa de um ser oco, vagueante, sem alma e imortal, para um ser de carne e osso, mortal, gerador de conflito e mal-entendidos. Como todo o ser com alma, ou animado, Malice arrepende-se e tenta reparar o mal que gerou ingénuamente, julgando estar a distribuir felicidade. A única solução fica numa nova metamorfose, num ser que já não tem poder no mundo carnal ou das máquinas, tornando-se apenas espiritual.

Difícilmente não deixo de encontrar nesta história paralelismos óbvios n’”A pequena sereia”, de Hans Christian Andersen, nas metamorfoses entre um ser de sangue frio, sem alma, imortal a um ser de sangue quente, capaz de amar, mortal e por fim um ser espiritual, sem laços com a matéria.

Aliando uma imagem gótica às limitações da animação 3D, estes 3 OAV’s resulta num conjunto visualmente muito interessante, que funciona como um filme único. A fotografia é escura, as cores escuras pontuadas por algumas cores vivas mais saturadas, o que colmata as eventuais falhas que uma animação 3D, sem um orçamento milionário, terá. Foi uma opção estética inteligente e bem conseguida, se bem que por vezes nem sempre se percebe o que se está a ver. Os “monstros” tais como Joe@Admin ou Devo@Leukocide acabam por se tornar um bocado indefinidos, não se percebendo muito bem onde começam e onde acabam. As bonecas, por sua vez, têm um character design elegante e bonito, destacando-se Doris@Doll, a boneca com um visual mais clássico nipónico.

A banda sonora condiz com a imagem gótica, parecendo que se está constantemente a ouvir o som de caixinhas de música, o que ajuda a dar o toque sinistro ao ambiente.

No seu conjunto, é um filme interessante, se bem que demasiado colado a uma estética específica que difícilmente agrada a todos. Técnicamente não é mau mas também não é surpreendente. Fica na memória mais pela sua estética soturna e tétrica do que por qualquer outro motivo.

Misato

segunda-feira, março 05, 2007

Teaser trailer de Forest Of Death

Danny Pang apresenta um novo thriller intitulado Forest Of Death, protagonizado por Shu Qi (Three Times) e Ekin Cheng (Heroic Duo), com estreia prevista para 22 de Março em Hong-Kong. A premissa baseia-se numa espécie de floresta amaldiçoada na qual apenas as árvores são testemunhas de um assassinato e poderão estar envolvidas no caso... Bizarro e estranho, mas vamos aguardar para ver. Para já podemos aceder ao teaser trailer disponível AQUI.

Sérgio Lopes

domingo, março 04, 2007

Fantasporto 2007 - Grandes Vencedores

'El Laberinto del Fauno', do realizador mexicano Guillermo del Toro, venceu o 27º Fantasporto - Festival Internacional de Cinema do Porto, ao ganhar o prémio para o melhor filme da Secção Oficial Cinema Fantástico, a principal do certame. É a segunda vez que o Mexicano vence o Fantas, após em 1994 tê-lo conseguido com 'Cronos'.

O cinema asiático voltou a brilhar no 27º Fantasporto, arrecadando vários prémios, como aconteceu com 'Isabella', de Ho Cheung Pang (China), que venceu a secção Orient Express e ganhou o prémio para a Melhor Actriz da Semana dos Realizadores, para Isabella Leong.

O mega blockbuster coreano 'The Host', de Bong Joon-Ho arrecadou o Prémio de Melhor Realização da Secção Oficial Cinema Fantástico, enquanto 'Time' de Kim Ki-duk, ficou com o Prémio Melhor Actor da Semana dos Realizadores. O cinema coreano volta a estar em alta no Fantasporto.

Sérgio Lopes

sábado, março 03, 2007

RAN

Japão, 1985, 160Min.

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Sinopse: No Japão feudal do século XVI o chefe da família Ichimonjis, lorde Hidetora, decide dividir os seus bens entre os três filhos e afastar-se do cargo. O único filho que se mantém fiel ao pai é banido pelos demais irmãos. Porém não demorará muito para que a cobiça e a ganância tome conta deles...

Crítica: É complicado dissertar sobre qualquer obra de Kurosawa, um dos principais realizadores de todos os tempos. Ao mesmo tempo que falar sobre ele assusta, pois é uma considerável responsabilidade, sendo simultaneamente desafiador e fascinante conhecer melhor p seu trabalho. A adaptação da famosa obra de Shakespeare, King Lear, levou cerca de 10 anos para ser produzida. Mas valeu a Kurosawa por Ran a nomeação para o Oscar na categoria de Melhor Realizador.

Ran significa literalmente loucura e\ou caos. Hidetora, personagem muito bem interpretado por Tatsuya Nakadai, mergulha na insanidade depois de uma série de ocorrências, deixando a maioria dos seus bens para o seu primogénito, Tora (Akira Terao), mas exige manter o seu título, morar no castelo com algum deles e manter 30 dos seus homens. Acontece que a mulher de Tora procura a vingança pela morte da sua família, chefiada por Hidetora, e manipula o marido para tomar as rédeas do feudo. Vivendo na fantasia de seu ex-império, o lorde enlouquece cada vez mais, enquanto os seus filhos começam a lutar por causa das terras e pelas posses do império outrora do pai...

Um dos pontos mais apelativos em Kurosawa é a forma, a riqueza de detalhes com que representa a cultura do seu país. Há outros exemplos, como Walter Sales quando tratou da triste realidade do nordeste do Brasil em Central do Brasil e Abril Despedaçado ou Juan José Campanella quando fala da crise que assolou a Argentina em meados de 2000 em El Hijo de la Novia e Luna de Avellaneda. São alguns exemplos de realizadores que têm muito cuidado com os detalhes, mas apesar da qualidade de ambos nenhum se compara com Kurosawa.

E Ran, não foge è regra; toda a primazia técnica está presente em cada frame da obra, seja na adaptação do argumento, enquadramento, desenvolvimento de personagens e até mesmo no figurino. A sua habilidade como editor também é excelente e merece destaque. Uma pequena prova disso contrasta entre a cena inicial e final: na primeira os belos campos verdes acompanham o céu enquanto que na segunda o céu está vermelho, desolado, com a pequena silhueta do personagem ao fundo. Um exemplo de cinema perfeito.

Outra facto que impressiona é o tempo que o filme levou para ser concluído e um dos grandes motivos do atraso foi o de o realizador estar com a visão bastante debilitada (os diversos storyboards produzidos foram essenciais). Outra razão é que Kurosawa nunca conseguia obter capital suficiente para fazê-lo (para se ter uma ideia da dimensão da produção, um castelo de verdade foi construído para as filmagens) até que Serge Silberman, francês que produziu com Luís Buñuel Le charme discret de la bourgeoisie e Le fantôme de la liberte, financiou o restante da produção.

São poucas as adaptações que fazem jus à obra original. Infelizmente não li a obra de Shakespeare, Ran é considerada de forma unânime, como a adaptação mais fiel e próxima. Tal como Kubrick, é difícil achar algum filme mau de Kurosawa e Ran - Os Senhores da Guerra é seguramente um dos melhores. Trata-se de um épico em grande escala vencedor do óscar para melhor guarda-roupa e nomeado nas categorias de melhor direcção artística, fotografia e melhor realizador. Cada plano é cuidadosamente planeado e filmado, sendo visualmente arrebatador. Um trabalho de extema criatividade de um dos mestres de sempre do cinema.

Marcus Vinicius

quinta-feira, março 01, 2007

Fantasporto - Destaque Dia 7

O grande destaque vai para Paprika, Selecção Oficial do Festival Internacional de Cinema de Veneza 2006. O japonês Satoshi Kon, conhecido realizador de Perfect Blue (1997), e a Mad House, produtora de filmes de animação como The Animatrix (2003), adaptaram para Animé (cinema de animação japonês) um romance de ficção científica de Yasutaka Tsuitui, considerado um mestre no género. Um novo aparelho de psicoterapia, o DC Mini, acaba de ser inventado no Japão. Um detective dos sonhos pode, com recurso ao dispositivo, entrar nos sonhos das pessoas e explorar o inconsciente... Imperdível! Passa no grande auditório do Rivoli, pelas 15horas, legendado em inglês. Nota: não é a melhor hora para se ver cinema em dia de trabalho! No entanto será reposto amanhã 6ª feira no pequeno auditório do Rivoli pela 1h15Min., por isso 'there's still hope'.

À noite, pelas 23h15min., passa Silent Hill, adaptação do popular videojogo com o mesmo nome. A remota cidade de Silent Hill é a única esperança para uma jovem mãe que quer encontrar a cura para a doença da sua única filha. Do realizador de Crying Freman e Le Pacte des Loups e com argumento de Roger Avary (Pulp Fiction) com Radha Mitchell (Melinda e Melinda de Woody Allen), Deborah Kara Unger (Crash) e Sean Bean (trilogia Lord of the Rings). Eu já o vi e... não o recomendo!!!

Sérgio Lopes