sábado, setembro 30, 2006

SPL - Sha Po Lang

Hong Kong, 2005, 93Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos


Sinopse: Simon Yam é inspetor Chan, um policia dedicado que declarou guerra contra o líder mafioso Wong Po (Sammo Hung) desde que ele ordenou o assassinato de um casal de testemunhas a caminho do julgamento, deixando uma filhinha órfã. Chan então adopta a menina, e durante 3 anos persegue impiedosamente Po, interferindo em todas as suas acções criminosas, mas sem encontrar provas para conseguir colocá-lo na prisão.

No meio disso tudo aparece o inspetor Ma (Donnie Yen), escalado para substituir Chan, que descobre ter pouco tempo de vida devido a um tumor no cérebro. Até que um dia aparece a oportunidade de Chan forjar uma prova para poder prender Po. Inicialmente, é óbvio, Ma não aprova a atitude de Chan de usar meios ilegais para prender um criminoso, mas logo ele também percebe que não há outro meio de apanhá-lo. Ao ser preso , Po ordena que o seu capanga mais mortífero, Jet (Wu Jing), mate toda a equipe de Chan.

Crítica: Muito comentado desde o seu lançamento, parece que todo mundo já tinha visionado o filme, menos eu, que só pude visioná-lo agora com o lançamento do DVD no Japão. Mais conhecido como Sha Po Lang, o assunto do momento é o nome que ele recebeu nos EUA : KILLZONE.!!! Apesar de toda a gente discordar com esse nome, aparentemente o DVD americano duplo é o mais caprichado em termos de extras, com faixa de comentários do Bey Logan, várias entrevistas e cenas cortadas.

No Japão SPL estreou nos cinemas em Março (não aqui em Nagano, infelizmente...) e recebeu o longo nome Ookamiyo Shizukani Shine, que traduzido significa “Lobo, Morra Em Silêncio”, outro nome nada a ver que mais lembra um spaghetti western. Em Junho foi lançado aqui o DVD em edição simples, com poucos extras igual à edição chinesa, mas infelizmente sem legendas em inglês. O único bônus exclusivo são umas mensagens dos actores ao público nipónico.

Deixando as informações técnicas de lado, SPL - o filme, merece cada elogio feito a ele! Geralmente quando assisto um filme com muita expectativa, acabo por me decepcionar com alguma coisa, mas felizmente, não foi o caso.Já tinham me alertado que SPL era um filme lento e com poucas (na verdade, pouquíssimas) lutas, mas graças a um argumento inteligente e envolvente o filme se sustenta muito bem.

Sammo Hung prova mais uma vez que é um actor magnífico, interpretando um vilão memorável sem cair em estereótipos. Aliás, Wong Po é um personagem ambíguo e extremamente complexo pois mesmo sendo um mafioso implacável e cruel, é ao mesmo tempo um marido e pai amoroso. Por outro lado, tanto Simon Yam quanto Donnie Yen interpretam os mesmos personagens de sempre : Simon, como o policia cool, e Donnie com aquela eterna expressão de pedra. Não quero com isso dizer que eles tenham trabalhado mal; só fica aquela sensação de dèja vu durante o filme todo. Provavelmente escolheram esses actores para os respectivos papéis pela imagem que o público já tem deles.

Wu Jing é uma agradável surpresa. No seu primeiro papel de vilão, Wu Jing é um vilão calado, violento, cruel e com habilidades impressionantes. Mérito de Donnie Yen, coordenador de lutas que soube aproveitar o background de Wu Jing em wushu para criar seqüências de acção plasticamente bonitas e brutais ao mesmo tempo.

Falando nas coreografias de Donnie Yen, eu estava muito ansioso para conferir as lutas do filme desde que Yen declarou em entrevistas durante a produção de SPL que as coreografias seguiriam o estilo de clássicos como Tiger Cage 2 e In The Line Of Duty 4, ou seja, um regresso às raízes, sem cabos e CGI. E não me decepcionei! As lutas, directas, brutais e muito realistas, foram filmadas com poucos closes. Provavelmente o realismo deve-se ao uso de técnicas de torções e imobilizações que se vê muito em torneios de vale-tudo.

O aguardadíssimo combate entre Donnie Yen e Sammo Hung também superou todas as minhas expectativas, pois achei essa luta muito melhor do que o igualmente aguardado combate entre Yen e Jackie Chan em Shanghai Knights! Sammo mostra que mesmo tendo já ultrapassado os 50 anos de idade ainda tem muito vigor pra actuar em filmes de luta, apesar de estar com dores nos joelhos durante as filmagens.

Com uma fotografia predominantemente escura, SPL tem um clima pessimista do começo ao fim e o desfecho mais inesperado (e chocante!) dos últimos tempos. Certamente é um filme que será lembrado por muuuito tempo! Ah, como é bom ver Donnie Yen num papel de destaque novamente!

Classificação : 9/10

Takeo Maruyama

sexta-feira, setembro 29, 2006

3 minutos de Election 2...


Em 1997, em Hong Kong, mesmo a tríade mais importante e perigosa da cidade, Wo Shing, é obrigada a sucumbir ao poderio da China. Jimmy (Louis Koo) líder da organização yakuza estará encarregue de encontrar o candidato perfeito para a organização, no novo milénio...

A muito aguardada sequela de Election, tem recebido grandes aplausos. O festival internacional de Pusan, no seu site, disponibilizou 3 minutos de uma das sequências mais movimentadas da película, para nosso belo prazer. Podem desfrutar, clicando AQUI.

Sérgio Lopes

quinta-feira, setembro 28, 2006

Estreia da semana - Ondas Invisiveis

Num cruzeiro para a Tailândia, onde Kyoji planeia ir para se esconder, conhece a bela e misteriosa Noi. Ela cativa de imediato Kyoji, mas as suas vidas já se encontram entrelaçadas de uma maneira que ele nunca imaginará. Kyoji é dominado pela culpa dos seus actos e parece que até o seu ambiente o está a castigar. Não só a sua viagem para Phuket é apimentada por um silêncio ameaçador, mas quando chega à Tailândia os seus problemas tornam-se ainda mais mortíferos. Kyoji cedo descobre a verdade sobre Noi, enquanto luta para sobreviver ao homem que o seu chefe enviou para o matar, bem como à culpa que originou esta viagem. Kyoji eventualmente regressa a casa… irritado, magoado, vivo e à procura de vingança.

É esta a premissa do filme Invisible Waves - Ondas Invisiveis, do realizador tailandês Pen-Ek Ratanaruang, nomeado para o urso de ouro do festival de Berlim deste ano. Podem aceder ao trailer, clicando AQUI.

Sérgio Lopes

terça-feira, setembro 26, 2006

Dragon Tiger Gate (Lung Fu moon)

China, 2006, 93 minutos

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: Três jovens mestres das artes marciais emergem dos guetos de Hong Kong para ajudar os indefesos a lutarem contra a injustiça.

Crítica: Dragon Tiger Gate é um comic de grande sucesso na China. E com tamanho sucesso era quase inevitável uma adaptação para o cinema. A história decorre numa China futurística, onde dois irmãos crescem seguindo caminhos diferentes, e quando adultos acabam por se encontrar e até por se enfrentarem.

Dragon Wong (Donnie Yen) faz parte de um gang poderoso em Hong Kong, que luta com outro gang pelo poder de uma placa Tiger Wong (Nicolas Tse) é um bom rapaz que mora com o seu tio e certo dia decide ir almoçar com os amigos a um restaurante. Mas é justamente o restaurante onde acontece a reunião entre os dois gangs para decidirem quem fica com a tal placa. E é nesse restaurante que os dois irmãos acabam por se encontrar e se confrontar.

O filme segue um fio narrativo fraco e sem nexo, que se perde com facilidade durante toda a sua duração. Com clara certeza, o enredo não ficou nem em segundo plano, ficou em último plano. Os factos vão acontecendo na sua maioria sem uma explicação convincente ou sem sentido.

A aparição de alguns personagens na história do filme chega a ser hillariante – para não dizer ridícula – como, por exemplo, a aparição de Turbo Shek, que ajuda Tiger numa luta sem conhecê-lo e de repente já quer ser treinado pelo seu mestre a qualquer custo (!). Ou a aparição do vilão da história, que parece ter se revoltado e fugiu de algum episódio de Power Rangers e só se mostra pouco depois da metade do filme, também sem nenhuma explicação ou motivo de querer aniquilar os irmãos Dragon e Tiger Wong.

O foco do filme está totalmente voltado para as lutas, que foram coreografadas por Donnie Yen. Apesar de serem frenéticas e bem movimentadas, as lutas apresentam muitas falhas, principalmente quando há mais de três personagens a lutar ao mesmo tempo. As interpretações são pobres e sem vida, dando um ar de monotonia ao filme. E falando em monotonia, este filme mesmo bastante monótono. É extremamente difícil se prender ao enredo, aos diálogos e às lutas do filme.

É decepcionante ver que o realizador Wilson Yip, que antes tinha acertado em cheio com Sha Po Lang, fracassou de maneira tão gritante ao dirigir Dragon Tiger Gate de forma mediocre. E para os fãs de Donnie Yen, só vale a pena conferir algumas coreografias. É triste, pois o hipe ao redor do filme era grande e esperava-se algo mais. Infelizmente recomendo passar longe e com o nariz tapado.

Classificação: 4/10

Monsenhor

sábado, setembro 23, 2006

Reincarnation (Rinne)


Japão, 2005, 95 Min.

Página Oficial e Fotos - Trailer

Sinopse: Em 1970, um hotel turístico foi palco de um crime brutal. Um professor universitário assassina a sua família, hóspedes, funcionários e depois suicida-se. 35 anos depois, Matsumura, um popular realizador de filmes de terror, resolve realizar uma película baseado nesses terríveis acontecimentos. Mas a produção ganha ares tenebrosos quando estranhas aparições aterrorizam os envolvidos…

Crítica: Yuka é uma rapariga desanimada que sonha em conseguir relançar a sua curta e fracassada carreira de actriz. Já Matsumura é um famoso realizador que busca o elenco certo para seu novo filme baseado nesses factos reais. O primeiro encontro dos dois dá-se no teste de casting. Enquanto Yuka não vê muitas chances para conseguir o trabalho, o misterioso olhar do realizador faz com que ele encontre na figura inocente e tímida da rapariga, a actriz ideal para viver o papel principal do filme.

Enquanto isso, os dois começam a esperimentar estranhos acontecimentos envolvendo vultos e misteriosas aparições de uma criança e da sua inseparável bonequinha com feições góticas. A medida que a produção avança, esses fenômenos aumentam e testam a sanidade e a paciência dos dois. Até chegar ao ponto onde fica difícil distinguir o que é realidade e o que é fantasia. E é justamente nesse limite indivisível que o passado brutal se encontra com o presente para tentar acertar algumas contas.

Não deixa de ser curioso ver Takashi Shimizu a libertar-se dos Ju-Ons e a explorar novos caminhos para sua carreira, como foi o caso do bizarro “Marebito” e agora com “Rinne”; este último em mais uma parceria com o produtor Taka Ichise para mais um filme da série J-Horror Project. E pode-se dizer, tranquilamente, que ele se saiu muito bem em ambos os filmes.

Em “Rinne”, ele volta a trabalhar o elemento espitirual da cinessérie Ju-On, onde os mortos retornam para acertar contas pendentes quando as suas vidas são tiradas traumaticamente. Mas, neste caso, o que Shimizu tenta explorar é a possibilidade de que todos nós temos a chance de reincarnarmos. A questão é como e por que motivo. Por isso, observe bem.

Se nos Ju-Ons os sustos eram apresentados em pequenos segmentos difusos no tempo e no espaço, mas de certa forma programados, Shimizu explora agora o inesperado, onde o susto pode vir a qualquer hora e lugar. Apesar disso, os pontos fortes da película não são exatamente esses sustos, até mesmo porque ele cai na sua própria armadilha e utiliza os mesmos elementos usados em diversos outros filmes, hoje vistos como clichês do J-Horror: vultos em segundo plano, rostos pálidos num fundo desfocado etc.

Enfim, nenhuma novidade até aí. Por isso, o grande mérito de Shimizu é a maneira firme e competente em conduzir uma óptima história onde o passado, por meio de imagens em flashback é costurado pacientemente com os estranhos acontecimentos do presente. Temos então a constatação que a reincarnação é um facto. O que nos resta descobrir é quem e porquê. É justamente esse mistério que faz prender a atenção do filme até seu final realmente surpreendente.

No filme, Shimizu trabalha um tema de seu quootidiano profissional: a produção de um filme de terror. Talvez o filme até contenha doses de ironia metalinguistica; alguma brincadeira; ou até mesmo um pouco da experiência própria do realizador transportada à tela, mas Shimizu respeita a inteligência do espectador e não desvia o foco de seu trabalho, oferecendo-nos um produto de primeira linha que consegue destoar no meio de milhares de filmes de terror sem sentido que estão-nos a ser apresentandos hoje em dia.

Classificação: 6/10

Ric Bakemon

quarta-feira, setembro 20, 2006

Failan


Coreia do Sul, 2001, 115Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: Após o óbito dos pais, a chinesa Failan parte para a Coréia do Sul, com intuito de viver com os seus únicos parentes remanescentes. Ao se deparar com a ausência dos mesmos, encontra-se desamparada e perdida numa região onde não domina a língua nativa. Para permanecer legalmente no país e poder sobreviver, acaba por se casar com Lee Kang-Jae, um gangster que nunca chegou a conhecer...


Crítica: Song Hae-Sung não tem uma filmografia extensa ou aclamada. Contudo, um trabalho destaca-se dos restantes: Failan. Kang-jae é um gangster decadente, desrespeitado até pelos seus subordinados. É um exemplo do denominado "lixo humano" no código de senso comum. Nas vésperas de assumir a autoria de um crime que não cometeu (por uma soma de dinheiro), recebe a notícia de que a sua esposa, Failan, havia falecido. Dessa premissa a trama se desenvolve, exibindo as tranformações comportamentais de Kang-Jae durante a viagem através do mero sentimento de gratidão, expresso por meio de cartas, da sua falecida esposa.

A realização de Song Hae-Sung não é o principal atributo do filme, mas sim a profundidade sentimental transmitida pelas personagens principais, interpretadas solidamente por Choi Min-Shik (Oldboy, Our Twisted Hero) e Cecilia Cheung (One Night in Mongkok). É uma obra emocionalmente pesada que convida o espectador a rever os seus conceitos relativos aos sentimentos.

Enquanto a maioria das pessoas vive de sonhos e expectativas, Failan mostra a outra face - daqueles cuja existência foi absolutamente subtraída por circunstâncias adversas e cuja vida - à visão de quem não compartilha de sua realidade - se resume numa palavra: mediocridade. Ainda, retrata o amor de uma forma diferente da comumente vista no cinema: não como o sentimento nobre ou doentio que nutrimos por alguém que conhecemos, mas como a curta corda que sustenta uma vida insuportável por meio da idealização de uma pessoa que jamais vimos.

A narrativa do filme oscila entre a citada viagem e a chegada de Failan ao país. Essa ferramenta, um tanto banal, ofereceu à obra um ritmo cadenciado que proporciona um crescimento gradual da película aos olhos de quem a contempla. Portanto, não se sinta desencorajado em continuar a assistir ao filme se ele entediar um pouco na parte preliminar. Embora não se possa garantir que Failan será um favorito de todo o espectador, pode-se facilmente afirmar que é superior à maioria dos filmes do mesmo gênero. É certamente um dos melhores filmes asiáticos de 2001.

Classificação: 8/10

Satyr

terça-feira, setembro 19, 2006

Bloody Tie, Trailer


Numa altura em que o cinema noir americano é recuperado com "The Black Dahlia" de Brian De Palma, é um género que se encontra em alta na Coreia do Sul. Após o fabuloso A Bittersweet Life, que estreou entre nós sob o título de "Doce Tortura", Bloody Tie é o novo título do género em 2006 a fazer sucesso em terras asiáticas.

A história revolve em torno de dois homens, um traficante de droga e um detective da divisão de narcóticos que entram em rota de colisão. Apesar de se encontrarem em posições opostas na vida, os dois homens partilham o mesmo objectivo de encontrar Jang-chul, o homem-chave para o mundo negro dos narcóticos na Coreia. Os dois homens estão prestes a iniciar um confronto terrivel....

A mistura de acção, perseguições a alta velocidade, boas interpretações e uma fotografia cuidada, fazem de Bloody Tie um filme a ter em conta no panorama do cinema asiático deste ano, dentro do género filme noir. Podem aceder ao trailer do filme clicando AQUI.

Sérgio Lopes

domingo, setembro 17, 2006

Bunshinsaba (Witchboard)


Coreia do Sul, 2004, 92Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: Yoo-jin (Lee Se-eun) é uma estudante que se muda de Seul para uma remota vila. Aí, esta “estrangeira” é constantemente assediada e maltratada pelas colegas. De forma a vingar-se dos que a atormentam, Yoo-jin evoca o "Bunshinsaba", um “encantamento” que facilita a comunicação com os espíritos. Logo após essa evocação, os colegas de Yoo-jin começam a morrer, todos da mesma forma; enfiam um saco na cabeça e ateiam fogo ao saco.

O pânico instala-se entre a comunidade e tudo piora quando uma das jovens, que tenta fugir da vila, é brutalmente atropelada. As principais figuras da vila reúnem-se e Yoo-jin e Eun-ju (Kim Gyu-ri) – a professora de arte- começam a ter, cada vez mais, visões aterradoras de duas ex-residentes locais. Descobrimos então que este lugar esconde um segredo com trinta anos...


Crítica: Do realizador Ahn Byeong-G, criador de "Phone", Bunshinsaba repete todas as fórmulas de sucesso do horror asiático e ainda consegue levá-las ao exagero. Quase que parece que não apeteceu ao realizador escrever um argumento, pois a história é mesmo básica e recorrente, e preferiu utilizar uma série de mecanismos já experimentados noutros filmes do género e enviá-los para o écrân. O resultado final, não é nem de perto nem de longe, um resultado global satisfatório.

O seu anterior trabalho até foi bem recebido no geral, por isso era com alguma expectativa que se aguardava o seu regresso com Bunshinsaba. No entanto, foi uma desilusão e um péssimo resultado, quer de bilheteira, que de crítica. Em Bunshinsaba, voltamos a ter uma narrativa virada para o horror adolescente e uma rapariga, colegial e de longos cabelos negros a aterrorizar uma comunidade (!!!!????). Que se passa com os asiáticos e as rapariguinhas belas mas aterrorizantes?

O resto, penso que toda a gente já sabe: Algo se sucedeu no passado que potencia uma vingança (quase sempre apresentada como justa e redentória), personificada pela colegial demoníaca, em busca de justiça. A somar a esta premissa nada original, temos as habituais cenas de tensão que supostamente deveriam assustar, mas de tão recalcadas e vistas noutros filmes, simplesmente deixam de funcionar. Penso que já ninguém tem paciência para este tipo de filmes em que a fórmula é sempre a mesma.

Apesar de Bunshinsaba ser mesmo fraco, ter grandes buracos de argumento e nenhuma originalidade, safam-se as interpretações, sobretudo do duo principal, composto por Kim Gyu-ri e Lee Yu-ri, que conseguem encher o écrân. O restante, é um amaranhado de personagens unidimensionais, que apenas existem para mero suporte narrativo. Com uma montagem que integra flashbacks com justa-posição de personagens, ao menos o espectador não sai confuso nem lhe é apresentado um daqueles finais típicos com twists mirabolantes e sem nexo. Mas tudo isso não é o suficiente para salvar o filme de uma gritante mediocridade.

Classificação: 4/10

Sérgio Lopes

sábado, setembro 16, 2006

Estreia da Semana - Dumplings

Nenhuma mulher consegue resistir à tentação de poder rejuvenescer; para umas é um sonho inalcançável, para outras é uma questão de dinheiro. Uma ex-actriz, agora casada com um poderoso homem de negócios vai ter com alguém que promete resultados imediatos. A receita para o rejuvenescimento, são uns bolinhos misteriosos, cujo ingrediente são... fetos humanos!

É esta a premissa de Dumplings (Gaau Ji), longa metragem de Fruit Chan, que integrou o filme Three... Extremes, com uma versão mais curta. Esta semana estreia a versão completa, com cerca de 90 minutos de duração, que explica muito daquilo que ficou pouco explanado em Three... Extremes, pois o segmento de curta duração, assim não o permitia. Trata-se de um filme de horror diferente e com uma temática bizarra e que poderá chocar os mais sensiveis. Vale com certeza uma ida ao cinema...

Para aceder ao trailer de Dumplings, clicar AQUI.

Sérgio Lopes

quinta-feira, setembro 14, 2006

«Still Life» vence festival de Veneza!

O Leão de Ouro do 63º Festival Internacional de Cinema de Veneza foi atribuído no passado sábado ao filme Sanxia Haoren / Still Life, do realizador chinês Jia Zhang-ke. O filme é uma crónica comovente da vida de uma aldeia que vai ser submersa devido à construção de uma barragem.

Jia Zhangke, 36 anos, é um dos grandes autores da chamada sexta geração do cinema chinês, tendo realizado, entre outros, os filmes «O Mundo» (2004) e «Plataforma» (2000).

Nesta 63ª edição do Festival de Cinema de Veneza, Jia Zhangke apresentou também um documentário, «Dong», sobre a construção da faraónica barragem das Três Gargantas do Rio Yangzte, no centro da China: «Estou orgulhoso de ter apresentado dois filmes em Veneza, uma cidade cercada de água, porque os meus filmes são histórias inspiradas pela água», disse Jia Zhangke, que se definiu como representante da «cultura do rio».

O facto do júri ser presidido por Catherine Deneuve, grande adepta do cinema asiático e a recente notícia da proibição de Lou Ye em filmar em solo Chinês, imposta pelas autoridaes locais por um período de 5 anos, poderá ter influenciado a decisão final, num festival de Veneza em que os grandes filmes americanos foram até... vaiados, caso por exemplo do muitíssimo aguardado, The Fountain!

Sérgio Lopes

terça-feira, setembro 12, 2006

Hero (Ying Xiong)

China, 2002, 99 minutos

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Sinopse: Na China antiga, antes do reinado do primeiro imperador, facções guerreiras espalhadas pelos Seis Reinos, planeiam assassinar o governador mais poderoso, Qin. Quando um oficial derrota os três maiores inimigos do governador, ele é convocado ao castelo de Qin para contar a sua incrível vitória...

Crítica: Zhang Yimou, que anteriormente só havia feito filmes de arte, com um ritmo mais lento, presenteia-nos com esse belíssimo trabalho. Mesmo que Yimou denomine de “filme comercial”, Hero mantém com extrema beleza, a arte presente nos seus filmes anteriores. Aclamado e chamado por muitos críticos de “poesia em forma de filme”, Hero faz jus a tal classificação.

Como numa verdadeira poesia, Hero encanta com um visual pictórico, colorido, e rico em detalhes. Planos que, com mestria, capturam as lutas e seus belíssimos movimentos, assim como tons melancólicos nas expressões dos actores em cenas mais dramáticas. O cineasta preza pelo visual, que abrange os mais diferentes ambientes como desertos, escolas de caligrafia, palácios e florestas.

O filme decorre na China antiga, há aproximadamente dois mil anos atrás, antes até mesmo de existir o primeiro imperador da China, que era divida em seis reinos. Qin era o maior governador dentre esses seis reinos, o que obviamente lhe rendeu alguns inimigos. Num determinado dia, ouve-se a notícia de que um guerreiro sem nome havia derrotado os três maiores inimigos do governador. Logo, o governador convida tal guerreiro para contar a sua história e como ele conseguiu derrotar os assassinos.

Com clara influencia em Rashômon, de Akira Kurosawa, Yimou preocupou-se em contar a história do filme sobre pontos de vista diferentes, sendo que dessa maneira a trama vai mudando o seu rumo no decorrer de sua duração. E é em cada vertente que Yimou toma a liberdade de explorar a fotografia e a direcção de arte. Cada ponto de vista é captado com uma cor predominante.

Ora tudo no cenário é branco, ora tudo é vermelho, ora tudo é verde. O que também não fica para trás são as lutas que foram magistralmente coreografadas de forma dramática, em alguns momentos são velozes e outros são mais lentas e expressivas, o que acaba por completar o tom poético do filme.

O elenco é formado pelas mais brilhantes estrelas do cinema chinês actual, contando com os sempre excelentes Tony Yeung, Donnie Yen, Maggie Cheung (que emociona com uma belíssima interpretação), a gracinha da Zhang Ziyi e Jet Li, que mostra que sua performance vai além de dar pancadas, e surpreende com uma interpretação firme e convincente. Mesmo sendo datado, Hero é um filme que vale a pena conferir, pela arte, poesia, emoção e beleza que encantam qualquer tipo de público.

Classificação: 9/10

Monsenhor

sábado, setembro 09, 2006

Arang

Coreia do Sul, 2006, 97Min.

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Sinopse: Dois detectives investigam um crime e no seu caminho encontram o fantasma de uma mulher... Depois de entrarem num misterioso site que todas as vítimas acedem antes de morrerem, descobrem que tudo deriva de há dez anos atrás, o que os levará por caminhos terriveis...

Crítica: Nada de novo, ou seja, mais do mesmo... Arang repete as fórmulas completamente gastas que granjearam alguma notariedade ao cinema asiático de terror. Uma velha maldição ou mito urbano que busca vingança, já foi visto inúmeras vezes. Personificada por uma mulher de longos cabelos negros, também é recorrente. Mescla algures entre, Ringu, Ju-Hon e também Kairo, pois a página Web amaldiçoada também faz parte de Arang, implica que nada traz de novidade dentro do género a que se propõe e pior não consegue assustar e atrevo-me mesmo a dizer, nem consegue ser interessante.

A espaços desinteressante, Arang vai tentando captar a atenção do espectador com as pistas fornecidas pelo realizador para o que se está a suceder. Pelo menos em Arang, a explicação para a ocorrência dos factos derivados da maldição tem alguma lógica, o que já não é inteiramente mau, tendo em conta a colagem de Arang a outras películas do género, mais ou menos conseguidas. Estas pistas vão sendo sugeridas até ao famoso twist final (não podia faltar como é óbvio) que funciona minimamente bem. O pior é conseguir chegar ao fim do filme...

A acção desenrola-se na pele de uma dupla de detectives que investigam a sucessão de mortes misteriosas, nas quais, as vítimas morrem sufocadas e todas elas acederam a um site onde aparece uma casa de campo, imediatamente antes de morrerem. A dupla de polícias é protagonizada Song Yun-ah, que tenta dar uma dimensão credível a uma agente de autoridade, mas na minha opinião não o consegue. Não vejo na actriz, carisma para uma agente de autoridade. Por outro lado, o seu companheiro da polícia protagonizado por Lee Dong-wook, tem um bom trabalho e apesar de tudo, como dupla, as coisas funcionam razoavelmente tendo em conta alguma química no écrân.

No fundo, pouco mais há a dizer de Arang. O realizador An Sang-hoon criou um filme de terror banal, com alguns planos visuais que ficam na retina, mas que no geral, deixa muito a desejar. É demasiado óbvio e repetitivo e até mesmo muitíssimo parecido em termos de argumento e drecção com outro filme coreano de algum suceso e do mesmo género, Bunshinsaba. Esperava mais e não compreendo estas cópias e repetições de fórmulas gastas que não trazem proveito a ninguém. Pode ser que haja um remake americano de Arang...

Classificação: 3/10

Sérgio Lopes

sexta-feira, setembro 08, 2006

Gong Li em alta nos EUA


A actriz asiática Gong Li que despoletou para o estrelato internacional no épico Farewell My Concubine de Chen Caige, tem-se desdobrado nos últimos dois anos em trabalhos bastante badalados nos EUA. Depois de recentemente ter participado em "Memórias de uma Gueixa" e "Miami Vice", chegam noticias que integrará o elenco do próximo filme sobre a juventude do canibal imortalizado no cinema por Anthony Hopkins, Hannibal Lecter.

O filme estreará em Fevereiro de 2007 e intitula-se "Young Hannibal Behind the Mask". Segue a história de Hannibal Lecter, desde a infância atormentada pela guerra, na Lituânia, até aos 19 anos, quando entra para a escola médica, em Paris. O encontro com a viúva do tio, a japonesa Lady Murasaki, vai moldar-lhe a personalidade e cultivá-lo. Quando põe pela primeira vez a máscara que o tornará tragicamente famoso, transforma-se no assassino que hoje conhecemos. O filme será realizado pelo inglês Peter Webber e protagonizado pelo jovem francês Gaspard Ulliel e pela chinesa Gong Li, no papel da japonesa Lady Murasaki.

Sérgio Lopes

quinta-feira, setembro 07, 2006

Lou Ye proibido de filmar por cinco anos


O realizador chinês Lou Ye (Suzhou River) foi proibido de filmar durante cinco anos por ter apresentado o seu filme «Palácio de Verão» em Cannes sem a aprovação das autoridades, anunciou esta segunda-feira a imprensa oficial.

A administração estatal do audiovisual e do cinema da China proibiu o cineasta de difundir o filme junto do grande público sem a sua autorização, disse a agência noticiosa oficial chinesa. A interdição, que entrou em vigor dia 1 de Setembro, abrange também o produtor do filme, Nai An.

«Palácio de Verão», cuja acção decorre durante e após as manifestações pró-democracia da Praça Tiananmen, esmagadas pelo exército chinês em Junho de 1989, foi apresentado em Maio passado no Festival Internacional de Cinema de Cannes.

Segundo a agência Lusa, Lou Ye mostrou uma cópia do filme às autoridades, mas estas consideraram que se tratava de uma cópia de fraca qualidade e, por isso, não podiam dar o seu aval. O realizador, no entanto, decidiu apresentar «Palácio de Verão» em Cannes, afirmando que «o filme pertence a toda a gente» e assegurando que se trata de uma história de amor e não de um panfleto político.

Sérgio Lopes

terça-feira, setembro 05, 2006

The Myth (San Wa)


China / Hong-Kong, 2005, 112 Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: Atormentado por estranhos sonhos, Jack, um intrépido arqueólogo, vê-se reincarnado em Meng-Yi, um general que se apaixona por Ok-Soo, uma bela princesa coreana prometida ao primeiro imperador da China. Juntamente com o seu amigo William, um cientista famoso, embarca numa aventura para tentar desvendar o mistério por detrás dos seus sonhos. Mas, tanto um como o outro, não podiam imaginar que estão perante aquela que pode ser a maior descoberta da história da China...

Crítica: The Myth marca uma certa viragem na carreira de Jackie Chan, num papel mais sombrio e sério do que aquilo a que o público estava habituado. No entanto, não é uma viragem completa uma vez que The Myth alterna a sua acção entre a dinastia Qin, na qual Chan personifica um general, Meng-Yi, encarregue de proteger uma princesa prometida ao rei (onde vemos um Jackie Chan sério, mais sombrio, heróico e leal) e entre a actualidade, na qual Jackie Chan é um intrépido arqueólogo, de nome Jack, uma espécie de Indiana Jones (passe a comparação exagerada), e é nesta condição de arqueólogo que continuamos a ver as acrobacias mirabolantes e as cenas de luta cómicas, tão características do actor asiático.

O ponto de contacto entre as duas eras são os sonhos recorrentes do arqueólogo Jack, que remontam à dinastia Qin, onde encarna um poderosos general. Estes sonhos, apresentados em flashbacks, permitem interligar de certa forma as duas eras e no terceiro acto, tudo é explicado, onde passado e presente, finalmente convergem. Entretanto, o espectador é confrontado, podemos dizer, com dois géneros de filme num só filme. No entanto, e não sei se é por estar um pouco cansado da marca Jackie Chan, a narrativa que remonta ao passado, durante a dinastia Qin, é bem mais interessante do que a que decorre na actualidade. Talvez porque haja mais intriga, romance, aventura e batalhas épicas e menos non-sense.

Realizado por Stanley Tong, habitual colaborador de Jackie Chan em filmes como por exemplo a série SuperCop, the Myth tenta não só apresentar um Jackie Chan diferente, longe da imagem do good cop, mas também não descura aquilo que fez de Jackie Chan uma estrela internacional, a comédia estilo Buster Keaton e as mirabolantes acrobacias. Apesar de tudo, nem sempre o realizador consegue ser inteiramente feliz na junção das duas partes que constituem a história. Falta tmbém alguma química entre a dupla romântica composta por Jackie Chan e pela Coreana Hee-seon Ki, apesar da sua inegável beleza. O actor Tony Leung Ka Fai como companheiro do intrépido arqueólogo também não é inteiramente convincente.

No fundo, para quem gostar de um misto de aventura, alguma fantasia, cenas de batalha bem conseguidas e algum humor e romance, The Myth é o filme indicado. È um filme que se vê despreocupado e para passar 2 horas de entretenimento. Longe de ser um filme perfeito, vale sobretudo pela tentativa de Jackie Chan se mostrar como um actor mais sério e dramático. è aquilo que considero um filme de "Domingo à tarde" (como a generalidade dos filmes de Jackie Chan), um pouco mais sério, minimamente interessante, leve e para toda a família, que agradará aos adeptos incondicionais de Jackie Chan, bem como a todos aqueles que gostam de filmes épicos e de aventuras.

Classificação: 6/10

Sérgio Lopes

segunda-feira, setembro 04, 2006

RETRIBUTION (SAKEBI), de Kiyoshi Kurosawa

Yoshioka é um detective, assombrado pela imagem de uma mulher de vestido encarnado, que acaba por se ver envolvido num terror tal que começa a duvidar se será ele próprio o assassino do caso sobre um asssassino em série que persegue... Estará a sua mente baralhada? A maldição da morte, vive, e a sua vida estará em risco!

É esta a premissa do novo filme, escrito e realizado por Kiyoshi Kurosawa, Retribution (Sakebi), que irá ser exibido no festival de cinema de Veneza (extra competição), bem como no SITGES, o festival que decorre em Outubro, em Espanha. Ainda mal tivemos tempo de digerir o seu último filme Loft e já Kurosawa tem Retribution preparado para estrear na Primavera do próximo ano. Mais informações serão disponibilizadas no cineasia assim que estiverem disponiveis.

Sérgio Lopes

sábado, setembro 02, 2006

Hanging Gardens (Kûchû teien )

Japão, 2005, 114Min.

Página Oficial - Trailer - Fotos

Sinopse: O casamento de Eriko e Takashi está-se a desmoronar e não têm relações sexuais à mais de 5 anos. Takashi preenche esse vazio com inúmeras amantes enquanto a sua esposa finge que tudo vai correndo bem e se sente feliz. Os filhos seguem o mesmo caminho de pretensa honestidade, mas escondendo um lado negativo não tão visivel na sociedade japonesa contemporânea...

Crítica: “Por babilônias, entre falsa gente. Entre tristezas mil e mil perigos. De tantos vícios ver, vi-me demente!” Foi desta forma que Eugênio de Castro descreveu a lendária civilização babilônica. Não deixa de ser uma tarefa razoavelmente fácil traçar a milenar Babilônia, com esta estrofe português do começo do século 20 e o nosso dia-a-dia. Afinal, é impossível não perceber na sociedade de hoje, vícios, costumes e hábitos que tornaram famosa aquela civilização. É justamente isso que Toshiaki Toyoda procura expor no seu mais recente filme, “Hanging Garderns”.

Nele, Toyoda cria uma alegoria onde expõe os podres desprovidos de vergonha ou de moral de uma família japonesa que rompem a maquilhagem de uma hipocrisia comandada firmemente pela figura de uma mãe, que em nome da felicidade e da honra da família, faz das suas acções a busca de uma felicidade descrita nos imaginários manuais de como criar uma família perfeita. A família em questão são os Kyobashi, que apesar de todas as dificuldades de uma família de classe média, mora num belo condomínio de uma bela cidade onde tudo parece perfeito e pintado à mão. A perfeição entre quatro paredes é conseguida por intermédio da regra de não esconder nada entre eles. E assim, nada é suficientemente embaraçoso ou vergonhoso que não possa ser discutido abertamente.

É praticamente um retrato de uma família moderna e exemplar que Toyoda desmancha caprichosamente, tornando-a vazia e insípida deixando-se misturar num denominador comum que conhecemos. Como em todas as famílias, os defeitos e as malezas são camuflados e deixados por baixo do tapete, transformando o quotidiano num festival de hipocrisia e de atitudes patéticas. Camuflagem que podemos entender com uma frase da mãe: “O Meu sorriso é para proteger a minha família”. Ou por meio de regras e atitudes inusitadas como só a mãe ter a chave da casa, pois não quer encontrar um lar vazio e assim, sentir o sabor amargo da solidão.

Por trás dessa fantasia de certa forma infantil, todos caminham entre seus segredos diante de suas sombras. A começar pela mãe, passando pelo pai que a trai com as suas amantes; a filha que falta às aulas e não controla sua libido e começa a ganhar um dinheiro com pequenos programas; o filho que tem como tutora uma das amantes de seu pai etc. Mas o que Toyoda discute mesmo é o que se faz e como juntar as peças novamente quando tudo isso é colocado em cima da mesa diante da regra onde nada pode ser escondido e se considerado tabu? Apesar de traçar um paralelo simbólico e visual com a antiga Babilônia e fazer com que o filme soe como uma crítica a actual sociedade japonesa, Toyoda acerta em não tomar parte e nos impôr o que é certo ou que é errado. Deixando tal julgamento para cada um de nós, e assim entendê-lo de acordo com as nossas próprias experiências ao olhar para os nossos próprios lares.

Apesar de tudo isso, o filme não tenta ser pessimista. Pelo contrário, deixa-nos uma mensagem de optimismo na belíssima e emocionante cena final numa pílula auto-analítica de redenção e de renascimento. Tecnicamente, o filme é novamente estupendo e fabuloso. O trabalho de câmera milimétrico de Toyoda novamente sintetiza sua sensiblidade em montar imagens únicas. Às vezes densa, como em “Blue Spring” e às vezes harmoniosa, como em “Nine Souls”, ajudando a entrelaçar uma poesia instigante e pulsante. E outras vezes, trabalha como se fosse os nossos próprios olhos, vagueando curiosamente como um voyeur entre jardins e comportamentos babilônicos.

Com “Hanging Gardens”, Toyoda conseguiu fazer mais uma maravilha do cinema contemporâneo japonês, provando novamente porque é um dos nomes de sua geração mais celebrados do cinema daquele país. Poucos conseguem aliar técnica, inteligência, sensibilidade, humor e um discurso social como ele. Toyoda mostra a sua força!

Classificação: 9/10


Ric Bakemon

sexta-feira, setembro 01, 2006

Presença asiática em Veneza


O 63º festival internacional de cinema de Veneza abriu no dia 30 com a estreia mundial do muito aguardado regresso aos filmes noir The Black Dahlia, um filme de Brian De Palma, com Scarlett Johanson e Josh Hartnet, nos principais papéis. Como sempre. o festival será uma montra de alguns filmes de qulaidade do continente asiático, uns em competição para o Leão de Ouro, outros, exibidos extra competição.

Em competição, serão exibidos o mais recente filme de Johnnie To (acabadinho de finalizar) Exiled e Hei Yanquan (em inglês, I Don't Want to Sleep Alone), do Chinês Tsai Ming Liang. Fora da competição oficial, poderemos assistir ao aguardado épico de Feng Xiaogang, The Banquet, com Ziyi Zhang e o novíssimo de Jackie Chan, de volta às comédias de acção, intitulado Rob-B-Hood. Esta edição tem também a curiosidade de contar com o conceituado realizador Sul-Coreano Park Chan-Wook (oldboy) como um dos membros do júri. Pena que o seu mais recente trabalho, o muitíssimo aguardado I'm a Cyborg, But That's Ok, não tenha sido finalizado a tempo de ser exibido no festival...

Sérgio Lopes